Geraldo Alckmin coordena o NIB. Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília 65 anos
Programa de neoindustrialização prevê verba da FINEP e do BNDES para pesquisas em volume inédito na história do país
A participação do setor manufatureiro no PIB brasileiro, que já foi de quase 25% em meados da década de 1980, caiu para pouco mais de 10%. Reverter esse processo e dar à indústria de transformação a pujança necessária para impulsionar o desenvolvimento do país é o desafio do programa Nova Indústria Brasil (NIB), criado no início de 2024 pelo Governo Federal. Conforme o presidente da FINEP, Celso Pansera, mostrou em apresentação ao Conselho Diretor do Clube de Engenharia do Brasil, já há resultados palpáveis para a iniciativa, que prevê desembolsos de R$ 76 bilhões até 2026 por parte desse órgão e doBNDES só para a inovação.
Segundo ele, o foco do programa não é apenas aumentar a produção industrial através de medidas meramente quantitativas. O NIB procura incentivar a neoindustrialização colocando o país com os pés no século XXI, após o advento da chamada Indústria 4.0, com visão de sustentabilidade e inclusão social. Nessa nova realidade, para serem competitivas, as empresas do setor precisam não só incorporar recursos tecnológicos mais avançados, como Internet das Coisas e robótica, como devem se adequar às necessidades da transição energética e da descarbonização, num modelo eficiente, mas também fazendo frente às desigualdades sociais e regionais.
Celso Pansera no Clube de Engenharia do Brasil
Pansera explicou que o programa não foi idealizado dentro de um gabinete de uma hora para outra, mas gestado com ampla discussão junto à sociedade. O NIB começou a ser pensado desde a transição, após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022, e foi lançado oficialmente em janeiro do ano passado sob a coordenação do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Após a participação de representantes de entidades empresariais e de trabalhadores, o programa foi alinhavado, estruturado em seis eixos ou missões.
Apesar de a indústria de transformação ser a mola mestra do programa, os desdobramentos são bastante amplos, incluindo o agronegócio e a agricultura familiar, setores que serão beneficiados com as inovações e produtos gerados pelo NIB. A medicina, cada vez mais tecnológica e individualizada, também tende a avançar com essa política. O programa contempla também a infraestrutura, a bioeconomia, a transformação digital e a defesa. A lógica é o reconhecimento que a indústria está cada vez mais integrada em cadeias produtivas, em que a produção de bens e a oferta de serviços estão cada vez mais conexos.
Setor industrial vem recebendo recursos recordes para a inovação. Crédito: Governo do Espírito Santo/Divulgação
“Há uma mistura muito forte das cadeias globais e daquilo que é função efetivamente industrial e daquilo que são serviços. Há uma difícil definição do que de fato é produção industrial e de fato serviço”, ressaltou Pansera.
Até 2026, aFINEPdeve destinar R$ 51 bilhões em recursos voltados para pesquisa, desenvolvimento & inovação, que se juntam aos R$ 25 bilhões previstos por parte do BNDES. O objetivo é que sejam utilizados principalmente por instituições de ensino e pesquisa, mas parte do financiamento, dependendo da linha, pode ser destinada a empresas. Até o fim de 2024, aFINEP já tinha assinado R$ 24 bilhões para 2.176 projetos, enquanto a iniciativa privada entrou com R$ 4,5 bilhões em contrapartida.
“Em 2023, a FINEP investiu em recursos não retornáveis mais do que todo o governo Bolsonaro. Foram R$ 4,979 bilhões para parques tecnológicos, laboratórios de universidades, laboratórios de institutos de pesquisa, recursos para empresas que têm projetos de inovação. Já em 2025, estão previstos R$ 7,3 bilhões só em recursos não reembolsáveis. É um volume nunca visto na história do nosso ecossistema de ciência e inovação”, afirmou Pansera.
Crédito: Freepik
Apesar de o programa ainda estar dando os primeiros passos, tendo em vista se tratar de um projeto de Estado que ultrapassa o atual governo, alguns resultados já podem ser observados. Segundo o IBGE, em 2024, a indústria no Brasil teve um crescimento de seu PIB em 3,3%, sendo que a de transformação alcançou alta de 3,8%, acima da média da economia. Segundo Pansera, esses índices não podem ser atribuídos diretamente ao NIB, mas refletem o otimismo do setor diante de uma política que estabelece diretrizes claras e bem estruturadas de investimento. São bons ventos, que certamente tendem gerar empregos de qualidade, inclusive para engenheiros e engenheiras.
“O Nova Indústria Brasil é um programa que de fato existe e está funcionando. O governo está aplicando e temos trabalhado intensamente, com aprovação diária de projetos, reuniões para enquadramento. Ele tende a impactar a indústria”, resumiu Pansera.
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