“A diversidade etária é parte indissociável da diversidade humana. A modernidade não autoriza tratar ‘os de cabeça branca’ como obstáculo”
* Escrito em colaboração com Fernando Peregrino
As instituições brasileiras avançaram, com razão, na promoção da diversidade racial e de gênero. A incorporação dessas pautas ao centro do debate público é um ganho civilizatório. Mas, enquanto celebramos esses progressos, outro tipo de discriminação se fortalece silenciosamente: o preconceito contra “os de cabeça branca”, agora apresentado como se fosse modernização.
Expressões como “é preciso substituir os de cabeça branca” ou “não dá para avançar com tanta gente antiga” tornaram-se comuns em ambientes onde qualquer discriminação de gênero ou cor seria prontamente condenada. A idade, porém, virou o último preconceito socialmente aceitável — especialmente quando se veste de discurso progressista.
Há uma camuflagem em curso. A ideia de “renovação” passou a justificar a exclusão automática dos mais experientes, como se envelhecer fosse um entrave estrutural. Criou-se a falsa oposição entre juventude (inovação) e experiência (atraso), um dualismo pobre, incompatível com a literatura contemporânea de inovação, que enfatiza a força das equipes intergeracionais.
Esse novo etarismo ganhou força justamente porque se apoiou, de maneira oportunista, na expansão das pautas identitárias. Na onda do discurso de correção histórica, difundiu-se a noção de que os mais velhos deveriam “dar lugar” — não por critérios de mérito, mas apenas por terem cabelos brancos. É uma perversão conceitual: não se enfrenta uma discriminação criando outra.
O custo institucional é alto. Ao tratar profissionais experientes como descartáveis, organizações públicas e privadas perdem memória interna, fragilizam processos decisórios, repetem erros já superados e reduzem sua capacidade de planejamento. A juventude traz energia, mas a energia sem memória se transforma em improviso.
Nada há de moderno em discriminar por idade. Nada há de inovador em suprimir o conhecimento acumulado. O verdadeiro progresso não elimina gerações — integra. A inovação não nasce da ruptura artificial, mas da convivência produtiva entre repertórios diferentes.
Se queremos instituições mais fortes, inclusivas e inteligentes, precisamos reconhecer que a diversidade etária é parte indissociável da diversidade humana. A modernidade não autoriza tratar “os de cabeça branca” como obstáculo.
E qualquer suposto modernismo que se apoie nessa exclusão é apenas preconceito com outra roupa.
Publicado primeiro em: https://www.brasil247.com/blog/o-modernismo-que-discrimina-as-cabecas-brancas



