Papa Francisco deixa legado de compromisso moral com o respeito ao meio ambiente

Papa Francisco deixa legado de compromisso moral com o respeito ao meio ambiente

Papa Francisco promoveu o diálogo e a preservação do planeta. Crédito: Creative Commons
Papa Francisco deixa legado de compromisso moral com o respeito ao meio ambiente
Brasília 65 anos

Sumo pontífice conduziu a Igreja a assumir responsabilidade sobre o cuidado com a preservação da Mãe Terra e criticou o consumismo irracional

A morte do Papa Francisco causou não só comoção como ensejou no mundo todo o reconhecimento dos avanços promovidos pelo primeiro latino-americano a ocupar a posição de Sumo Pontífice. O argentino, nascido Jorge Mario Bergoglio, deixou um legado de maior inclusão no seio da Igreja, de simplicidade e, o que vem sendo mais enaltecido, de defesa de uma “conversão ecológica” por parte dos católicos. Seus alertas a favor da causa ambiental foram expressos em diversos momentos e ficaram sacramentados através de suas encíclicas voltadas para o tema: a Laudato Si’ (2015) e a Laudato Deum (2023).

A primeira encíclica foi a que mais marcou essa tomada de posição por ter sido a primeira da Igreja a falar sobre as questões ambientais. O Papa João Paulo II já tinha relacionado a necessidade de preservação da natureza com aspectos morais e cristãos numa mensagem lida no XXIII Dia Mundial da Paz. Bento XVI também já tinha mencionado as questões ambientais em diversos pronunciamentos. No entanto, Francisco selou um verdadeiro compromisso dos católicos com a causa, movimento que já se iniciou na escolha de seu nome para ocupar o cargo, em homenagem a São Francisco, santo vinculado à proteção dos animais e da natureza.

Papa Francisco deixa legado de compromisso moral com o respeito ao meio ambiente pope francis among the people at st. peter s square 12 may 2013 pope francis among the people at st. peter s square 12 may 2013
Papa Francisco em meio aos fiéis. Crédito: Creative Commons

A Laudato Si’, que em português significa “Louvado sejas”, é um documento extenso, de 184 páginas. Nele, Papa Francisco trata das mudanças climáticas e da necessidade de seu combate, critica o consumismo desenfreado dos tempos atuais e alerta para os danos que os mais necessitados podem sofrer, se o aquecimento global não for revertido, bem como outras mazelas. O texto, divulgado pouco antes da COP21, realizada em Paris, provavelmente influenciou o acordo firmado entre os países de prevenção contra o aquecimento global.

Sua importância também se deve ao fato de ter conciliado o reconhecimento de questões levantadas pelas descobertas científicas, com a fé e a moral cristãs. Ele critica “o mito do progresso ilimitado” e defende o cuidado com a Mãe Terra, nossa casa comum, evocando os preceitos de São Francisco de Assis. Portanto, a preservação dos recursos naturais, da biodiversidade e do equilíbrio climático, ideias dos ambientalistas, se tornaram bandeiras que podem ser erguidas em nome de Deus, que na visão cristã, criou o planeta.

“Há um significado místico a ser encontrado em uma folha, em uma trilha na montanha, em uma gota de orvalho, no rosto de um pobre. Ao ficarmos maravilhados diante de uma montanha, não podemos separar essa experiência de Deus”, diz um trecho do documento. “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum”, acrescentou o Papa.

Em 2023, Papa Francisco publicou sua segunda Encíclica em que aborda as questões ambientais e as mudanças climáticas. Laudato Deum aprofunda a reflexão sobre o tema, aponta para as consequências da falta de iniciativas que combatam os problemas e relaciona a crise climática com o agravamento da pobreza. A degradação ambiental exige que se tomem medidas urgentes, segundo o documento. 

Mas não foram só através das encíclicas que o Papa se manifestou sobre o tema. Em diversas atividades, tomou posição a favor da preservação do meio ambiente. Uma delas foi o Sínodo para a Amazônia, realizado em Roma em 2019. Nessa assembleia de bispos da Igreja Católica, comparecerem vários representantes dos povos indígenas, inclusive de outros países abrangidos pela floresta tropical, além do Brasil. Foi um apelo à “ecologia integral” e ao respeito aos direitos desses povos. Havia também cientistas que estudam a região, como a engenheira agrônoma Ima Vieira. 

“O papado de Francisco foi marcado por uma profunda preocupação com a Amazônia e seus povos, evidenciada por iniciativas concretas como o Sínodo para a Amazônia e as encíclicas que abordam questões ecológicas. Esta relação entre o pontífice e a região amazônica se fundamenta em uma visão integral que conecta a justiça social, a defesa do meio ambiente e a evangelização inculturada”, declarou Ima Vieira.

A influência do Papa Francisco e o peso de suas palavras como impulsionadoras de ações mais concretas a favor do meio ambiente devem se fazer sentir por muito tempo. É um endosso para que sacerdotes preguem a conscientização de que a preservação da natureza é uma obrigação moral da Humanidade. Segundo o arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar, Franciso “deixa esse grande legado para o mundo, principalmente a questão ecológica, o próprio nome, quando escolheu Francisco [em referência a São Francisco de Assis, conhecido como protetor dos animais e da natureza] ele foi alguém que amou a ecologia, que percebeu que temos uma casa comum e, por isso, chamava todos de irmãos e de irmãs”.

Por ter enfrentado o desafio de trazer tema tão complexo para o seio da religião, Papa Francisco conquistou admiração além da esfera católica. Simon Stiell, o principal funcionário da ONU para o clima, também elogiou o legado do papa: “O Papa Francisco tem sido uma figura imponente da dignidade humana e um defensor global inabalável da ação climática como meio vital para alcançá-la. Por meio de sua incansável defesa, [ele] nos lembrou que não pode haver prosperidade compartilhada até que façamos as pazes com a natureza e protejamos os mais vulneráveis, pois a poluição e a destruição ambiental levam nosso planeta à beira do ‘ponto de ruptura’.”

Papa Francisco deixa legado de compromisso moral com o respeito ao meio ambiente pope francis tomb pope francis tomb
Tumba do Papa Francisco na Basílica de Santa Maria Maggiore. Crédito: Creative Commons

O Papa Francisco também demonstrou habilidade política durante seu pontificado ao manobrar as resistências internas contra suas propostas modernizantes, mas também na articulação de sua sucessão. Analistas do Vaticano têm apontado sua influência prévia na escolha por meio do conclave do cardeal Robert Francis Prevost, atual Papa Leão XIV. Além do ineditismo da escolha de um papa estadunidense, a escolha vai ao encontro de uma proposta para a Igreja menos eurocêntrica. Mais do que um representante dos americanos, o novo pontífice traz a representatividade do Sul Global, por ter sido bispo no Peru.  Foi nomeado por Francisco prefeito do Dicastério para os Bispos em Roma e conquistou sua confiança. O novo pontífice tem em comum com o anterior a simplicidade, a capacidade de escuta, a opção pelos pobres, acolhimento dos migrantes e a defesa da dignidade humana.

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