Queda no número de matrículas em cursos de Engenharia pode gerar gargalo para o desenvolvimento do país

Queda no número de matrículas em cursos de Engenharia pode gerar gargalo para o desenvolvimento do país

Crédito: Pixabay
Queda no número de matrículas em cursos de Engenharia pode gerar gargalo para o desenvolvimento do país
Transição Energética

Brasil precisa criar maior incentivo para a opção pela carreira e reduzir a evasão nas faculdades

Para que o país possa cumprir suas metas de neoindustrialização, será necessária a mobilização de um grande contingente de engenheiros e engenheiras, permitindo que os projetos se tornem realidade. Mas a contratação de profissionais qualificados por parte das empresas e órgãos públicos esbarra principalmente na falta de egressos nos cursos de engenharia. É um fenômeno que tende a gerar um gargalo em breve. Isso porque, para piorar o quadro, houve uma queda nos últimos anos na procura por essa formação universitária, que por sua vez já sofre com altos índices de evasão. Combater o desinteresse, a desinformação e estimular a conclusão dos cursos são fatores fundamentais para a capacitação do capital humano necessário para o desenvolvimento nacional.

Um estudo feito pelo banco BTG Pactual, divulgado recentemente, mostrou que enquanto entre 2010 e 2015 o número de estudantes matriculados nos cursos de engenharia dobrou, passando de 500 mil para 1 milhão, houve a partir daí quedas consecutivas no índice. Em sete anos, o quantitativo foi reduzido em 23%.

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Faculdades precisam combater evasão dos cursos. Crédito: UFMG

Segundo o chefe da Divisão Técnica de Formação Profissional (DFP) do Clube, o professor da UERJ José Brant de Campos, essa queda, que afeta principalmente as especializações menos tradicionais da profissão, pode ser revertida a partir de uma série de mudanças que precisam ser implementadas tanto pelas universidades, quanto pelos governos e empresas. Além de estimular a opção pelos cursos de Engenharia, é preciso criar melhores condições para que os alunos concluam a graduação, superando a barreira inicial das disciplinas do ciclo básico, sobretudo Cálculo 1, fazendo com que os universitários tenham plenas condições de exercer a profissão, seja numa empresa seja como empreendedores.

Ele cita o exemplo do InovUERJ, que é Departamento de Inovação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, do qual ele está como Diretor e que busca criar, através da Inovação, incentivos para o aprimoramento dos alunos e até mesmo seu futuro profissional. Entre as iniciativas que têm trazido bons resultados, há a participação de discentes nas Empresas Juniores, que podem atuar na prestação  serviços tecnológicos, com uma interação extra muros. Este tipo de participação pode incutir o desejo dos futuros egressos em criar startups, em que a equipe já possua previamente este tipo de experiência. Outra situação importante é o apoio aos movimentos estudantis dentro da Engenharia, como, por exemplo, os grupos de Robótica e de Foguetes que estão associados aos diversos cursos de Engenharia. A participação discente nestes movimentos tem como consequência a diminuição da evasão dos cursos e tem impacto positivo na melhor formação do egresso. São medidas que poderiam ser ainda mais incrementadas com maior integração entre a universidade e empresas, uma cultura que ainda precisa ser mais desenvolvida no Brasil.

“A mensagem que a sociedade passa para o jovem é muito árida, de muito pouca esperança. Por isso, os estudantes ficam muito preocupados com relação ao seu futuro. A alternativa de serem empreendedores é um caminho bastante válido, mas muitos ainda a veem com certo receio”, explica Brant.

Para formar um número maior de engenheiros e engenheiras, além de aumentar a taxa de conclusão dos cursos, é preciso elevar a procura por eles. É um processo que exige mudanças nas escolas, que precisam tornar as disciplinas ligadas às Ciências Exatas mais atrativas, e mostrar aos alunos as diferentes opções que podem adotar. Muitas áreas da Engenharia, como a de Software, são bastante desconhecidas, mas tendem a ser muito procuradas no mercado. A inclusão e a igualdade de gênero é outra vertente necessária para que as pessoas possam escolher suas carreiras, sem sofrerem preconceito.

“Quando uma adolescente diz em casa que vai fazer engenharia, ainda há pais que discordam dizendo que é uma profissão masculina. Temos que combater esse preconceito”, diz Brant.

Na contramão desses preconceitos, há iniciativas como a chamada pública “Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação”, lançada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e o projeto “Futuras Cientistas”, criado pela pesquisadora gaúcha e diretora do CETENE/MCTI, Giovanna Machado. No entanto, segundo a presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), Adriana Tonini, essa mudança depende de transformações que começam na educação das meninas desde cedo, que já em casa são obrigadas a se afastarem de jogos que estão mais ligados aos trabalhos mais tecnológicos. 

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Muitas especialidades da Engenharia são pouco conhecidas. Crédito: Pixabay

Mas, além da barreira criada para as meninas, ela cita também a falta de incentivo que a educação básica dá para os alunos se interessarem pela matemática e áreas afins. É um processo que tem início no Ensino Infantil, que não desenvolve como deveria o raciocínio lógico nas crianças, e percorre o Fundamental e inclui até o Médio.

“É necessário ter um ensino da matemática mais estimulante, com leitura de gráficos, atividades mais atrativas e divertidas, com uso de jogos, por exemplo. Acaba que os próprios professores criam barreiras para as Exatas, levando os estudantes a terem maior interesse pelas áreas da Saúde e de Humanas”, ressalta Tonini.

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Novos projetos vão demandar número crescente de profissionais. Crédito: Pixabay

A questão não é criar mais rivalidades entre os diferentes segmentos do saber e do conhecimento, mas é reconhecer o necessário equilíbrio ente eles. Além disso, a formação de pessoas nas chamadas áreas abrangidas pela sigla STEM (Science, Technology, Engineering and Maths, ou em português ciência, tecnologia, engenharia e matemática) é fundamental para o processo de geração de valor e desenvolvimento econômico. Sem esses profissionais, a proposta de neoindustrialização pode fracassar. 

“Enquanto o Brasil forma em média 40 mil engenheiros por ano, a China forma mais de 400 mil. Isso é o reflexo do fato deles estarem preferindo produzir sua própria tecnologia, enquanto nós estamos importando tecnologia”, afirma a presidente da Abenge.

Um ranking elaborado pela empresa Cimento Itambé em 2016, colocou a Rússia como o país que mais forma engenheiros no mundo, com 454.436, em segundo lugar viria a China (420.387), em terceiro Estados Unidos (237.826) e em quarto o Irã (233.695). O Brasil, apesar de ser a nona economia mundial, não aparece entre os dez primeiros.

Para o professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Maróstica, a reversão desse quadro tende a demorar, pois entre as causas da queda no número de matriculados em Engenharia está a crise social que se agravou durante a pandemia. Com dificuldades financeiras, os jovens não só tendem a abandonar os cursos de mais longa duração como preferem até ingressar em cursos de tecnólogos, que são mais curtos.

“É óbvio que o Brasil está formando um número cada vez menor de profissionais qualificados, como engenheiros, e isso é gravíssimo porque é notório que os países desenvolvidos são aqueles que conseguem potencializar e desenvolver formações mais densas e as engenharias está entre elas”, destaca o professor da FGV.

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UERJ vem criando incentivos para o empreendedorismo

Portanto, é uma questão de interesse de toda a sociedade e que precisa de uma grande mobilização. Cabe às universidades, empresas, poder público e sobretudo às entidades ligadas à Engenharia atuar no sentido de aumentar o número e a qualidade de engenheiros e engenheiras formados no Brasil.

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