Debate promovido pelo evento Clima em Foco: Engenharia e Soluções trata da produção de materiais, economia circular e habitação popular no Clube de Engenharia do Brasil
O terceiro painel do evento Clima em Foco: Engenharia e Soluções trouxe um tema que sem dúvida representa um imenso espaço de oportunidades para o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras e sustentáveis. Especialistas reunidos no Clube de Engenharia do Brasil debateram sobre “Soluções para Habitações Populares e Economia Circular” nesta terça-feira (12). Mais uma vez, o público participou da discussão, contribuindo também com diversas propostas.
Numa grande cidade, como o Rio de Janeiro, são gerados diariamente 17 mil toneladas de lixo. Conforme explicou o coordenador de Sustentabilidade da Comlurb, Marcelo Sicri, a maior parte do material vai para o aterro sanitário de Seropédica, na Região Metropolitana, onde existe rigoroso controle ambiental. No entanto, cada vez mais cresce a consciência de que os detritos podem ganhar valor ao se transformarem em matéria-prima por meio da reciclagem, processo que recebe investimentos da companhia. Ele citou outras iniciativas que a empresa municipal está estruturando principalmente a fim de aumentar o índice de aproveitamento de entulhos.
“Este é o maior problema de gestão de resíduos do município. Para se ter uma ideia, a Comlurb tem um aterro de inertes, em Gericinó, com 240 toneladas por dia de entulho, mas pelas estimativas que temos não representa nem 6% do total, o restante é despejado de forma clandestina na cidade”, conta Sicri.

Professor do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ, Luan Santos ressaltou que estudos apontam que a construção civil é responsável globalmente por 37% das emissões de Gases do Efeito Estufa. À medida que os materiais desperdiçados passem a retornar à cadeia produtiva e possam ser empregados na produção de habitações, esse índice tende a cair, contribuindo com o combate ao aquecimento global. É uma questão que levanta, segundo ele, outro debate não menos importante: o do déficit habitacional, que só na cidade chega a 350 mil moradias. A engenharia também pode ser envolvida em soluções que melhorem a qualidade de vida na Região Metropolitana, por meio de melhorias nos transportes e no saneamento.
“Um ponto importante é o da digitalização e da estabilidade, ou seja, como é que faz o monitoramento de tudo isso. Hoje falamos numa perspectiva de smart cities, de cidades inteligentes. É olhar para o consumo de energia, o aspecto hídrico, a mobilidade e o saneamento, integrando tudo isso, com gestão dos dados e de forma coordenada. É um grande desafio do campo tecnológico”, afirmou Santos.
O professor Fernando Minto, Diretor do Matéria Base, alertou para o fato de que muitos processos no campo do trabalho, do planejamento urbano e da construção civil precisam ser reformulados. Uma nova relação com a natureza, menos excludente, precisa ser desenvolvida, segundo ele. Da mesma forma, o emprego de materiais manufaturados não deveria ser um imperativo, como é hoje, e o uso de elementos mais naturais, como terra e madeira, poderiam ser incentivados. Maior poder de decisão aos canteiros de obras, numa proposta mais descentralizada, também ajudaria na adoção de soluções mais sustentáveis para as cidades, de acordo como palestrante.
“Há que se refazer um reenquadramento do modo da gente olhar como a gente reproduz a vida e o trabalho, trazendo de volta o encantamento, o gosto pelas coisas”, concluiu o palestrante.
O diretor financeiro do Clube e mediador do debate, Júlio Vilas Boas, ressaltou a importância de se discutir também propostas para a melhoria das condições das comunidades, onde as habitações são construídas sem planejamento pelos próprios moradores, com deficiências no saneamento e coleta de lixo, o que foi um consenso entre os participantes.
Não perca dos próximos painéis do evento Clima em Foco, que ocorrerão nos dias 18 e 19, a partir das 18h, no Clube de Engenharia do Brasil.