Na consulta pública sobre o cronograma de futuros leilões de espectro da Brasil, a Apple pediu à ANATEL que reconsidere decisão de abrir o espectro de 6 GHz para tecnologias móveis, tomada no final do último ano.
O cancelamento do leilão para o uso da faixa também foi defendido pelo Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI, na sigla em inglês), grupo norte-americano de empresas do setor que tem Amazon, Cisco, Google, Meta e Microsoft como associadas, além da própria Apple.
No caso da fabricante, o pedido é que o órgão regulador considere anular a decisão que alterou a alocação de frequência de 6 GHz, antes destinada para serviços não licenciados como Wi-Fi. Para a Apple, voltar ao direcionamento a ANATEL pode “garantir segurança regulatória” e “maximizar os benefícios” das tecnologias sem fio avançadas em todo o País.
“Reverter a decisão de abrir a faixa completa de 6 GHz para não licenciados prejudica severamente o futuro tecnológico e econômico do Brasil, interrompe vários provedores de serviços de Internet sem fio (WISPs), coloca em risco empregos na indústria de banda larga e cria instabilidade no ambiente regulatório”, afirma a contribuição da fabricante.
A Apple na consulta afirma, ainda, que hospitais, escolas e agências governamentais já investiram em equipamentos Wi-Fi que operam em toda a faixa. A mudança, portanto, acarretaria em novos custos e poderia interromper serviços essenciais que dependem de alta velocidade.
Com a mudança, diz a Apple, mais pontos de acesso (access points) seriam necessários, elevando o custo de infraestrutura inclusive em projetos de Educação Conectada, bibliotecas públicas, hospitais e outras instituições.
Além disso, a Apple ressalta que o uso de espectro não licenciado continua crescendo. E lembra que, de acordo com dados da ANATEL, mais de 74,5% dos usuários de celulares pré-pagos e 61,4% dos usuários pós-pagos dependem do Wi-Fi em vez de dados móveis para acessar a Internet. No total, 84,5% dos usuários da banda larga fixa usam o Wi-Fi para acessar a rede.
“Ao garantir a banda completa de 6 GHz para uso isento de licença, a ANATEL reforçará a liderança do Brasil em inovação sem fio e transformação digital. As aplicações potenciais de Wi-Fi em cidades inteligentes, telemedicina e automação industrial exigem disponibilidade de espectro suficiente para funcionar efetivamente. Limitar o acesso não apenas sufocará a inovação, mas também colocará o Brasil em desvantagem em comparação a outros países, que adotaram totalmente o uso não licenciado em 6 GHz”, diz o representante da empresa.
ITI pede revisão
Espelhando parte dos argumento, o ITI também apontou que a mudança no posicionamento anterior de 2021 da ANATEL, que previa alocar todo o espectro para tecnologias não licenciadas, poderia prejudicar o futuro crescimento tecnológico e econômico do Brasil.
Ainda, o órgão afirma que oferecer a banda superior de 6 GHz para sistemas IMT (padrão global para redes móveis) não trará “benefícios claros”, uma vez que não está “evidente se é necessário mais espectro. “O equipamento IMT que utiliza a banda não estará disponível em breve (ao contrário do Wi-Fi, que esta comercialmente disponível hoje e há um bom tempo”, afirma a entidade na consulta pública.
Para o ITI, antes de alocar mais espectro, a ANATEL deveria considerar que as operadoras adotem o compartilhamento de rede e outras soluções tecnológicas. Um exemplo é utilizar o fatiamento de rede para aumentar a eficiência de serviços externos críticos, permitindo que serviços de vídeo gratuitos, que usam uma quantidade desproporcional de tráfego móvel, operem com resolução “ligeiramente” inferior em períodos de maior movimento.
A entidade também entende que as operadoras também devem “reformar” de maneira cuidadosa o uso de espectro já existente, realizando um balanceamento de carga e o direcionamento de tráfego entre as bandas LTE disponíveis.
Também ressalta que o espectro não licenciado de 6 GHz é “fundamental” para equipamentos Wi-Fi 6E que já estão no mercado e em uso ativo. “A decisão da ANATEL de permitir acesso não licenciado à banda de 6 GHz para dispositivos internos e portáteis de baixo consumo em 2021 apoiou cerca de 20 mil ISPs para fornecer acesso Wi-Fi mais confiável”, diz.
Por fim, lembra que o Brasil já homologou mais 115 dispositivos, incluindo computadores, telefones, roteadores, tablets e TVs, que utilizam tecnologias não licenciadas na banda de 6 GHz. “
Esses números só aumentarão à medida que a ANATEL avaliar e permitir usos mais intensivos da faixa. Todas as variantes de potência não licenciadas – incluindo potência padrão, baixa potência, potência muito baixa e potência muito baixa – banda estreita – ajudariam a contribuir para melhorar as experiências do cliente”, diz o ITI.
Fonte: Teletime