Debate realizado pelo YouTube contou com a participação do engenheiro Márcio Girão e do professor Agamenon Oliveira, que mostraram os prejuízos causados pela privatização
O programa Engenharia & Desenvolvimento, do canal Arte Agora, do YouTube, abordou recentemente tema crucial para a soberania nacional e para a garantia de sustentação do desenvolvimento econômico e social do país. A transmissão tratou da reestatização da Eletrobras, cuja privatização já está causando danos à economia e à pesquisa tecnológica do setor. O debate contou com a participação do presidente do Clube de Engenharia, Márcio Girão, e do professor Agamenon Oliveira, sendo mediado pelo presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, Alexandre Santos.
Girão abriu sua palestra ressaltando o fato de que antes mesmo da privatização da Eletrobras, o Clube de Engenharia, entidade nacional com sede no Rio de Janeiro, já havia alertado as autoridades e a sociedade sobre os prejuízos que seriam causados à nação e os riscos da medida. Em carta enviada ao Tribunal de Contas da União (TCU), em dezembro de 2021, foram colocados os perigos do desmantelamento de uma estatal, que também funciona como um sistema integrado adequado às dimensões continentais do país.
Conforme ressaltou Girão, a Eletrobras possuía à época da privatização 125 usinas, 70 mil quilômetros de linhas de transmissão e gerava um lucro anual líquido de R$ 5 bilhões. Além dessa infraestrutura colossal e eficiente, o país lucra bastante com esse arcabouço que demorou décadas para ser construído, tendo em vista as variações o regime das chuvas, o que permite as compensações entre as regiões de acordo com a época do ano.
De acordo com Girão, a privatização da Eletrobras pode ser comparada com um ato de lesa-pátria, tendo em vista o risco de aumento de tarifas, a fragilidade que gera para a segurança nacional, a perda de soberania sobre a energia e os prejuízos financeiros provocados.
“O interesse coletivo é garantir energia para toda a sociedade, para todos os Brasis. Os locais bastante iluminados vistos pelo satélite à noite, as médias cidades e os que estão no lado mais escuro. Mas provavelmente nem todos serão mais atendidos porque o processo de privatização visa somente o lucro”, ressaltou o presidente do Clube.

O evento também contou com a participação do professor e pesquisador Agamenon Oliveira, que enfocou as questões científicas e tecnológicas envolvidas. De acordo com ele, quando o Estado não só vendeu ações como abriu mão da proporcionalidade delas nas decisões, praticamente deu uma sentença de morte para o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel). A unidade da Eletrobras perdeu importância na visão dos novos controladores e vem sofrendo com o corte de verbas e até perseguições políticas, o que torna inviável o processo de desenvolvimento tecnológico para o setor.
Segundo ele, o abandono do Cepel ocorre justamente num momento em que o país mais deveria investir nesse tipo de pesquisa, em vista a transição energética e o advento da quarta revolução industrial, dois fenômenos que não afetam apenas o Brasil mas o mundo inteiro.
“Como se joga fora um centro de tecnologia num momento em que ele é mais necessário? Estão jogando fora investimentos de 50 anos no momento da transição energética e da quarta revolução científica e tecnológica”, alertou o professor.