O editorial publicado pelo jornal O Estado de São Paulo em 13/07, intitulado “Aprendizes de Bolsonaro”, acerta ao criticar a subserviência de lideranças da direita ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas ignora um ponto central do episódio do tarifaço de Donald Trump: a grave ameaça à soberania do Brasil.
Diferentemente de outros países também atingidos pelas tarifas americanas, o Brasil foi alvo de uma chantagem explícita. Trump condicionou a suspensão das sanções comerciais à anistia de um ex-militar condenado por instigar um golpe de Estado. É um ataque direto à autonomia do sistema de Justiça brasileiro, uma exigência colonial que fere os princípios do direito internacional e da autodeterminação dos povos.
Estranha, portanto, o silêncio do editorial diante de tamanha afronta. Condenar o bolsonarismo e relativizar a humilhação imposta por uma potência estrangeira é incoerente. A defesa da democracia exige, também, a defesa firme da soberania nacional — seja contra ameaças internas ou pressões externas.
O Brasil não pode aceitar que decisões judiciais sejam subordinadas a interesses comerciais ou geopolíticos estrangeiros. A chantagem de Trump não é apenas antidemocrática; é um atentado contra a dignidade institucional do País. E isso merece repúdio claro e sem ambiguidade, por todos os que prezam pela República — da esquerda à direita.
Francis Bogossian – presidente do Clube de Engenharia do Brasil