Cerimônia de abertura do evento Clima em Foco destaca o papel da engenharia para a sustentabilidade

Autoridades comparecem ao Clube de Engenharia do Brasil para dar início aos debates sobre a importância da inovação e da tecnologia para a solução dos problemas climáticos

Teve início na noite desta segunda-feira (04), o evento Clima em Foco: Engenharia e Soluções, no Clube de Engenharia do Brasil. Na abertura, as autoridades presentes defenderam o desenvolvimento de inovações e soluções tecnológicas que contribuam para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e que permitam ao mesmo tempo uma maior harmonia entre as atividades humanas e a preservação da natureza. Estão previstos mais quatro encontros neste mês de agosto para o debate sobre as questões climáticas.

O tema do painel de abertura foi “Engenharia, Inovação, Sustentabilidade e Mudanças Climáticas”, cuja apresentação foi da diretora de Atividades Administrativas, Tatiana Ferreira. O vice-presidente do Clube, Fernando Peregrino, ressaltou em seu discurso o quanto a entidade agiu ao longo de sua história de quase 145 anos em favor de causas benéficas para a sociedade brasileira e por isso não pode ficar alheio a esse debate. Ele também fez menção às dificuldades que o país enfrenta no campo do comércio exterior e da necessidade maior unidade nacional em prol do desenvolvimento com sustentabilidade.

“Ao enfrentarmos essa crise climática e agora as medidas imperiais de um só país contra o resto do mundo, isso exige união, ciência, tecnologia, engenheiros e engenheiras comprometidos com o futuro do país. O Clube de Engenharia do Brasil oferece o seu capital histórico e técnico à nação, como sempre fez, para apoiar soluções inovadoras e sustentáveis”, afirmou Peregrino.

O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, abordou as políticas adotadas pelo banco público que vêm acelerando a capacidade da indústria de desenvolver inovações próprias e também estimulam o aprimoramento da infraestrutura do país. Grande parte desses investimentos tende a ser revertida a favor do processo de transição energética e de outros avanços necessários para o enfrentamento do aquecimento global. Ele defendeu a exploração dos minerais críticos que são usados em equipamentos que promovem a descarbonização, com o incentivo à produção deles no país.

“Uma agenda onde o Brasil tem um potencial gigante e que tem cada vez mais  importância é a do etanol e dos biocombustíveis. O Brasil hoje é a principal referência para biocombustível no mundo. Mas não é só o combustível, temos também os motores dos carros, que são desenvolvidos aqui no Brasil. O mundo tem usado o Brasil como uma grande referência de engenharia para motores híbridos”, destacou Gordon.

O presidente do Crea-RJ, Miguel Fernández, disse que a autarquia deve continuar apoiando eventos como o Clima em Foco e estimulando discussões que colocam a engenharia como protagonista do processo de combate aos efeitos do aquecimento global e em favor da sustentabilidade. Segundo ele, nem sempre a sociedade compreende o papel dessa atividade para que as propostas se tornem realidade e para a tomada de decisão mais correta.

“É importante o Crea ser protagonista não só das pautas negativas, quando cai um prédio, quando há um problema, mas também traçando uma estratégia de pauta positiva, mostrando que precisamos estar no protagonismo e na valorização do setor. Quando nos omitimos como setor, acabamos impedindo o desenvolvimento da forma adequada”, avaliou Fernández.

Olímpio Alves dos Santos, diretor do Senge-RJ (Sindicado dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro), abordou em seu discurso a importância de a categoria ter maior conscientização com relação ao impacto de seus projetos para a sociedade nos campos ambiental e social, tendo em vista os exemplos do passado em que a engenharia não era voltada para esse cuidado. Por isso, para ele, é preciso repensar essa atividade para que a natureza seja preservada, bem como a população ganhe qualidade de vida.

“É importante que façamos uma reflexão sobre a trajetória do homem e sobre a trajetória da engenharia para que possamos mudar de fato esse mundo”, defendeu Santos.

A reitora da UERJ, Gulnar Azevedo e Silva, defendeu não só a valorização do papel da engenharia e da tecnologia para a solução dos problemas relativos à sustentabilidade, mas também uma integração maior entre as diferentes áreas do conhecimento. Ela citou o exemplo da pandemia de Covid-19 que foi vencida graças à união de esforços de cientistas da área de saúde com o desempenho de engenheiros e engenheiras que atuaram em prol do desenvolvimento de equipamentos, materiais, medicamentos e vacinas.

“Dos laboratórios de inovação que temos na UERJ, 35% estão na área tecnológica, 35% na saúde e 30% nas ciências humanas e sociais. Isso significa trabalhar e avançar com todas as possibilidades que hoje nós temos na ciência mas também na construção de nossa sociedade para lidar com questões importantíssimas como a do climas, bem como as dificuldades políticas, geopolíticas e sociais. E isso só com uma grande articulação e trabalho coletivo”, afirmou a reitora.

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SEGUNDO PAINEL

O segundo painel do evento Clima em Foco: Engenharia e Soluções, que aconteceu nesta terça-feira (05), abordou a questão de como o conceito de Soluções baseadas na Natureza (SbN) vem moldando projetos propostos principalmente pelo poder público, mas que também podem ser usadas pela iniciativa privada. São premissas que ajudam gestores e técnicos a elaborarem intervenções que tragam sustentabilidade não só protegendo a natureza, mas também por meio do apoio e em benefício das comunidades. São lições que podem ajudar a sociedade a enfrentar a crise climática cada vez mais presente.

As Soluções baseadas na Natureza são um conceito bem definido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que preconiza a utilização de processos e sistemas naturais para solucionar desafios ambientais, sociais e econômicos. A abordagem procura combinar a conservação, a gestão sustentável e a restauração de ecossistemas, conciliando benefícios tanto para a natureza quanto para a sociedade. 

A bióloga e pesquisadora da Unesco no Museu do Amanhã Beatriz Carneiro explicou que o conceito ainda gera disputas, ou seja, o debate sobre os limites da preservação e da intervenção humana persiste. No entanto, muito já se avançou no sentido da compreensão de que tanto as comunidades quanto os ecossistemas são forças que precisam se somar aos projetos e não mais serem vistas como empecilhos.

“É preciso ter a salvaguarda da sociedade como objetivo principal, e isso envolve a comunidade na solução para gerir ecossistemas. Elas precisam ser vistas como aliadas às ações contra as mudanças climáticas”, explicou a bióloga.

O Secretário de Infraestrutura da Prefeitura do Rio de Janeiro, Wanderson Santos, participou do painel. Sua pasta é crucial no enfrentamento da cidade contra os eventos climáticos extremos, por ter no seu âmbito a Rio Águas e a GeoRio, fundações que cuidam justamente do sistema de drenagem e de contenção de encostas, e são fundamentais para dotar a cidade de resiliência nesse processo. Ele citou também a contribuição do Centro de Operações, que reúne diversos órgãos públicos no monitoramento de crises.

“Já temos algumas aplicações na cidade a partir de soluções baseadas na natureza, mas quando tratamos de um processo complexo temos várias soluções. Por exemplo, podemos fazer a reservação natural da água da chuva aproveitando os recursos naturais ou reservatórios construídos, como o da Praça da Bandeira”, disse o secretário.

O ex-prefeito de Niterói e atual consultor da prefeitura da cidade, Axel Grael, enfatizou também na sua palestra os exemplos do combate às enchentes e do saneamento em geral como áreas em que o poder público municipal está incorporando essas novas soluções. E o caso citado foi o da recuperação da Lagoa de Piratininga, cujo projeto foi inclusive premiado, pelo parque criado com jardins que ajudam a filtrar a água da chuva.

“A área foi valorizada e morar perto da lagoa passou a ser também valorizado, o que garante a participação da comunidade”, destacou Grael.

A bióloga Christiane Oliveira da Graça Amâncio, Pesquisadora e Chefe Geral da Embrapa Agrobiologia, apresentou no debate soluções que além de atenuarem o aquecimento global contribuem com a produção de alimentos para a população. Uma alternativa que segundo ela tem sido cada vez mais proposta é a da agricultura urbana, por aproximar a produção das comunidades, diminuir a geração de lixo através do processo de aproveitamento pela compostagem e por amenizar o problema da fome. Métodos mais sustentáveis na agricultura em áreas rurais também são bem-vindos.

“Precisamos buscar soluções que melhorem a qualidade de vida das pessoas tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais”, concluiu a pesquisadora.

O público presente no auditório também contribuiu com o debate, destacando a necessidade de medidas mais efetivas no combate ao aquecimento global. Desde a Revolução Industrial, por conta dos desmatamentos e do uso de combustíveis fósseis, principalmente. a temperatura média do planeta vem aumentando e tanto os governos quanto a sociedade precisam tentar pelo menos limitar o avanço do efeito estufa. Não percam os próximos painéis do Clima em Foco nos dias 12, 18 e 19 deste mês, sempre a partir das 18h.

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