Introdução
Terminais de embarque e desembarque do Aeroporto Internacional Tom Jobim sofrem com o esvaziamento e a perda de voos
O Aeroporto Internacional Tom Jobim, também conhecido como Galeão, já foi a principal porta de entrada do país e o principal hub de operação das companhias aéreas. No entanto, vem perdendo não só posições como atualmente o número de passageiros que embarcam ou desembarcam em seus terminais é bem menor que no passado. Para se ter uma ideia, enquanto em 2014 mais de 17 milhões de pessoas viajaram por ele, a expectativa para o balanço de 2022 fica abaixo dos 6 milhões.
A decadência do maior aeroporto do Estado do Rio é motivo de preocupação para a economia fluminense e foi tema de um debate promovido pela Divisão Técnica de Transporte e Logística (DTRL) do Clube de Engenharia. Especialistas discutiram o assunto e propuseram soluções para a retomada de voos e o estímulo a outras atividades econômicas no seu entorno. Novos eventos devem ser realizados para a consolidação de um documento que reúna projetos com embasamento técnico para a retomada da pujança que o Galeão já teve.
Uma importante contribuição para o debate veio do ex-superintendente regional da Infraero Pedro Azambuja. Bastante conhecedor da infraestrutura aeroportuária brasileira, ele afirma categoricamente que o Galeão é o melhor aeroporto em termos operacionais da América Latina, com sua pista principal de 4 mil metros de extensão e uma secundária de 3,2 mil metros, capacidade que ainda pode ser ampliada com nova pista. O terminal de cargas também é invejável, mas paradoxalmente o lugar virou quase um território fantasma. No último dia 18/01, um incêndio nessa estrutura completou o quadro de desolação. Felizmente, não houve vítimas.
Azambuja defende a formulação de uma política nacional de aviação civil. Só assim poderia haver um planejamento com uma visão que contemplasse a aviação regional, a distribuição correta de hubs operacionais e sobretudo a democratização do acesso ao transporte aéreo. Com um novo mapa, seguramente o Galeão ganharia maior participação. Mas no momento prevalece o interesse das companhias aéreas que vêm preferindo utilizar o Santos Dumont no Rio e que privilegiaram Guarulhos (SP) ao longo do tempo.
“O Rio de Janeiro tem que voltar a ser a porta de entrada do Brasil porque a imagem que projeta do país para o mundo inteiro, não só para o turismo propriamente dito, mas também para o turismo de negócios, é um atrativo. O Galeão operacionalmente é o melhor aeroporto da América Latina, só perdendo no continente para o Canadá ou os Estados Unidos. Mas acabaram praticamente com o Galeão. Dá até tristeza. O que está ocorrendo hoje é o fim da picada. Querem transformá-lo em pista de corrida”, afirmou Azambuja, que sempre foi favorável ao controle do aeroporto pela Infraero.
Concessão
A questão da concessão do aeroporto é outro ponto sensível, tendo em vista que a própria concessionária RioGaleão ameaça romper o contrato, alegando prejuízos. Há um ano que a empresa de Singapura controladora, a Changi, tenta devolver o aeroporto para a União, o que provocou uma visita de emergência ao Rio no mês passado do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, que busca uma solução jurídica para o caso, evitando até uma interrupção dos serviços.
No debate, o jornalista especializado em aviação Daniel Carneiro destacou a necessidade de se melhorar o acesso ao Galeão com a construção de uma linha de metrô até seus terminais. Isso daria maior conforto e segurança aos passageiros. Ele também aponta para a necessidade de se estimular a instalação de empresas voltadas para manutenção e demais serviços ligados à indústria aeroportuária, bem como de logística de cargas. Seriam ações de revitalização, sem necessariamente transferir de forma abrupta voos do Santos Dumont para a Ilha do Governador.
“Acredito que a vocação do Santos Dumont é de voos de negócios e de turismo regional”, defendeu Carneiro.
O chefe da DTRL, Itamar Marques da Silva Junior, acredita que a recuperação do aeroporto internacional passa necessariamente por uma solução de transporte de massa. Mas ele não descarta o projeto de trem de superfície, que chegou a ser elaborado pela SuperVia. Tal alternativa poderia funcionar conjugadamente com um sistema de “shutttle”, com vans ou microônibus alimentadores. O modal aquaviário também poderia complementar o sistema de transporte para o Galeão.
“O que falta realmente é o pertencimento de um plano diretor de Estado independente de prefeito, governador ou presidente. É uma questão de planejamento e de execução ao longo do tempo. Há espaço para ampliação da pista, para grandes hotéis, e temos ali um ponto estratégico, com muitas possibilidades”, ressaltou o chefe da DTRL.
Plano viário
Apesar de também defender a extensão de um modal de transporte de massa por trilhos para o Galeão, o conselheiro vitalício do Clube Wagner Victer formulou uma proposta que pode melhorar significativamente as condições de acesso viário ao aeroporto através de intervenções de curto e médio prazos e de mais baixo custo. As soluções apresentadas também visam a melhorar o deslocamento de moradores da Ilha do Governador e da Baixada Fluminense que fazem uso da Linha Vermelha em seus trajetos diários e enfrentam penosos engarrafamentos.
Parte das ideias poderia ser implementada rapidamente pela prefeitura, como a recuperação das anteparas das pistas na altura do Complexo da Maré e a demolição de construções irregulares muito próximas às muretas. Recapear o asfalto é outra medida que não exigiria investimento alto e traria melhores condições de conforto e de tráfego. Instalação de câmeras e melhorias na iluminação, por outro lado, dariam mais segurança aos usuários, o que poderia ser reforçado com patrulhas de motocicletas.
Mas seu projeto também prevê obras mais robustas com ampliação dos acessos da Linha Vermelha em pontos onde os gargalos são notáveis e geram filas quilométricas de engarrafamentos. É o caso da ampliação da ponte sobre o Rio Meriti e da alça para a BR-040 (Washington Luís). Ele também propõe a construção de um novo acesso à Ilha do Governador e de uma nova saída em São Cristóvão, entre outras alterações de fluxo de veículos. Mesmo sem um detalhamento de projetos executivos, a proposta traz mapas e levantamento de dados adiantados e o autor estima em cerca de R$ 200 milhões os investimentos necessários. O plano já é de conhecimento da Prefeitura do Rio, governo estadual e do governo federal.
“O Aeroporto do Galeão tem uma importância estratégica para a economia fluminense e precisamos recuperá-lo rapidamente. Além dos passageiros e do turismo, os voos trazem mercadorias de alto valor na barriga dos aviões, que são fundamentais para a indústria e para a geração de emprego”, ressalta Victer, que já foi secretário estadual de Energia, Indústria Naval e de Petróleo.