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Considerações sobre o magistério

Por Aimone Camardella*

Ensinar é uma arte porque além da conceituação cultural, exige uma formação psicológica adequada para fazer jus aos diversos tipos de mentalidade dos alunos. Do Professor, esta Figura impoluta, depende a orientação e a formação intelectual de um povo, embora não tenha , muitas vezes, o reconhecimento devido. O Professor moderno deixou de ser o “MESTRE”, na sua profundidade cultural, e no respeito que merece, para ser, muitas vezes, um simples “Instrutor” que  “indica a lição de um livro”  ou “a procura de uma pesquisa na “internet”

O modernismo obriga ao uso de um computador para cada aluno, que não tem tempo para olhar para o Professor. A simbiose, que sempre existiu entre Professor e Aluno, hoje se enfraqueceu profundamente, como consequência da “intimidade exagerada” entre os dois. Dessa forma, o “toque paternal” do Professor (ou Professora) é muito prejudicado pela liberdade demasiada da juventude atual.

Nos cursos básicos, por exemplo, a família do aluno costuma tomar atitudes não compatíveis com as regras escolares, deixando o Professor encurralado entre a Família e a Direção da Escola, ferindo assim a autonomia do “Mestre”.  Na realidade, embora não tenha condições econômicas, sociais, e vivendo, às vezes, em ambiente traumatizado pela violência e despreparo das comunidades, cabe à Família o preparo psicológico básico e intuitivo dos filhos, para que possa despertar neles algum interesse para o culto de alguma atividade importante.   Uma simples figura, uma notícia, etc despertariam os padrões de fluxo sanguíneo no cérebro desses filhos para a formação de bons pensamentos.

Cabe, pois , à família tocar inicialmente esta manivela para ser continuada na Escola, sob a orientação do Professor. O “escrever” e o “ler” um livro vem-se tornando  muito raro para esta juventude, principalmente entre 7 e 15 anos de idade, quando a mente humana necessita de uma agitação coordenada das redes neurais. Lamentavelmente, tais jovens, nessa faixa etária, só  usam, com facilidade, os progressos da tecnologia, como computador, celular, facebooks, jogos eletrônicos, ipod, ipad, laptop /notebook etc.

Cabe ao Professor escolher os melhores exercícios, principalmente nas Ciências Matemáticas, para ativar o raciocínio numa sequência evolutiva das mentes. Para atender aos que melhor aprendem visualmente, auditivamente ou  gráficamente nada melhor que o Professor explicar no quadro-negro , onde cabe ao Professor colocar em foco os assuntos mais complexos, de forma a atender a todos os tipos de mentalidade, promovendo perguntas e respostas, bem como debates abertos.

O aluno nunca esquece a figura do Professor, bem como a sua didática, seu método de ensino e sua personalidade, como exemplos  aos seus discípulos. Muito importante é a filosofia do Professor, principalmente nas áreas de História, Geografia, Ciências Físicas e Naturais, etc, onde se exige do Professor muita habilidade e competência nas exposições mais importantes, de modo a sensibilizar os alunos.

A preparação de cada aula tem, ou tinha, uma estratégia toda específica, visando facilitar o aprendizado. Aqui,  se justifica a utilização de projeções, em grande tela,  onde o uso do power-point realmente  representa um grande auxílio na didática. Como se verifica, nestas poucas ponderações, o Professor precisa de tempo para o preparo de suas aulas, algumas mais complexas, outras mais simples. Entretanto, isto nem sempre acontece porque este Profissional , em geral, se desdobra, lecionando em várias Instituições Educacionais, afim de obter um  “salário” melhor.

Por falar em “salário”, é triste o que se passa com esta Classe tão importante no que tange a remuneração nada condizente com o importante trabalho por ela realizado. Na passagem do Curso Secundário para o Superior há uma turbulência permanente  em que os alunos, muitas vezes despreparados, procuram Cursos Particulares para fazerem jus a um VESTIBULAR, como do Enem(Exame Nacional do Ensino Médio), cheio de incongruências, como a multi-escolha, e de uma complexidade que, a nosso ver, não é o ideal para a seleção de candidatos, visando a profissionalidade com conteúdos específicos, e querendo unificar, para todo o País a aplicação das Provas nos processos seletivos das Universidades Públicas Federais.

Na realidade, a Engenharia, a Medicina, o Direito, a Arquitetura, a Filosofia, a História, a Administração etc, têm suas especificidades, e, normalmente, os candidatos já demonstram suas preferências, mas têm que se submeter a um Exame Generalizado! Só a Engenharia, por exemplo, tem cerca de sessenta áreas ou ramos de atividades, envolvendo muitas interfaces com outras áreas.

Lembrando o Vestibular dos anos 70-80-90, nota-se que há uma grande diferença em relação ao atual. Na década de 70, por exemplo, o então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, procurou organizar, moralizar e tornar mais técnico o acesso O Ensino Superior, e, ao mesmo tempo, corrigir as distorções existentes. Para isso, em 12 de outubro de 1971 foi criado o Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio CESGRANRIO), por um Convênio assinado entre  o Mec e 12 Instituições de nível superior.

Criou-se, também a CONVESU (Comissão Nacional de Vestibular Unificado) para firmar Convênios com as universidades e estabelecimentos isolados, no sentido de realizarem Concursos Vestibulares Unificados por área de conhecimento (como área de saúde e área tecnológica), em cada região educacional.

A orientação da CONVESU era de que ingresso na Universidade deveria obedecer ao critério classificatório, condição que não vedava a manifestação prévia  de opções (Decreto 68.908 de 13 de julho de 1971 do MEC). Um ponto alto deste decreto relacionava-se à exigência formal de que as provas de concurso vestibular deveriam revestir-se  de complexidade que não ultrapassasse o nível de escolaridade regular do grau médio, limitando-se  as provas às disciplinas obrigatórias desse grau de ensino, acrescidas eventualmente de uma língua estrangeira moderna.

Presidido pelo Professor Carlos Alberto Serpa, o CESGRANRIO realizou, pela primeira vez, em 09 de janeiro de 1972, um vestibular unificado na área do Grande Rio.

A partir daí, foram feitos muitos estudos e tomadas muitas providências, com a participação de altas Autoridades na área de Educação, de modo a colocar as provas dentro do razoável desejado.

Com o advento da Lei 5692, sancionada em 11 de agosto de 1971, o vestibular passou a referir-se ao “núcleo comum” dos currículos do Ensino de Primeiro e Segundo Graus, obrigatório em âmbito nacional:

a)    Comunicação e Expressão, abrangendo conhecimentos de Lingua Portuguesa E Literatura Brasileira;

b)    Estudos Sociais, abrangendo conhecimentos de Geografia, História e Organização Social e Política do Brasil;

c)     Ciências, abrangendo conhecimentos de Matemática e de Ciências Físicas e Biológicas (Física, Química e Biologia).” 

Como a reforma do Ensino Médio estava sendo implantada com velocidades diversas nos vários estados, mandava o bom senso que o vestibular fosse se adaptando à lei no que se relacionava a eventuais acréscimos ao elenco de disciplinas, de maneira gradual e nacional.

                  Nota: As considerações destacadas  acima foram obtidas

do excelente Relatório dos 40 anos da Fundação

Cesgranrio, cujo Presidente é o Prof. Serpa.

A história do Vestibular é muito ampla. É evidente que a sua organização deve acompanhar o desenvolvimento da cultura do País, e, portanto, com as reformas do ensino.

O argumento de que, atualmente, é muito grande o número de candidatos não se justifica, porque esse  número era automaticamente dividido pelas Universidades Específicas, nas quais o Vestibular era realizado.  Como não são poucas as Universidades, a seleção já levaria em conta a visão profissional do candidato, de forma objetiva, sem o tumulto e as dificuldades apresentadas pelo ENEM.

Por outro lado, a Universidade, que vai receber um contingente de candidatos, dentro da sua AUTONOMIA,  deve fazer a sua própria seleção , conduzida, evidentemente, dentro de regras gerais do MEC, num sistema adequado.

O que não se compreende é que o candidato deve obter uma “boa” classificação no ENEM para conseguir a Universidade de sua prefe –

rência, o que, sem dúvida, elimina muitos outros candidatos com uma “cultura generalizada”, como se pretende.

Não temos dúvida, e a experiência de outros Países demonstra, que estamos numa época de “especialização”, e não mais a de um “profissional sabe tudo”, cognominado jocosamente de “especialista em generalidades”, que não tem mais tempo, nem capacidade, para exercer sua profissão, atualmente com uma tecnologia tão generalizada e complexa.

Daí o caminho para o MESTRADO e/ou DOUTORADO visando áreas de especificação.

Considerando o que foi dito acima, pode-se confirmar a importância do “MESTRE” ou do “PROFESSOR” , com todas as suas nuances de Educador e Instrutor.

É preciso, pois, que a sua FORMAÇÃO seja esmerada cultural, didática, psicológica  e filosoficamente , através de seleção adequada em cada caso, para acompanhar esta evolução do ensino.

Para isso, é preciso que sua REMUNERAÇÃO seja compatível com os diversos graus de exigência de suas funções.

O “tempo integral”, numa Instituição Educacional, seria, sem dúvida, ideal, evidentemente corroborado por uma Remuneração adequada.

Para finalizar, vale considerar um aspecto que deteriora profundamente  o ensino, principalmente o fundamental. A nosso ver, parece mais produtivo o Sistema  Antigo com as matérias  sequenciadas, em que professores e alunos tinham suas aulas regulares,  dentro de uma GRADE contínua e seriada.

O argumento de que os alunos precisam estudar e trabalhar poderá ser atendido através de Cursos pela manhã, à tarde e à noite, dando oportunidade a espaços para o trabalho.

Pode parecer exagero alguns destes aspectos abordados, mas é preciso considerar que estamos passando por uma crise educacional, e o número de semi analfabetos e analfabetos vem aumentando, em contraposição ao que se espera de um País em desenvolvimento.

 

*Aimone Camardella é engenheiro, professor e sócio remido do Clube de Engenharia

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