Documentário: o legado dos Irmãos Roberto para a arquitetura atual

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O Rio de Janeiro concentra um grande legado da arquitetura modernista no país: dezenas de edifícios dos Irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto, que assinavam como MMM Roberto, arquitetos que influenciaram fortemente a estética do Rio de Janeiro entre os anos 1930 e 1990. Entre as obras, o aeroporto Santos Dumont e o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O impacto do trabalho do trio na arquitetura brasileira foi tema do documentário “Os Irmãos Roberto”, de Ivana Mendes e Tiago Arakilian, exibido no Clube de Engenharia, em 16 de maio. Promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT), Diretoria de Atividades Culturais e Cívicas e Divisão Técnica de Engenharia Econômica (DEC), o encontro contou com o apoio da Divisão Técnica de Urbanismo e Planejamento Regional (DUR) e da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas do Rio de Janeiro (ABEA-RJ).

Choque cultural
O trabalho dos irmãos Roberto começou com a atuação de Marcelo. Uma das principais obras do início da carreira, o edifício da ABI, foi projetado em 1935 por Marcelo e Milton, pois Maurício só viria a se incorporar anos depois. Por fora, o edifício surpreende por não ter janelas: os corredores externos dos andares têm estruturas abertas, que garantem a entrada de luz e ventilação. É caracterizado, por um dos entrevistados no filme, como um prédio “paradigmático”, um indicador do futuro, uma referência. Outro depoimento qualifica como o prédio que “mostra por que os irmãos Roberto vieram ao mundo”. Modernista e inovador, o estilo dividiu opiniões: “O choque cultural de um prédio sem janelas foi muito grande”, afirma-se no filme. O documentário também mostra detalhes do interior do prédio e relata a participação dos irmãos até mesmo na escolha de objetos que viriam a compor o ambiente, como as luminárias.

Pressão do mercado imobiliário
Já nas obras residenciais, os Irmãos Roberto começaram a trazer elementos como cores, contrastes e fachadas inovadoras para os prédios, mostrando novas possibilidades de entrada de luz e ventilação para além do prédio quadrado com janelas. Eles adotaram painéis de Paulo Werneck, coloridos e com múltiplas formas, tanto em fachadas quanto ambientes internos. Com o mercado imobiliário da cidade em formação, considera-se que os irmãos aceitaram o desafio de conquistar a classe média alta para morar em apartamentos.
 
Os depoimentos no filme também caracterizam o trabalho dos irmãos como uma constante busca de novos materiais, com pesquisa tecnológica ligada à industrialização do país. Porém, com um estilo tão único e destoante da arquitetura que, com o tempo começou a predominar no restante da cidade, o desafio era que o gosto pelas obras durasse com o tempo, especialmente nos detalhes externos. Infelizmente, alguns dos edifícios não resistiram à estética modernista de então que queria “o concreto na parede”, como se diz no documentário. Segundo o professor da PUC-Rio e arquiteto Alfredo Britto, o modernismo queria projetar o “novo homem brasileiro”, com um purismo estético, na visão dele, incapaz de enfrentar a complexidade do mundo. O mesmo mercado imobiliário que precisou dos Irmãos Roberto para valorizar os apartamentos começou a orientar as novas edificações na cidade e padronizá-las cada vez mais. A experimentação já não era mais uma possibilidade tão grande. 
 
Segundo alguns depoimentos no filme, a primeira geração de modernistas do Brasil, com o exemplo dos Irmãos Roberto, hoje é referência para a arquitetura sustentável. Recursos como venezianas e telhado verde estão sendo adotados novamente, com o objetivo de melhor aproveitar iluminação, ventilação e os benefícios da vegetação.
 
Opinião dos especialistas
Posterior à exibição do filme, o debate a respeito das obras dos Irmãos Roberto contou com participação dos arquitetos João Calafate, estudioso e admirador do trio, e Marcio Roberto, filho de Maurício Roberto, que assumiu o escritório da família.
 
Segundo Marcio Roberto, os projetos de seu pai e seus tios são exemplos da qualidade da arquitetura nacional na época: “Nos anos 1940 a arquitetura brasileira era a melhor do mundo”, afirmou Marcio. João Calafate, que é constantemente procurado para falar das obras dos irmãos, por pessoas de diferentes nacionalidades, além de receber inúmeras visitas ao seu próprio apartamento, obra MMM Roberto, concordou: “O escritório foi um dos mais importantes na arquitetura moderna do Brasil e do mundo”. Segundo ele, Marcelo, Milton e Maurício foram “arquitetos da construção”, projetando obras de grande qualidade construtiva, para além da qualidade arquitetônica.
 
João Calafate nasceu, estudou por anos e viveu em edifícios dos irmãos e atribui a essa vivência a sua escolha de carreira. Considera os MMM Roberto uma referência fundamental para a área: “Os arquitetos que querem ser arquitetos têm que entender o que foi a obra dos Irmãos Roberto”. Marcio Roberto também não fugiu a seu destino: começou a frequentar o escritório da família aos 12 anos de idade, ajudou a projetar algumas obras e tornou-se arquiteto.
 
Em debate, os profissionais e o público conversaram sobre a transformação da arquitetura da cidade com os anos. Um dos assuntos foi o hábito que se perdeu de fazer, num mesmo prédio, como fizeram os Roberto, unidades com diferentes tamanhos e acomodações, que propiciavam a convivência de pessoas de classes diferentes nos espaço comuns do edifício. Um dos elementos que davam essa possibilidade eram os corredores externos, conectando os apartamentos e dando vista para a vizinhança. Os presentes no debate também lamentaram que aspectos artísticos estejam hoje ausentes da arquitetura e da engenharia, não somente pela pressão do mercado imobiliário mas pelo uso dos programas de computador que fazem boa parte do trabalho.

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