Edifício Liberdade: as causas do desastre

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Uma plateia de acadêmicos, engenheiros, estudantes e convidados lotou o auditório do 22º andar do Clube em 3 de novembro para ouvir de profissionais respostas a respeito da queda do edifício Liberdade, em janeiro de 2012, no centro do Rio. O acidente que deixou 23 mortos e atingiu outros dois edifícios foi o ponto central do evento “As verdadeiras causas da ruína do Edifício Liberdade”, promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e a Divisão Técnica de Construção (DCO). Participaram os engenheiros civis Gilberto Adib Couri e Afonso Maia, além da arquiteta Simone Feigelson.

A tragédia, quase seis anos depois, ainda provoca acalorados debates entre engenheiros e arquitetos sobre o que realmente aconteceu. Com a fundação intacta, descartam-se causas geotécnicas, mas somente pesquisas mais profundas são capazes de descartar outras possibilidades, como a explosão. Gilberto Adib Couri apresentou suas hipóteses com base numa análise técnica indireta: à ocasião da queda, os escombros foram removidos pela prefeitura e os peritos só puderam entrar no local dias depois. Conforme consta em relatório da Polícia Federal, de 2012, a ruína foi causada por uma agressão aos pilares do 9º andar durante reforma promovida pela empresa TO Tecnologia Organizacional, iniciada uma semana antes da queda. Para Gilberto Couri, a empresa, que havia feito outra obra no 3º andar, não percebeu uma especificidade no 9º: era o pavimento da “transição” do escalonamento do edifício, e continha pilares de sustentação do “prisma” do prédio.

Histórico: mudança de arquitetura
Para compreender a importância desse fato é preciso entender a arquitetura do Edifício Liberdade. Segundo a arquiteta Simone Feigelson, seu primeiro projeto data de 1938 e previa 15 pavimentos. O projeto foi modificado, acrescentando um subsolo, garagem e três pavimentos. A partir do 16º pavimento, o prédio era escalonado: os andares tinham tamanhos diferentes, com formato decrescente até o topo, seguindo o estilo art déco das décadas de 20 e 30. Finalizado, o edifício contava com 20 pavimentos. Na década de 50, o escalonamento acabou: os pavimentos escalonados foram ocupados e o edifício assumiu um formato completamente vertical. Na mesma época, um terraço no 8º andar foi coberto por uma laje, dando condições para maior ocupação do 9º andar, exatamente o andar da transição, segundo Gilberto Couri. A reforma da TO, em janeiro de 2012, não foi feita por um profissional da engenharia e nela os pilares de sustentação foram removidos, causando a queda. É um caso, segundo ele, de falência sequencial das peças estruturais. As estruturas desmoronaram pouco a pouco. Sem acesso aos escombros do prédio, uma das bases para a hipótese do engenheiro foi o depoimento dos pedreiros da reforma, sobreviventes, que afirmaram a existência de pilar no interior da estrutura do andar.

Desmistificando: influência do metrô
Uma das hipóteses que se levantou sobre a queda do edifício foi a influência das obras do metrô, nos anos 70, uma vez que o Edifício Liberdade estava situado entre as estações Carioca e Cinelândia. Para desmistificar essa versão, o engenheiro civil Afonso Maia apresentou dados. Ele trabalhou na obra do lote 05 do metrô, referente à estação Cinelândia, entre 1973 e 1975. O lote 04, da estação Carioca, foi executado entre 1975 e 1978. A equipe do empreendimento pesquisou os projetos dos prédios para prever possíveis impactos, principalmente deslocamentos e recalques. Mas o Edifício Liberdade não apresentava riscos nesse sentido, apesar da ocorrência de fissuras. Por outro lado, o Edifício Capital, próximo à obra e ao Liberdade, sofreu deformações consideráveis. Também não foram identificadas no Liberdade trincas, vazamentos e outros sinais de que a estrutura estava impactada.

Em debate, os presentes discutiram as conclusões de Gilberto Couri, com apontamentos e discordâncias, e os tipos de estrutura que poderiam ter sido utilizados na obra do edifício para evitar o colapso que ocorreu. O engenheiro Antonio Eulalio, ex conselheiro do Clube e do Conselho Regional de Agronomia (CREA-RJ) na época, que foi um dos primeiros técnicos a comparecer ao local da tragédia no dia seguinte, também se posicionou. Para ele, o problema foi a supressão de estrutura no 9º andar, conforme depoimento de trabalhadores com quem conversou, tal como Gilberto Couri. Ele descartou, categoricamente, como causas, a influência do acréscimo de carga na ocupação dos andares escalonados 60 anos depois, e, quase 50 anos depois, as obras do metrô.

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