Por Raphael Kapa
Publicado em O Globo (07/04/2019)
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) escolheu, pela primeira vez, uma mulher para assumir a reitoria da instituição. O resultado foi divulgado ontem pela manhã, após 24 horas de contagem de votos. A biofísica Denise Pires de Carvalho ganhou em primeiro turno de duas chapas, uma delas apoiada pelo atual reitor, Roberto Leher. No total, foram 19.232 votos em urnas eletrônicas e 1.655 em cédulas de papel. A votação foi realizada entre terça e quinta-feira.
A chapa de Denise obteve 9.427 votos; a liderada pelo professor Oscar Rosa Mattos, da Escola Politécnica e da Coppe/UFRJ, recebeu 8.825 e a do docente Roberto dos Santos Bartholo Junior, também da Coppe/UFR, 2.281. A disputa nas urnas serve como base para a formulação de uma lista tríplice que o colégio eleitoral da universidade envia para o Palácio do Planalto. A decisão sobre quem dirigirá a UFRJ até 2023 é do presidente Jair Bolsonaro.
Por tradição, o presidente escolhe o primeiro nome da lista, mas não é legalmente obrigado a isso. Para evitar que a vontade dos eleitores seja desrespeitada, as três chapas firmaram o compromisso de não apresentar seus nomes ao colégio eleitoral — composto em 70% por professores — caso não sejam escolhidos pela maioria.
Após a divulgação do resultado, líderes das chapas derrotadas afirmaram que respeitarão o acordo e se retirarão da disputa. “Denise, fique tranquila porque nós não vamos apresentar nossos nomes na lista tríplice”, afirmou Oscar Rosa Mattos em entrevista ao sindicato da universidade. João Felipe Cury, que disputava a vice-reitoria pela terceira chapa concorrente, também garantiu que seu grupo cumprirá o combinado: “A comunidade não nos delegou a oportunidade e a responsabilidade, nós entendemos isso”. Mesmo assim, até a reunião do colégio eleitoral, no próximo dia 30, é permitida a inscrição de novos concorrentes para disputa do voto do colegiado, mesmo que não tenham participado da consulta à comunidade acadêmica.
A eleição de Denise Pires de Carvalho marca uma mudança política na UFRJ. Ela havia pedido uma eleição para o atual reitor, Roberto Leher, que, filiado ao PSOL, resolveu não se candidatar este ano e apoiou Oscar Rosa Mattos. Nos corredores da instituição, existia o receio de que, se ele tentasse a reeleição, haveria resistência por parte do governo Bolsonaro.
Durante a campanha, em entrevista ao GLOBO, Denise disse que a UFRJ deve passar por uma revisão de seus gastos para poder se manter:
— O foco será manter a universidade aberta. É isso que a gente pode fazer. O orçamento já está fechado e temos quatro meses de dívida de luz e 26 de água sem pagar, mais o déficit do restaurante universitário. É preciso planejar, priorizar e cortar. Não tem jeito. Depois, vamos tentar aumentar o orçamento. Educação não é gasto, é investimento.
Ao contrário de seus concorrentes, Denise, na campanha, atribuiu a responsabilidade pelo incêndio no Museu Nacional à gestão da UFRJ:
— Foi (negligência), sim. Não morreu ninguém até agora por sorte. Temos uma estrutura velha, rede elétrica obsoleta e subdimensionada, com enorme chance de incêndio. Mais do que prevenir, precisamos ter rota de fuga e brigada de incêndio. Não é admissível que não haja isso na UFRJ.