O Elevado do Joá, estrada que liga a zona sul do Rio de Janeiro à Barra da Tijuca, foi pauta na mídia nacional esta semana. Após a divulgação de um relatório da Coordenação de Programas de Pós Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ), dúvidas sobre a resistência da construção foram colocadas em debate. Reafirmando seu papel protagonista em discussões desse tipo, o Clube de Engenharia sediou o debate “Integridade e segurança estrutural do viaduto do Joá”. Promovido pela Divisão Técnica de Construção, em parceria com a Diretoria de Atividades Técnicas do Clube e com a Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE), o evento trouxe os engenheiros Eduardo de Miranda Batista (COPPE-UFRJ) e Luiz Martins de Miranda (COPROTEC) para debaterem o assunto.
Para o professor Eduardo de Miranda Batista, que coordenou o estudo da COPPE e apresentou os dados, a solução possível para a recuperação do viaduto, já bastante deteriorado, seria a reconstrução de boa parte do elevado, de maneira mais moderna e eficiente, para melhorar futuras manutenções e o monitoramento da degradação. Batista apontou as áreas corroídas da construção e as providências já tomadas pelos gestores.
Segundo ele, os pilares prejudicados pela ferrugem foram reconstruídos durante a última reforma. Ainda assim, ele acredita que estudos devem ser feitos para que não seja necessária a interdição total da via, principalmente com a proximidade dos megaeventos. “Os pilares de sustentação recentemente passaram por manutenção estudada e recomendada pela COPPE e podem ser mantidos. Mas os tabuleiros superior e inferior precisam ser reavaliados e refeitos para evitar riscos”, explicou. Eduardo também sugere medidas de emergência, como proibir a circulação de caminhões pesados e reduzir o limite de velocidade para outros veículos.
A degradação dos chamados dentes de apoio Gerber foi encontrada após árdua investigação. “A estrutura construída em concreto armado, em forma dentada, na qual se apoiam as pistas e as vigas de sustentação. Ao todo, o Elevado do Joá tem 2 mil dentes, vistoriamos 840 e cerca de 10% estavam comprometidos . Em alguns o concreto rachou e pode-se ver sinais de corrosão no ferro”, destacou Eduardo. Ele explicou também que há corrosão se desenvolvendo nas áreas afetas aos dentes de apoio, mas elas permanecerão sem diagnóstico porque as faces externas são encapsuladas, impedindo a visão profunda, por isso o nível de incerteza com relação ao estado desse apoio. “Os dentes de Gerber quando caem, acontecem do nada, não há como prever, é um colapso perigoso. Não podemos analisar com precisão e, por isso, é possível que estejam mais comprometidos do que parecem estar. Os tabuleiros superior e inferior estão em risco potencial porque o processo de corrosão continua. Estamos a caminho de acidentes, mas não é possível saber em quanto tempo isso vai ocorrer”, arrematou.
O professor disse também que entende as dificuldades para tomada de decisões com relação a obras estruturais, mas que chegou a hora de trocar os tabuleiros do viaduto do Joá. “Embora seja uma intervenção traumática, ela deve ser prioritária. Inspeções regulares não podem mais ser realizadas, não há logística pra isso mesmo com as janelas abertas. O que se viu até agora já produziu incertezas suficientes”. Eduardo apontou que o Clube de Engenharia é o local natural para trazer especialistas ao debate, por isso o evento se mostrou tão importante.
A palestra do professor Luiz Martins de Miranda foi marcada por exemplos do risco apresentado pela oxidação. Luiz, que é especialista da área, analisou os pontos da agressividade química que rodeiam a estrutura de concreto armado. Ele explicou que, se o grau de deterioração do concreto armado for muito grande, não será possível salvar a construção. “Um exemplo foi o viaduto Faria Timbó, que desabou por problemas parecidos e levei meus alunos para estudarem peças da obra”, narrou. O professor ressaltou que é essencial medir e acompanhar as medidas de corrosão. Segundo ele, não há nenhum cálculo que possa prever esse grau, não há forma de normatização como acontece com degradação comum de estruturas. Para ele, o monitoramento deve ser feito com técnicas eletroquímicas que já existem, são fáceis e relativamente baratas.
Após perguntas de jornalistas e da plateia, o debate técnico se instalou. Um grande número de sugestões e críticas foi feito pelos profissionais da área presentes no auditório. Entre as propostas destacadas estava a possibilidade de erguer um dos tabuleiros do viaduto para que o outro seja reconstruído. No entanto, segundo Eduardo, o esforço logístico nesse caso seria enorme, embora possa ser feito. Presente na plateia, o engenheiro civil Nelson Araujo Lima, formado pela Escola Nacional de Engenharia (atual UFRJ), participou do debate. Nelson foi da equipe de projeto e supervisão da construção de diversas estruturas, além de ter sido membro de diversas Comissões Técnicas de Vistoria, que examinaram as causas de acidentes estruturais importantes ocorridos no Rio de Janeiro. O engenheiro foi também responsável por uma das primeiras palestras apresentadas no Clube sobre o tema, realizada em outubro de 2010. Sobre o tema, Nelson é enfático: A correção dos defeitos é tarefa difícil de realizar com sucesso em face da complexidade da estrutura e das condições desfavoráveis de acesso e de trabalho. Os problemas são tantos e tão difíceis de corrigir que a melhor orientação é considerar encerrada a vida útil da estrutura e realizar, o mais breve possível, o estudo de uma solução mais adequada para resistir à agressividade ambiental do local.
As discussões sobre o caso do elevado do Joá seguem no Clube de Engenharia e junto à opinião pública e acontecem desde 2010, quando houve palestra alertando para o seu risco estrutural.
Clique aqui para baixar o material apresentado na palestra de 2010.