Emissários submarinos: solução ecológica para a destinação de esgoto

Emissários submarinos: solução ecológica para a destinação de esgoto 17 04 obra do emissario submarino jaguaribe em 2010 fonte governo da bahia barra flickr
Obras do emissário submarino Sistema de Disposição Oceânica do Jaguaribe, em Salvador (BA) em 2010. Foto: Governo da Bahia / Flickr

O Rio de Janeiro, apesar de ser uma das maiores cidades do país, ainda passa por problemas de saneamento básico, como a coleta e destinação de esgoto. Para falar sobre uma solução natural, de baixo custo e alta eficiência, o Clube de Engenharia promoveu, no dia 10 de abril, a palestra “Lançamento de esgotos nos mares e rios – emissários”, com Jorge Rios, chefe da Divisão Técnica de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) e professor do CEFET-RJ.

A palestra contou com a abertura do presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, que trouxe a memória de Saturnino de Brito, engenheiro considerado o patrono da Engenharia Sanitária no Brasil, o qual no início do século XX foi responsável pelos primeiros programas de saneamento em Recife, Maceió, Santos, Rio de Janeiro e outras cidades. “Foi uma escola de saneamento em um país que tem técnicas rudimentares e problemas enormes de saneamento”, afirmou Celestino. Ele lamentou que o esgoto seja uma questão que “não dá voto”, sendo negligenciado pelas autoridades públicas. Saturnino também foi lembrado por Jorge Rios, que comentou ter trabalhado no Laboratório Hidrotécnico Saturnino de Brito e no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Emissário é tratamento

O emissário submarino, segundo Rios, é um tipo de tratamento de esgoto: ele lança o resíduo tratado em corpos hídricos a grandes profundidades, e, no caso do mar, em pontos distantes da praia. É possível lançar efluentes domésticos, industriais e de usinas térmicas, em lugares como rios, lagoas e mares. Assim como a estação de tratamento de esgoto (ETE) terrestre, ele tem etapas por onde passam os rejeitos: grades, caixa de areia, decantador, reator biológico e um segundo decantador. Seu tamanho depende: se o emissário for mais longo, pode ter tratamento mais simples. Um mais curto terá tratamento mais completo. O objetivo é que o esgoto seja transformado para ser auto depurado pela água, tornando-se apenas matéria orgânica para a vida marinha. Rios destacou, ainda, que a constituição estadual estabelece a obrigatoriedade de tratamento primário em qualquer emissário submarino. O estado do Rio de Janeiro conta com dois emissários na Baía de Guanabara: de Paquetá e de Icaraí. O da Barra da Tijuca e o de Ipanema são na costa aberta, assim como o de Rio das Ostras na Praia de Costa Azul.

Apesar de o emissário submarino ser considerado um tipo de estação de tratamento, existem diferenças, inclusive no custo-benefício. A estação de tratamento em terra, além de ter um processo artificial de depuração, ocupa grandes áreas, tem alta complexidade e manutenção constante, e conta com um rejeito que é o lodo, problema que não existe no emissário submarino. O emissário, por outro lado, é um processo natural, de baixa complexidade, grande vazão, alta energia disponível para depuração e vasto espaço, no mar, para o lançamento do esgoto. Uma das vantagens do mar é seu potencial de eliminar as bactérias com sua baixa temperatura e alta salinidade. Segundo mostrou o professor, um emissário com vazão de 3 m³/s teria o custo de 9 milhões de dólares, enquanto uma estação de tratamento com a mesma vazão e os mesmos níveis de tratamento custaria 30 milhões de dólares.

Planejamento do emissário: estudos e projeto técnico

Rios destacou que o emissário submarino é uma obra de engenharia, portanto exige um projeto elaborado definindo técnica, limite de lançamento e custo. O primeiro emissário inaugurado no Brasil foi o de Ipanema, com vazão de 12m³/s, comprimento de 4,7 km, e fica a 47 metros de profundidade. A elaboração de um projeto do tipo envolve tanto estudos de engenharia quanto de oceanografia. Na engenharia é possível utilizar, para uma reprodução prévia do emissário, modelos conceituais, matemáticos e físicos, além dos modelos híbridos, que são matemáticos e físicos ao mesmo tempo. Utilizando esses recursos é possível reproduzir, em tamanho menor, a atividade do emissário na água e a influência que sofrerá do ambiente. Segundo Jorge Rios, a utilização de modelo corresponde a 5% do valor da obra, no máximo, sendo uma opção mais segura do que executar o projeto sem os testes: “O que se vai economizar é dentro da obra, nos detalhes, porque o modelo vai te dar os detalhes”.

Os estudos hidráulicos envolvem a escolha do local de implantação do emissário; concepção das tomadas d’água; posição necessária para evitar recirculação dos efluentes; impacto ecológico; ondulação e mobilidade de fundo para estabilidade das obras; e o equilíbrio sedimentar da costa. Os estudos do mar também são fundamentais e devem ser feitos com frequência e a longo prazo, uma vez que as ondas e sedimentos se comportam de maneira diferente ao longo do ano. É necessário analisar correntes, ondas, marés, flora e fauna, características físico-químicas da água e outros. Todos esses dados são importantes não somente para o projeto mas também para o monitoramento da atividade.

A palestra foi abrilhantada pela presença de Benito Da-Rin, que trabalhou na implantação do emissário de Ipanema nos anos 60 e coordenou uma operação chamada de “cartão à deriva”. Da-Rin contou que a equipe jogava no mar sacos plásticos com uma moeda e um cartão, no qual estava escrito um pedido, à pessoa que encontrasse, para enviar para um determinado endereço dizendo onde o cartão foi encontrado. A equipe, depois, recebia os cartões e, sabendo de onde foi lançado e onde foi encontrado, podia calcular o movimento exercido pela corrente e determinar a possibilidade dos resíduos de voltar para a praia a partir de um determinado ponto em determinada data e horário. Isso foi feito para determinar onde seria melhor alocar o emissário. Segundo Da-Rin, este foi o primeiro trabalho dele como engenheiro formado, em 1963.

Além do Clube de Engenharia, promoveram o evento a Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e divisões técnicas de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) e Recursos Naturais Renováveis (DRNR). Contou com o apoio da Associação Brasileira de Profissionais Especializados na França (ABPEF) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES).

 

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