Evento no Clube discutiu vantagens dessa fonte que vem recuperando prestígio por não produzir Gases do Efeito Estufa
Para enfrentar o aquecimento global, o mundo vem discutindo formas de redução das emissões de gás carbônico, principal responsável pelo efeito estufa. E vem ganhando força o uso da energia nuclear para garantir o fornecimento sem gerar tanta poluição. Além da já conhecida tecnologia das usinas termonucleares, esse segmento tem apresentado novas soluções que podem ser exploradas nessa nova fase de descarbanização, como os reatores modulares pequenos, também conhecidos pelo termo em inglês Small Modular Reactors (SMRs). São tendências que podem ser exploradas no processo de neoindustrialização brasileiro.
Esses avanços tecnológicos e seus potenciais econômicos foram discutidos em evento realizado no último dia 18/10 no Clube de Engenharia. O workshop “Descarbonização da Indústria: Nuclear 360” foi realizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares (ABDAN) em parceria com a Secretaria de Estado de Energia Nuclear, Minas e Metalurgia do Rio de Janeiro (SEENEMAR) e contou com a participação de especialistas na área.
Na abertura do evento, o presidente da ABDAN, Celso Cunha, ressaltou o fato de o Brasil já ter uma matriz energética com alta participação de fontes renováveis na comparação com outros países, mas destacou também que além de aumentar esse percentual, o país precisa de geração menos instável do que a fornecida pelas usinas eólicas e solares. Mudanças tecnológicas tendem a favorecer o uso da energia nuclear, mas alterações regulatórias ainda devem ser discutidas.
“A legislação já permite a venda no mercado direto livre, mas há ainda a barreira do nuclear. Esperamos que haja um avanço da revisão da legislação, mas isso deve ocorrer naturalmente”, afirmou Cunha.
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O presidente do Clube de Engenharia, Márcio Girão, ressaltou que a ampliação do uso da energia nuclear tende a ser acompanhada pela retomada do desenvolvimento industrial do país. Nessa nova etapa, mais do que crescimento econômico, deve-se buscar a aplicação de tecnologias nacionais nos processos produtivos.
“O Brasil está vivendo uma transição importante do ponto de vista da tecnologia e desenvolvimento industrial. Estão chamando de neoindustrialização. Não é uma reindustrialização porque se apoia em tendências novas, como a da Indústria 4.0, a Inteligência Artificial, mas também pelo respeito às questões socioambientais”, destacou Girão.
O secretário de Estado de Energia Nuclear, Minas e Metalurgia do Rio de Janeiro, Hugo Leal, também citou barreiras que precisam ser superadas para a ampliação do uso da energia nuclear, contra a qual ainda há muito preconceito. Apesar de não emitir praticamente CO2, há a preocupação com o lixo produzido nas usinas, mas são fatores que tendem a ser superados e o Estado do Rio só tende a ganhar com a recuperação dessa fonte energética.
“Precisamos de bons parceiros. Temos investido na energia solar, em eólicas inclusive offshore, mas por mais esforços que possamos fazer não vai dar condições de atender a toda a demanda, sem contar a questão do hidrogênio verde, que ainda está sendo discutido e aprimorado”, afirmou o secretário.
Conforme mostrou o workshop, a energia nuclear já está sendo encarada como aliada no processo de consolidação do aço verde. A gigante da siderurgia dos Estados Unidos U.S. Steel tem meta de zerar suas emissões de CO2 até 2050 e estuda o emprego dessa fonte em suas usinas.
“A necessidade de grandes quantidades de energia sem emissão de carbono é tremenda para toda a indústria siderúrgica e certamente vemos na U.S. Steel a importância da energia nuclear, bem como das renováveis. Acreditamos que existe um papel hoje e amanhã para a fonte nuclear, bem como para energias renováveis, como a solar, a eólica e a hídrica, para complementar e, eventualmente, substituir os combustíveis fósseis”, revelou o Vice-Presidente Sênior da U.S. Steel, Richard Fruehauf.
O Vice-Presidente do Conselho Curador da ABDAN, Carlos Leipner, abordou as diversas aplicações da energia nuclear e suas vantagens para a indústria, que não se limitam ao fornecimento de energia elétrica. “O setor industrial está buscando cada vez mais caminhos para descarbonizar e vê o setor nuclear como uma alternativa complementar às suas estratégias”, frisou Leipner.
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