Para pesquisadora Juliane Furno, que deu palestra a convite da DPG, operação perdeu foco na corrupção e preferiu combater a atividade econômica
A Lava Jato esteve presente fortemente na mídia brasileira a partir de 2014, quando teve início a força-tarefa para investigar crimes contra a Petrobras. A operação integrada pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal no Paraná evidenciou diversos casos de corrupção em compras da petrolífera e virou tema até de filmes e séries televisivas, bem como impactou diretamente o mundo político. Mas o foco de atuação do grupo também vem recebendo críticas, parte delas abordada agora num evento da Divisão Técnica de Petróleo e Gás (DPG) do Clube de Engenharia, que discutiu com a participação da pesquisadora Juliane Furno os efeitos econômicos da ação conjunta da PF e do MPF.
Juliane Furno pesquisou o tema para sua tese de doutorado em Economia pela Unicamp. Ela analisou em sua palestra a importância geopolítica do petróleo e como a operação teria sido desviada. O foco deixou de ser a corrupção propriamente dita e se voltou para o combate ao setor de Engenharia e da indústria que fornece equipamentos para o setor de petróleo e gás. O título do evento tocou numa questão chave: “Os impactos econômicos da operação Lava Jato na soberania nacional”. E a pesquisadora mostrou de forma contundente justamente os prejuízos econômicos e políticos causados pela condução dada às investigações.
Segundo ela, para atender a interesses norte-americanos a operação foi muito mais dura contra as pessoas jurídicas, principalmente empresas nacionais de Engenharia fornecedoras da Petrobras, e deixou em segundo plano a punição às pessoas físicas envolvidas nos casos de corrupção. Isso acarretou, de acordo com ela, perda de empregos no país. Houve também um forte ataque à vocação da petrolífera para os investimentos e à participação do conteúdo nacional em suas compras. Tal movimento ocorreu principalmente em virtude dos desdobramentos políticos da Lava Jato, que resultaram no impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff e na prisão de Lula.
“Na minha avaliação, a Lava Jato se insurge contra um setor que era um carro-chefe da economia brasileira, sobre uma grande empresa que é a maior empresa brasileira e estatal, que lida com o principal ativo cobiçado da geopolítica internacional. Ela fortalecia empresas que estavam ganhando uma série de obras tanto nos Estados Unidos quanto países vizinhos, sem acesso a crédito. A operação assumiu um conteúdo de enfrentamento, ou de perda ou cerceamento das margens de manobra da soberania nacional e de outros países latino-americanos”, avalia a pesquisadora.
Ataque às exportações
Como empresas brasileiras estavam assumindo grandes obras em países latino-americanos e ganhando concorrências para a construção de infraestrutura até nos Estados Unidos, Washington teria incentivado a fúria da Lava Jato para acabar com esses avanços. O financiamento pelo BNDES para exportação de serviços de Engenharia também entraram na mira por contrariarem interesses norte-americanos.
Levantamentos feitos pela pesquisadora mostram que enquanto entre 2003 e 2013 empresas fornecedoras da Petrobras não só cresceram fortemente e impulsionaram a geração de emprego, como passaram a ser exportadoras de produtos com alto valor agregado. Mas a partir de 2014, houve reversão. Pelos seus cálculos, em apenas dois anos só essas fornecedoras fecharam 31% dos postos de trabalho operacionais. Além disso, a própria Petrobras dispensou 240 mil terceirizados e 20 mil empregados próprios.
“Na minha avaliação o dano econômico esteve no cerne. O objetivo da Lava Jato era destruir a economia brasileira como uma forma de desgastar politicamente o governo do PT porque a queda no PIB também teria reflexos nas eleições”, explica a pesquisadora.
O chefe da DPG, Rubin Diehl, saudou a palestrante e ressaltou o fato de a maioria das guerras nos últimos tempos terem sido motivadas pelo domínio das fontes de energia. O evento também contou com o apoio das Divisões Técnicas de Energia (DEN) e de Engenharia Química (DTEQ).
Assista abaixo à integra do evento:
Foto em destaque: Tânia Rêgo/Agência Brasil.