Introdução
O Fórum da Engenharia Nacional unifica e alinha as forças para destravar o desenvolvimento, a democracia e a soberania com inclusão social
A 1a. Reunião Anual do Fórum da Engenharia Nacional – FEN, realizada no Clube de Engenharia do Brasil, com a participação de mais de 100 entidades nacionais da Engen, 1200 inscritos em modo presencial e virtual, com mais de 3 mil visualizações simultâneas em diversos canais que transmitiram o evento on-line, reuniram-se por dois dias para a fundação do FEN, articulação permanente para a retomada do protagonismo da Nova Engenharia do Brasil e para a construção de um projeto de desenvolvimento nacional, sustentável, democrático e inclusivo.
Os representantes de instituições vinculadas à Engenharia, à Ciência, à Tecnologia, às escolas de engenharia, universidades e à Indústria acertaram e lançaram a preparação para a realização da 1ª Conferência Nacional da Engenharia, convocada pela sociedade e pelo governo federal, e proclamaram uma Carta à Nação.Play Video
Na Carta à Nação Brasileira – “O Fórum da Engenharia Nacional, que reúne os Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Geólogos, Geógrafos, Meteorologistas e Engenheiros de Computação, entre outros profissionais, suas lideranças, entidades, institutos, universidades e empresas que atuam e interagem em todos os campos da transformação inovadora do conhecimento para o bem-estar da sociedade e geração de riqueza, afirmam que: Nossa meta é promover a aceleração do desenvolvimento nacional soberano, democrático e inclusivo, unidos em esforços e propostas de soluções positivas e viáveis. No espírito do Fórum como uma construção estratégica que objetiva ser um espaço político e cultural de debates, diálogo e articulação, objetivando o cumprimento de sua missão…nos dirigimos à Nação Brasileira, e nos manifestamos pela pronta realização da 1.a Conferência Nacional da Engenharia, para consolidar junto aos governos, Congresso e, principalmente, à sociedade e ao povo brasileiro, a imperativa necessidade de retomarmos o protagonismo da engenharia nacional na elaboração e implementação das políticas públicas, influenciando a dinâmica social e econômica do Brasil, como condição capital para nos ombrearmos às demais nações desenvolvidas. Reafirmamos a compreensão de que “não há desenvolvimento sem Engenharia e nem Engenharia sem desenvolvimento”.
O empresário e presidente do Clube de Engenharia do Brasil que sediou o Fórum da Engenharia Nacional, Francis Bogossian, citou diversos entraves que dificultam a execução de propostas e fez um apelo para que “as entidades participantes formassem uma união pela retomada do desenvolvimento nacional. A falta de coesão e unidade política faz com que iniciativas fundamentais para a volta do crescimento econômico, com geração de empregos de qualidade e justiça social, está emperrada por conta de impasses, o que impede o andamento, por exemplo, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Nova Industrialização Brasil (NIB).”
O Coordenador do Fórum, Allen Habert, destacou a importância histórica do Clube e seu passado de luta pelo desenvolvimento do país e pela democracia e o quanto o momento atual é propício para a congregação em torno de um novo projeto para o futuro do país.
“É o nascimento do Fórum da Engenharia Nacional num momento muito importante para o país, em que almejamos ter até 2050 uma nação forte e mais justa. Essa caminhada foi projetada em 2021 e consegue agora colocar-se em pé de forma unitária e democrática”, ressaltou Habert.
O Ministro Secretário Geral da Presidência Márcio Costa Macêdo saudou o Fórum e a importância da defesa da Engenharia. A proposta do FEN é que a 1a. Conferência da Engenharia Nacional seja organizada a partir do Ministério da Secretaria Geral da Presidência, que é responsável pela interlocução com a sociedade e pelo caráter transversal da engenharia em todos os ministérios e políticas públicas. A direção do FEN, desde o ano passado, articula com este ministério a realização da 1.a Conferência.
O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, apontou a necessidade do país trilhar o caminho da economia do conhecimento, em que a soberania não se dá apenas no campo do controle do território, mas também com relação às tecnologias mais avançadas, que são fundamentais para a competitividade e os avanços em todas as atividades econômicas. “Nós temos que ter nossas empresas com o domínio soberano daquilo que é estratégico. Nós não podemos mais continuar com o modelo de desenvolvimento das empresas da engenharia da época de Ford e nisso o CNPq tem atuado bastante”, afirmou Galvão.
O novo presidente da FINEP, Elias Ramos, compareceu à abertura do Fórum e falou sobre a importância da NIB para o processo de retomada do desenvolvimento. Ele reconheceu que para que a iniciativa seja um sucesso, será necessária a participação intensa da engenharia na criação de soluções para serem implantadas nas empresas. “A FINEP está crescendo muito. Hoje, ela tem operacionalizado um orçamento que está crescendo ano a ano. É fruto do empenho do governo, do presidente da República Lula, da nossa ministra de Ciência e Inovação Luciana Santos, e também do Congresso, que precisa aprovar o Projeto de Lei 847/2025, fundamental para organizarmos ainda mais os recursos para a inovação”, disse Elias Ramos.
O presidente da Engenharia pela Democracia (EngD), Paulo Massoca, afirmou em seu discurso que é preciso que os engenheiros e engenheiras, bem como suas entidades representativas, tenham mais voz ativa no debate nacional para contribuir para as mudanças necessárias no país. “É preciso mais engenharia para o país. São fantásticos o novo PAC e o NIB, mas a engenharia está muito ausente disso. Temos que passar a ser ouvidos e temos que começar a falar. É um direito e uma obrigação porque não podemos ser omissos”, destacou Massoca.
Para o ex-presidente do Confea e presidente da MUTUA,- “O que me encantou desde o começo é a diversidade das forças da engenharia que podem estar aqui representadas. Precisamos focar no que nos une, pois as divergências são muitas, mas não devem nos afastar. Este é o espaço para debatermos políticas públicas e o desenvolvimento nacional de forma conjunta. Toda a nossa equipe está à disposição para contribuir. Nosso objetivo é que o Fórum chegue à Conferência Nacional da Engenharia trazendo discussões estratégicas para o Brasil.”
A abertura contou com a importante presença do deputado federal Rogério Correia (PT MG), presidente da comissão de finanças e orçamento da Câmara, presidente da frente parlamentar em defesa dos conselhos profissionais e relator da lei 1024 que regulamenta o setor da engenharia. Para o deputado Rogério Correia o Fórum e a Conferência cumprem um papel estratégico, alertou que, apesar de ter sido inviabilizada a PEC 32, proposta pelo governo Bolsonaro de fazer uma reforma administrativa para privatizar todos os serviços públicos, ainda pode ser pautada novamente uma reforma administrativa que retroceda os serviços de saúde e educação, denunciou o parlamentarismo de emendas e os desvios que isso provoca, propôs a mobilização da sociedade para barrar esta fase em que o Congresso vive para atender os interesses do Centrão e não da Nação, e comprometeu-se a ouvir e buscar um consenso entre todas as partes, com tempo e esforço de unidade, com um relatório da nova lei que garanta a soberania e a contrapartida entre as nações, para impedir a invasão de empresas de engenharia estrangeiras, sem a devida contrapartida em seus países, e renovar a legislação nesse espírito.
A experiente e combativa deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) colocou seu mandato e da bancada do partido em apoio às demandas da engenharia nacional, na luta contra os juros do banco central e em defesa do papel da engenharia no desenvolvimento nacional. O mesmo fez o deputado e Engenheiro Civil Arnaldo Jardim e o deputado Orlando Silva em depoimentos gravados e apresentados na Abertura do evento.
O reitor da Universidade Federal do ABC, Dácio Matheus defendeu uma nova formação das engenharias, com caráter mais intersetorial e visão social e ambiental, com perspectiva dos novos processos tecnológicos. Enfrentar o desafio de fazer permanecer os jovens na universidade, trazer novos jovens e formar as gerações futuras. Os avanços nas cotas e na diversidade, que já são uma realidade, são fundamentais para aproveitar todos os talentos e não deixá-los à margem da sociedade. Defendeu a prioridade para o financiamento das universidades públicas e o seu relevante papel para o desenvolvimento nacional, que graças ao presidente Lula, ficaram fora dos cortes e contingenciamento do orçamento. Pediu a urgência na tramitação no Congresso do Plano Nacional da Educação.
Para Roberto Luiz de Carvalho Freire, presidente da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros) – “A força capaz de agrupar visões de mundo divergentes foi o consenso de que é urgente destravar o desenvolvimento nacional para construir um Brasil soberano. Independentemente de cores partidárias e ideologias, a janela de oportunidade para o País é percebida por todos — e não ficará aberta indefinidamente. Os resultados das eleições gerais de 2026 podem provocar mudanças bruscas de direção e, caso as oportunidades não sejam aproveitadas agora, uma nova década perdida poderá começar no início de 2027”.
Para Antônio Carlos Soares Pereira, diretor e representante do Presidente Murilo Pinheiro, da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), “com essa unidade e mobilização aqui representada, surgirão as propostas e ideias para desenvolver o país, apresentou a contribuição já elaborada pela FNE – O projeto Cresce Brasil.
Jefferson de Oliveira Gomes, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria); elogiou “o esforço da Ministra Luciana Santos de Ciência e Tecnologia que garantiu a integridade do FNDCT com mais de 40 bilhões, e o papel da FINEP, nunca houve tanta integração entre a indústria e a Ciência, com total transparência de cada recurso aplicado, fundamental para o desenvolvimento da indústria, e o papel do Ministro Geraldo Alckmin e do MIC e a NIB como programas, que sempre podem ser melhorados, mas que estruturam uma política para o Brasil”, defendeu a importância da engenharia como fundamental para a indústria do Brasil.
Cládice Diniz, representando a ABEA – Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (fundada em 1937), a entidade mais antiga de engenheiras e arquitetas teve papel fundamental na organização do Fórum e na mobilização que está em curso da Conferência Livre da Mulher Engenheira.
O presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva); criticou o processo de licitação pelo pregão de menor preço que não considera a qualidade técnica das obras e serviços, nem o projeto e o planejamento e acaba por levar a inúmera obras inacabadas que oneram muito mais o orçamento público e a sociedade, retardando os serviços para a população. Defendeu a Engenharia Consultiva e de Projetos como fundamental para o desenvolvimento e a inovação.
José Alberto Naves Cocota Júnior, diretor da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto; alertou que “nos últimos 10 anos caiu em 70% a procura dos estudantes que participam do SISU para as vagas de Engenharia, defendeu a necessidade de um plano nacional para a retomada da formação de mais e de novos engenheiros, tanto os empresários como o governo tem interesse nessa formação.”
José Eduardo Jardim, presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo; “A engenharia participa de tudo, por exemplo na saúde 80% é engenharia, defendeu a importância da engenharia militar, não apenas na defesa, mas nos produtos que depois são utilizados pela sociedade, como a internet e o gps, a aeronáutica e aeroespacial do Brasil são muito desenvolvidas, assim como a Nuclear”.
Alberto Balassiano – Vice Presidente do CREA RJ ressaltou o papel do Estado Nacional e das empresas estatais criadas a partir do Presidente Getúlio Vargas, período em que foi criado o sistema Crea/Confea, porque se compreendia o papel da Engenharia para o desenvolvimento nacional.
Sidney Menezes, presidente do CAU-RJ defendeu que a Arquitetura e a Engenharia caminham juntas e são inseparáveis, que a existência de dois conselhos devem servir para a fiscalização e para melhorar essa integração.
Nely Palermo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), entidade que já tem 80 anos, que é responsável pelas grandes descobertas na mineralogia, defendeu a Conferência e o engajamento das entidades da Geologia.
Diego Melo, presidente do Grêmio Politécnico da USP falou em nome dos jovens presentes, resgatou a história e o papel das entidades estudantis de engenharia em defesa do desenvolvimento nacional e da democracia, a juventude é a principal interessada nesta luta da Engenharia, com o ensino mais universal e intersetorial, homenageou o engenheiro Plinio Azman, resgatou sua trajetória e concluiu com a mensagem de que “não podemos exportar nosso futuro”.
Poliana Kruger, presidente da Federação de Associações de Mulheres da Engenharia, Agronomia e Geociências (Fameag), ressaltou a necessidade da valorização das mulheres nos espaços das Engenharias e que o Fórum era um instrumento importante para esta luta das mulheres engenheiras.
Claudia Morgado, diretora da Escola Politécnica da UFRJ, a mais antiga, defendeu que o recente criado forum das escolas de engenharia seja ouvida pelas autoridades para a reformulação da legislação de dos responsáveis pela educação, principalmente na validação de diplomas estrangeiros sem a devida contrapartida dos países, abrindo o nosso mercado sem qualquer critério nem contrapartida.
Ricardo Latgé, representando a Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo), ressaltou que quando o Brasil começa a se desenvolver acontecem os golpes, contra o Brasil e contra a Engenharia, a importância do Fórum para defender a Engenharia e o desenvolvimento Nacional, como por exemplo, resgatar o papel da Petrobras, que se encontra presa, por instrumentos supra legais que alteraram o estatuto, e impedem que o governo exerça o controle da empresa, que está refém dos acionistas privados que são minoritários.
O presidente do CONFEA, em mensagem gravada, deu as boas vindas aos participantes do Fórum da Engenharia Nacional e colocou o Confea a disposição para estas iniciativas que geram redes e conexões, designou o Conselheiro Ronaldo Malheiros como representante que acompanhou e foi relator em uma das mesas dos debates.
A sensação era unânime: esta foi a primeira vez que uma articulação desse porte, reunindo tantas entidades da engenharia nacional com diferentes perspectivas políticas e sociais, foi realizada. A afirmação permeou vários discursos na mesa de abertura da 1ª Reunião Anual do Fórum da Engenharia Nacional.
Os números e decisões recentes ilustram as preocupações que fizeram nascer o fórum permanente das entidades das engenharias. Três dias antes da reunião, em 30 de maio, o governo editou decreto bloqueando R$ 31,3 bilhões do Orçamento; o Novo PAC perdeu R$ 7,6 bilhões, sendo R$ 5 bilhões contingenciados e R$ 2,6 bilhões bloqueados. Segundo o Fiscobras 2024, do TCU, apenas 0,27 % das ações do PAC estavam concluídas em abril de 2024. Em dezembro, o Tribunal constatou que metade das obras contratadas com recursos federais estava paralisada, principalmente nas áreas de saúde e educação.
Articulação pelo Brasil
Representantes de outras entidades de diferentes estados destacaram a importância da articulação pelo desenvolvimento e lamentaram a demora para um encontro plural com esse objetivo.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), Clovis Nascimento, apontou o papel estratégico do fórum: “Nada é concedido. Os espaços são conquistados. Esta 1ª reunião do Fórum da Engenharia permitirá ganhar musculatura para, em breve, construirmos nosso espaço e levarmos ao governo nossas propostas. E ele terá de ouvir, porque a engenharia é a mola propulsora deste País.”
O colapso climático, o deslocamento dos polos geopolíticos, as profundas alterações no mundo do trabalho, a ascensão de uma nova extrema-direita fascista e gerações inteiras sem esperanças de um futuro possível somam-se aos ataques a profissões essenciais, deixando o Brasil despreparado para enfrentar os desafios de hoje e do futuro próximo.
A educação é fundamental para superar a crise e recolocar o país na trilha do desenvolvimento. Ricardo Galvão, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), destacou que “não se trata apenas de obras, mas, sobretudo, de empresas brasileiras detentoras de tecnologias estratégicas, capazes de aplicar conhecimento soberano às necessidades nacionais e de integrar indústria e academia”.
O Fórum aprovou ainda quatro moções: Repúdio ao Genocidio promovido por Israel em Gaza e total solidariedade a Palestina; Repúdio às agressões de senadores à Ministra Marina Silva; Repúdio à aprovação da PEC da Devastação e exigência de sua revogação, como inconstitucional, pelo STF; Repúdio à exclusão das Escolas de Engenharia do modo EAD e a imediata rejeição da tentativa de acabar com a boa prática na Engenharia.
O Fórum da Engenharia Nacional manifestou-se em sua luta em defesa do Brasil, em defesa da soberania nacional e da democracia e de um mundo multipolar, solidário e inclusivo, sem distinção de gênero, raça, credo ou origem social.
(*) Miguel Manso é engenheiro eletrônico formado pela USP, com especialização em Telecomunicações pela Unicamp e em Inteligência Artificial pela UFV, pesquisador da FDTE – Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia e da FMG Fundação Maurício Grabois, é diretor de políticas públicas da EngD – Engenharia pela Democracia e coordenou 1a. Conferência Livre da Engenharia, Ciência, Tecnologia e Inovação (2024).