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Geopolítica do petróleo e conjuntura internacional

Geopolítica do petróleo e conjuntura internacional 1443614628

 

Uma análise crítica e contundente da conjuntura internacional; os interesses de Estados nacionais e empresas transnacionais na disputa por exploração de recursos naturais, com foco na exploração do Petróleo; implicações na soberania nacional de países impactados por este mercado; ameaça à soberania nacional sobre o pré-sal. Com esta pauta o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI-UFRJ), Raphael Padula, realizou palestra, dia 23 de setembro, no Clube de Engenharia. O concorrido encontro constou da programação do seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a Petrobras”, promovido pela Associação dos Engenheiros da Petrobras – AEPET, o Programa de Pós-graduação  em Economia Política Internacional da UFRJ (PEPI-UFRJ) e o Clube de Engenharia do Brasil.

Em sua apresentação, Padula evidenciou as tradicionais e novas potências no atual cenário da geopolítica internacional. Entre as emergentes, China, Rússia, India e Brasil. Entre as já tradicionais potências que trabalham para manter sua supremacia, Estados Unidos e seus aliados, sendo o mais constante deles a Inglaterra. Os demais aliados dos norte-americanos, segundo o especialista, mudam de acordo com os interesses norte-americanos nas diferentes regiões do mundo. Raphael Padula esclareceu que quando “surge uma potência ou coligação de potências que ameaça os Estados Unidos, sua supremacia e hegemonia econômica, financeira, militar e política, é considerada um rival a ser combatido. Na declaração da carta fundadora do país, os Estados Unidos nascem para liderar o novo mundo frente ao velho mundo. O Brasil, nosso petróleo e outros recursos naturais já apareceram na geo-estratégica da política estadunidense, com fatores estruturais e conjunturais”.

 

“O objetivo constante de manter a supremacia norte-americana consiste em negar acesso a recursos a um rival real ou potencial e garantir o abastecimento aos aliados, aumentando seu poder de barganha”.


Raphael Padula cita a história recente para defender suas colocações nestes tempos de crise política e fratura social no Brasil, e como este clima interno se relaciona com a geopolítica internacional e os interesses das potências tradicionais. Segundo ele “nos anos 70, após o fracasso no Vietnam e crescente déficit em relação à Alemanha e Japão e menor poder da moeda americana, os Estados Unidos declaram que o dólar não é conversível em ouro. Começam, então, a enquadrar potenciais rivais que ameaçam sua posição de supremacia global e passam a relacionar o petróleo ao dólar”. Segundo o professor da UFRJ, após o fim do bloco socialista e da “ameaça vermelha”, com a dissolução da União Soviética, os Estados Unidos elegeram novos perigos, ou alvos, “inimigos invisíveis”. Entre eles, a revolução islâmica no Irã e outros países do mundo árabe e o tráfico de narcóticos na America do Sul, com o objetivo de justificar sua presença militar “pacificadora” nestas regiões que, não ao acaso, contam com importantes reservas de petróleo. 

De acordo com o professor Raphael, o objetivo constante de manter sua supremacia consiste em negar acesso a recursos a um rival real ou potencial e garantir o abastecimento aos aliados, aumentando seu poder de barganha.

Já a China, segundo o especialista, é “crescentemente demandante de recursos naturais, energéticos e de petróleo. Crescentemente deficitária e dependente da importação de petróleo e representa 18% do consumo global, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. A China pratica uma geo-estratégia de não confrontação. De forma pacífica privilegia políticas de longo prazo e a relação em estados nacionais em relações de ganha-ganha. O país encoraja as empresas nacionais chinesas a investirem no exterior buscando garantir acesso aos recursos naturais destes países através desses investimentos. A perspectiva é aumentar seu poder militar global pelo mar e sua industrialização. A China tende a confiar ao máximo em abastecimento via terrestre, já que os mares são dominados pelos Estados Unidos e Inglaterra. Também é característica da China a atuação das empresas estatais, que diversificam parceiros de negócios para ter opções e negociar com vários países. O petróleo é estratégico para a questão militar chinesa, que também tem no carvão uma importantíssima matriz energética”. Neste cenário internacional, a India surge, segundo Padula, como relevante importador de Petróleo, com 85% do consumo interno importado, o que produz grande pressão no mercado internacional.

 

“É a oportunidade de o Brasil fazer de sua principal empresa energética,  a Petrobras, um motor de desenvolvimento do país, o que não é interesse dos Estados Unidos e potências tradicionais”.

 

Raphael Padula avalia a situação do Brasil e da Petrobras neste contexto geopolítico de conflito de interesses entre potências tradicionais e potências emergentes. Conclui que a “conjuntura geopolítica, de pressão competitiva no sistema internacional acelerado por potências tradicionais, sobretudo os Estados Unidos, é para manter sua unipolaridade, negar acesso a recursos para rivais potenciais e efetivos, e garantir o abastecimento de aliados. A ascensão da Índia e da China em demanda por recursos energéticos aumenta a competição por estes recursos. A discussão de um novo regime regulatório sobre o Pré-Sal é uma debate importante, pois o Brasil está ameaçando o interesse de potências e empresas transnacionais com cobiça sobre estes recursos. É a oportunidade de o Brasil fazer de sua principal empresa energética,  a Petrobras, um motor de desenvolvimento do país, o que não é interesse dos Estados Unidos e potências tradicionais”

O palestrante ligou alguns pontos que conectam os interesses americanos ao atual cenário de crise política e instabilidade no Brasil. Segundo ele, “Snoden (WikiLeaks) revelou que a NSA (Agência de Inteligência norte-americana) espionava o governo brasileiro, sobretudo a Petrobras, e sabe  de muitas coisas, de corrupção, por exemplo, que sempre existiu, mas só aparece agora, e só é investigada a partir de 2003. E, assim, eles vão elegendo quem é democrático ou não, corrupto ou não, e o discurso da corrupção tem uma importância enorme no caso brasileiro”.

O debate que se seguiu à palestra trouxe à tona críticas à recente política externa brasileira. Padula afirmou ser também um crítico desta política, mas levantou pontos positivos como a mudança de foco na segurança nacional, do Brasil e de países sul-americanos;, do tráfico internacional de drogas, um dos “inimigos invisíveis” dos norte americanos, para o fortalecimento da defesa da soberania nacional nas nossas fronteiras. Segundo Padula, “nas invasões ao Iraque e Afeganistão os norte-americanos foram em busca de armas de destruição em massa, que hoje sabemos, não existiam. Quem armou os talibãs pra lutar contra a União Soviética foram os Estados Unidos. O caos dos refugiados na Europa vem de países onde os Estados Unidos elegeram bons e maus de acordo com seus interesses, o que justifica sua presença militar nas regiões que, não coincidentemente, são produtoras de petróleo. Já as violações de direitos humanos das mulheres, e de valores universais e democráticos em países aliados dos norte-americanos, como Arábia Saudita e Barém, não aparecem nos noticiários da imprensa americana e suas filiais na América do Sul através da Associated Press. Seus governantes não são ridicularizados e caricaturados por esta mesma imprensa”. Raphael Padula finalizou afirmando que “dias após o anúncio da descoberta do Pré-Sal o governo americano reativou a quarta frota da Marinha do Atlântico Sul, um poder simbólico forte, e os ingleses começaram a perfurar o mar no entorno das Ilhas Malvinas”.

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