Lições da experiência da China para o Brasil


Geógrafo e atual presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), Elias Jabbour deu palestra no Clube de Engenharia do Brasil sobre o segredo do sucesso do país asiático

Quando se observa que até 1995 o PIB do Brasil ainda era superior ao da China e que atualmente o país asiático produz bens e serviços em valor oito vezes maior que o somatório brasileiro, a pergunta inevitável é o que cada um dos países fez de certo ou errado para esse resultado. Sobre essa questão, tem se debruçado o geógrafo Elias Jabbour, autor do livro “China – o Socialismo do Século XXI”, que esteve no Clube de Engenharia do Brasil para uma palestra. Segundo ele, os brasileiros devem aprender muitas lições com o gigante da Ásia, mas copiar seu modelo seria um outro erro.

“As pessoas me perguntam muito se é possível replicar o modelo chinês aqui. A China é produto de sua história particular e fruto de um processo de construção nacional que já tem mais de 2 mil anos. Isso significa que quando Jesus Cristo veio ao mundo já existia o Estado chinês, inclusive com engenharia e grandes obras”, ressaltou Jabbour, que atualmente preside o Instituto Pereira Passos (IPP) da Prefeitura do Rio.

De fato, as peculiaridades históricas chinesas são bem diferentes das brasileiras para que o modelo seja replicado no país. Conforme ele bem explicou na palestra, o país asiático chegou a ter toda a economia estatizada, no auge do comunismo de inspiração soviética que adotou, mas principalmente a partir da década de 1990 ingressou na economia de mercado. O que deve ser observado é que apesar de o governo chinês ter privatizado fábricas, optou por manter um Estado forte, que hoje mantém como herança do período anterior 96 conglomerados estatais que atuam em áreas estratégicas.

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Não é à toa que grandes empresas chinesas, a maioria públicas, estão atualmente no topo do ranking da Forbes. Para que dessem certo, foram criadas instituições que monitoram seu desempenho não só financeiro, como sua capacidade de gerar inovações. O país está indo bem nessa corrida tecnológica, conforme explicou o geógrafo, em grande parte devido ao seu sistema de financiamento da produção e do desenvolvimento tecnológico. A China tem quatro grandes bancos de fomento e uma rede de instituições financeiras regionais, que podem até criar moeda, com o fim de estimular demanda.

“Eles conseguem construir um grande horizonte empresarial público, porém orientado ao mercado”, ressalta Jabbour.

As lições se chocam com o que muitos liberais afirmam no Brasil e em outros países do Ocidente, pregando que o Estado tem que ser administrado como uma família cuida do seu orçamento. O governo assume um papel planejador e centralizador, em que o financiamento à pesquisa e à inovação são questões chave. Além dos mecanismos de financiamento, há também políticas voltadas para o acompanhamento de metas por parte das empresas e também de investimentos em infraestrutura, obras que equivaleriam, segundo ele, a cem PACs, em comparação com o Programa de Aceleração do Crescimento brasileiro. Os projetos explicam o motivo de, ao contrário do Brasil, na China a urbanização acelerada da população não ter resultado num processo de favelização.

“Essa capacidade dos chineses de elaborar e executar projetos rapidamente é parte desse esforço de formação de um sistema nacional de inovação tecnológica, em grande parte disruptivas, que nascem desse ecossistema, com uma visão just in time da realidade e capaz de entregar soluções para as próximas contradições que vão surgir. A China possui uma máquina de previsão impressionante”, afirma Jabbour.

Esse esforço do Estado chinês ajuda a explicar o surgimento de ferramentas como o DeepSeek, de inteligência artificial generativa, que recentemente causou grande impacto global por sua qualidade e baixo custo. Se o Brasil em vez de importar tecnologia, produzisse suas próprias inovações, poderia estar também competindo nesse mercado. 

Encarregado de propor políticas públicas que justamente sejam capazes de se antecipar a acontecimentos futuros no Rio de Janeiro, à frente do IPP, o geógrafo expôs também os desafios da cidade e do estado fluminense. Nas últimas décadas, principalmente por conta das medidas liberalizantes dos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso, o Rio passou por um processo de empobrecimento e desindustrialização agudo. A perda de empregos provocou degradação social e violência, que só será revertida com retomada da indústria. 

Assista à palestra no vídeo abaixo:

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