“Produção versus Rentismo”, organizado por Carlos Pereira, foi lançado no Clube com debate entre lideranças e intelectuais
As altas taxas de juros praticadas no país favorecem a lucratividade de quem já possui um alto volume de ativos e apenas recebe seus rendimentos, sem ter que trabalhar ou correr os riscos de um empreendimento. Esse é o chamado rentismo, que concentra renda nas mãos de quem não produz e cria dificuldades para as atividades produtivas. Tendo em vista os danos que esse fenômeno causam para o desenvolvimento da nação, o Clube de Engenharia do Brasil realizou um debate no último dia 25 para a formação de uma união nacional a favor do crescimento. “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do Brasil” marcou também o lançamento no Rio de Janeiro de livro organizado por Carlos Pereira, que entrevistou diversas personalidades sobre o tema.
“Sem dúvida, não haveria lugar melhor para o lançamento desse livro. O Clube de Engenharia abraça essa campanha contra o rentismo o capital financeiro que destrói as bases da nossa economia”, ressaltou o vice-presidente da entidade, Fernando Peregrino.

O livro, fruto do Seminário Nacional pela Reindustrialização do Brasil, realizado na sede da CTB, em junho de 2024, é uma coletânea de entrevistas e artigos com lideranças empresariais, trabalhistas e da academia, abordando a necessidade de se um projeto de desenvolvimento nacional, com bases, principalmente, em empresas nacionais, no mercado interno e no Estado.
O ato foi mediado pela líder metalúrgica e diretora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Raimunda Leone, que deu a palavra a Carlos Pereira para que fizesse a sua apresentação. Bastante emocionado pela presença das lideranças e personalidades, e também de velhos e novos companheiros de militância, familiares e amigos de longa data, Pereira afirmou que a publicação “tem a pretensão de promover na sociedade a ideia de um pacto nacional pela reindustrialização do Brasil, e de reacender as raízes do pensamento desenvolvimentista, destoante da mesmice do chamado neoliberalismo”.
“O neoliberalismo não admite discussão. Não é uma ciência, é um conjunto de dogmas. Não importa se não deu certo em lugar nenhum. Não importa se nos países dependentes só provocou fome, desemprego, desindustrialização e só beneficiou a especulação financeira e os monopólios”, afirmou o organizador do livro.
Pereira prosseguiu fazendo um histórico das diversas fases de desenvolvimento do país e finalizou afirmando: “Ou retomamos nossa caminhada, ou o Brasil deixará de ser uma nação. A situação está no limite”.
Ele denunciou que “o preço da dívida pública, ou seja, foram pagos ao rentismo pelo Tesouro, em 2024, quase um trilhão de reais. Mais do que o dobro do Orçamento da Saúde, Educação e do Bolsa Família somados. Os bancos se locupletaram com mais de 100 bilhões de lucro no último ano. Só não vê quem não quer. Esse é o nosso dilema: ‘Produção versus Rentismo’”, pontuou.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), impossibilitada de sair de Brasília, enviou um vídeo no qual parabeniza Carlos Pereira pela “obra tão importante”, que defende “um projeto de desenvolvimento, com indústrias, com trabalho, em confronto com o que faz o sistema financeiro”. “Temos que enfrentar os juros altos, fortalecer o trabalho, e também a ciência e a tecnologia no desenvolvimento da indústria nacional”, disse a deputada.
Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), salientou que os trabalhadores são os mais interessados nesse debate e nessa luta. “A classe trabalhadora é a que mais se beneficia com a industrialização do país e há muitos pontos em comum entre a pauta trabalhadora e o empresariado nacional, porque interessa à classe trabalhadora um mercado produtivo”.
Para a professora da UFRJ, a economista Denise Gentil, o livro é “obra fundamental, um chamado ao desenvolvimento, e se alinha na luta pelas grandes transformações que este país está precisando”.

O doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, Paulo Kliass, ressaltou que a frase “sem indústria não há nação”, contida na introdução da obra de Pereira, “é uma espécie de síntese” do que vivemos no momento atual e que, “ajuste fiscal”, “corte de gastos públicos”, a busca por “zerar o déficit primário” são “objetivos a serem enfrentados e derrotados”.
O ex-diretor da Petrobrás, Guilherme Estrella, durante mensagem ao encontro. (Reprodução)
Outro convidado que também enviou um vídeo de felicitação, o geólogo e ex-diretor da Petrobrás Guilherme Estrella falou da importância de obras como o livro de Pereira, que “retoma a discussão de um projeto de desenvolvimento para que nossas riquezas retornem ao país e ao povo brasileiro”.
Para o presidente da CTB-RJ, Paulo Sérgio Farias (o Paulinho), “Lula precisa ouvir essas vozes contra essa política rentista”. “Não podemos mais permitir nossas riquezas, nossas estatais, sendo sequestradas pelo rentismo”, afirmou.

De acordo com João Batista Lemos, da direção nacional do PCdoB e secretário estadual sindical do partido no Rio, Pereira “acertou na mosca”. Segundo Batista, aquele encontro estava sendo “muito mais do que o lançamento de um livro, mas uma reflexão sobre a industrialização do país, o pacto necessário entre os setores produtivos e os trabalhadores”. Para ele, “o arcabouço fiscal está cavando a cova de 2026” para o governo federal.
O encontro contou ainda com as presenças do presidente do CREA-RJ, Miguel Fernandez, e do 1º vice-presidente da entidade, Alberto Balassiano; do ex-presidente do Clube de Engenharia e atual presidente da Confederação Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicação (Contic), Márcio Girão; do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (RJ), Marcos Sant’aguida; de dirigentes de sindicatos de trabalhadores portuários, metalúrgicos, servidores do Banco Central e SindPD/MG; do vice-presidente da FIOCRUZ, Hermano Castro; do assessor da diretoria da FINEP, Jorge Venâncio, e Carlos Henrique Miranda, assessor da deputada Jandira Feghali, entre outros.
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