Obra do antropólogo Pedro Bogossian-Porto foi lançada no Clube de Engenharia do Brasil
O Brasil tem uma grande comunidade de origem armênia, estimada em cerca de 100 mil pessoas, mas poucos brasileiros conhecem bem esse país, que fica entre a Europa Oriental e a Ásia Ocidental. Muito menos é difundido que a migração de armênios para cá deu-se principalmente em virtude de perseguições étnico-religiosas, que culminaram num genocídio ocorrido em 1915. Para resgatar a história dos descendentes que sobreviveram a esse massacre e tiveram que partir para uma diáspora, o antropólogo Pedro Bogossian-Porto escreveu o livro “Primeiros Campos: Memórias de um genocídio – Reconstruções da identidade armênia no Brasil”, que foi lançado no Clube de Engenharia do Brasil.
Tendo em vista, o desconhecimento sobre fatos históricos tão importantes que acabaram reverberando no Brasil, a obra escrita por Pedro joga luzes sobre um passado de crimes tenebrosos. Na época do genocídio, a Armênia fazia parte do Império Otomano, sediado em Istambul, na Turquia, cujo governo também massacrou gregos e assírios. Fugindo da violência, os armênios que vieram para o Brasil, em sua maioria cristãos, se dirigiram principalmente para o Rio de Janeiro e São Paulo, mas alguns tiveram outros destinos.
Foi o caso, por exemplo, dos pais da famosa atriz Aracy Balabanian (1940-2023), nascida em Campo Grande (MS). Não por coincidência, ela viveu na TV o papel da Dona Armênia, na novela “Rainha da Sucata” (1990), fazendo grande sucesso. Outro ator famoso de origem armênia é Stephan Nercessian, cujo depoimento está no livro lançado.
O antropólogo, que iniciou essa pesquisa durante seu mestrado na UFF, ouviu cariocas e paulistas que contaram suas memórias. Segundo ele, o levantamento foi desafiador na medida em que muitos procuram esquecer episódios que são sobretudo dolorosos, devido às terríveis atrocidades sofridas pelos antepassados.

“Para mim, é interessante pensar na imagem de dois rios da mitologia grega, o Lete e o Mnemósine, que são os rios do esquecimento e da lembrança. Acreditavam que quem bebesse das águas deles poderiam ter uma nova existência sem suas memórias ou teriam uma existência marcada pelas lembranças. Acho que entre os sobreviventes, alguns tiveram a necessidade de lembrar de tudo e outros de esquecer de tudo”, contou o antropólogo.
Pedro conta que um dos depoimentos mais sensíveis que ouviu foi de uma mulher de São Paulo que resolveu conhecer a terra de seus antepassados e programou uma visita a Istambul no trajeto de volta. No entanto, ao chegar à Armênia ficou tão impactada com as lembranças do genocídio, que desistiu da ia à cidade turca. São relatos que podem reforçar a necessidade de reconhecimento do genocídio por parte dos Estados desse fato histórico. O presidente do Clube, Francis Bogossian, que é descendente de armênios, contou como vem lutando pelo reconhecimento do genocídio armênio, que já foi feito pela Alerj, mas ainda não a nível nacional.
O livro está disponível na Amazon pelo link.