Luís Nassif desvenda em livro a ‘Conspiração da Lava Jato’

Lançamento de obra do jornalista aconteceu nesta quinta-feira (10), na sede da ABI, no Rio

A Operação Lava Jato teve início em março de 2014 e ocupou grande parte do noticiário nacional nos seus primeiros anos, principalmente até o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, e só foi concluída sete anos depois de sua primeira prisão. Mas, como se já não fosse uma tarefa hercúlea recontar todo esse período da história nacional, o jornalista Luís Nassif encarou o desafio de ir além e também desvendar a trama que ensejou tamanha mobilização da mídia e de órgãos do poder público. Foi uma análise de uma articulação com o objetivo de atacar a democracia e a soberania nacionais, que inclui um período entre o início deste século e a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, que está reunida no livro “A conspiração da Lava Jato: o jogo político que comprometeu o futuro do país”, lançado nesta quinta-feira (10), na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio de Janeiro.

Como jornalista experiente e premiado, Nassif reconhece o apelo que as manchetes que  tratavam da corrupção traziam, afinal cobriu escândalos de grande repercussão desde a época da ditadura. O suposto combate aos desvios de dinheiro atraiu audiências, incentivou o golpe de 2016 e influiu nas eleições de 2018, mas nesse período todo ele preferiu ficar do lado da verdade e até na difícil posição de denunciar o conluio dos grandes veículos de comunicação com os integrantes da Lava Jato. Grande parte dessas análises, a começar pela própria crise da mídia que precisou se agarrar a um fracasso projeto de poder para tentar sobreviver, foi reunida na obra, já disponível no site da editora Contracorrente.

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Mas, se é difícil competir com o volume de informação que a grande mídia divulgou no período sobre a operação, Nassif compensa essa desvantagem com seu texto arguto e claro. Nas palavras da jornalista Hildegard Angel, presente ao debate do lançamento, a leitura do livro é de tirar o fôlego. “Nassif escreveu uma obra maravilhosa. Eu leio como se fosse um thriller, como se fosse um romance de ação. Eu não consigo desligar. É tão detalhado e esclarece de uma maneira tão transparente, com dados, com datas, que aprendemos. Deveria até ser um livro didático”, afirmou a jornalista.

No debate promovido também pelo Clube de Engenharia e pelo Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Nassif fez uma explanação sobre as forças que se articularam em torno da Lava Jato e os motivos para terem se unido com o único objetivo de derrubar o governo do PT. São fatores que começaram a se delinear principalmente a partir da virada do século, com as transformações advindas da economia digital.

De um lado, interesses geopolíticos externos desmantelaram as empresas de engenharia nacionais, que já tinham destacada atuação internacional. De outro, a mídia tradicional, perdendo faturamento com o crescimento da internet, acreditava que manipulando o jogo do poder, compensaria suas perdas com a vinda de um novo governo mais generoso nas verbas publicitárias. Esses dois vetores se aliaram a vozes da extrema direita, e juntos encurralaram o Supremo Tribunal Federal (STF), na visão de Nassif. As táticas mobilizaram a opinião pública, num jogo em que prisões e investigações eram feitas sem amparo no devido processo legal, sem contar o conluio entre procuradores e o Departamento de Justiça americano e com o Ministério Público da Suíça, interessados em prejudicar a Petrobras e a engenharia nacional.

“A questão geopolítica é essencial. Os Estados Unidos, depois de 2002 ou um pouco antes, tinham se decepcionado com parcerias feitas com militares formando ditaduras, e passam a fazer parcerias com o poder judiciário, procuradores e delegados. A Lava Jato surge disso”, conta Nassif, que destrincha como os membros da operação foram cooptados e agiram de acordo com os interesses norte-americanos.

Grande parte do que conta Nassif foi corroborada pelo presidente da ABI, Octávio Costa, que também participou do debate e falou de sua experiência em uma grande editora de revistas de circulação nacional. Quando o teor da atividade jornalística flui de acordo com o fluxo das verbas publicitárias oficiais, quem mais perde são os cidadãos e a democracia, tendo em vista a importância da imprensa para o esclarecimento da sociedade. A promiscuidade foi tanta que até jornalistas que cobriram o julgamento de Lula no TRF-4 comemoraram sua condenação e postaram nas redes sociais.

O presidente do Clube, Francis Bogossian, contribuiu com o debate mostrando o quanto a operação prejudicou as empresas de engenharia e seus funcionários, muitos com alto gabarito técnico. Foi um desmantelamento difícil de ser recuperado, mas medidas tomadas pelo atual governo, como o PAC 3 e o Nova Indústria Brasil (NIB), podem reverter esse quadro.

“As empresas que vimos ser punidas são compostas, majoritariamente, por profissionais, que aplicam seus conhecimentos e habilidades no desenvolvimento de equipes técnicas formadas e treinadas ao longo de décadas de trabalho. Essas equipes foram desmanteladas”, afirmou Francis Bogossian. (Leia a fala na íntegra abaixo).

O debate contou com a participação do público presente no auditório que em muito questionou Nassif sobre os rumos que vislumbrava para o país. Diante das dificuldades políticas vividas pelo governo atual, a implantação de um projeto de desenvolvimento enfrenta obstáculos, mas a liderança e condução desse processo caberia ao presidente Lula, que segundo o jornalista “precisa recriar o sonho, colocando metas”.

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Nassif autografa livro para o ex-desembargador Siro Darlan

Leia abaixo a fala do presidente do Clube, Francis Bogossian:

“Desde que assumiu seu terceiro mandato, o presidente Lula se empenha em concretizar sua promessa da reconstrução do Brasil com a participação do setor privado. Foi alentadora a cerimônia de lançamento do PAC, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, logo no início de  seu governo, com o presidente acompanhado de todo o ministério e aplaudido por representantes de vários segmentos, inclusive, e principalmente, o da Construção Pesada.

Sabemos que, para essa reconstrução ocorrer, temos que, prioritariamente, pensar na Engenharia, base do desenvolvimento de qualquer Nação. No último mês, recebemos nova injeção de ânimo e esperança com o anúncio do programa Nova Indústria Brasil, tendo o BNDES e a FINEP entre seus pilares.

Após a grave recessão dos anos 80, o país levou décadas para se reerguer, o que acabou ocorrendo após os três sucessivos governos do PT. Porém, quando acreditávamos que o Brasil seria a estrela dos países emergentes, ele voltou a submergir. O Brasil viu-se arrebatado numa espiral destrutiva catastrófica, que durou cerca de oito anos, da qual agora ele procura se recuperar. Sim, depois da terra arrasada, temos à vista uma terra fértil para se colher o desenvolvimento, a multiplicação de empregos, a retomada do parque industrial da Engenharia brasileira. Não vamos fazer agora o que já ocorreu em momentos de bonança, quando desperdiçamos os ganhos e não atacamos os reais motivos estruturais que impedem nosso crescimento.

Não existe nação forte sem empresas nacionais fortes. Essa compreensão esteve presente nos planos brasileiros de desenvolvimento desde os anos 30 do século passado. Em torno dela o país se industrializou e modernizou, combinando sempre o planejamento governamental ao vigor da iniciativa privada.

Nesse contexto, a nossa engenharia se desenvolveu, através de uma grande e moderna base industrial e de empresas projetistas, construtoras e monitoradoras, que atenderam à demanda por bens industrializados de consumo e de capital, e de dotar o país da infraestrutura que o levou ao grupo das dez maiores economias do mundo. É claro que ainda faltava muito a ser feito para que todos os brasileiros tivessem uma vida mais digna. O Brasil ainda se encontrava no percurso de um ciclo virtuoso, quando viu seu desenvolvimento ser bruscamente interrompido, como um veículo cujo condutor puxa o freio de mão e muda seu rumo para a marcha à ré, estabelecendo-se um enorme retrocesso.

Na esteira do “golpe das pedaladas” e das mudanças de poder, houve o recrudescimento de uma suposta limpeza ética, que vinha sendo operada no país, a Operação Lava Jato, que o jornalista Luís Nassif, de modo inspirado, chama de Conspiração Lava Jato. Ela passou como um rolo compressor sobre tudo que havíamos conseguido edificar. Empresas fechavam as portas, uma após outra, como um castelo de cartas que desmoronava. Empresas, que produziam veículos, aeronaves, embarcações, máquinas, bens duráveis de consumo, meios de telecomunicações, deixaram de fazê-lo. Empresas que construíam rodovias, ferrovias, metrôs, hidrelétricas, portos, aeroportos, refinarias, indústrias de topo, tipo redes de água e esgoto, habitações foram penalizadas como se fossem elas próprias e seus funcionários os responsáveis por mal feitos, e não os indivíduos diretamente responsáveis. E passamos a meros exportadores de produtos primários. Voltamos ao Brasil pré-industrial.

As empresas que vimos ser punidas são compostas, majoritariamente, por profissionais, que aplicam seus conhecimentos e habilidades no desenvolvimento de equipes técnicas formadas e treinadas ao longo de décadas de trabalho. Essas equipes foram desmanteladas. As construtoras brasileiras também exerciam o papel de educar sua mão de obra não qualificada, e até analfabeta. Cursos de alfabetização eram comuns nos grandes canteiros de obras, assim como o treinamento dos trabalhadores sem qualificação, que são contratados como serventes e se profissionalizam como pedreiros, eletricistas, encanadores etc. É por eles que precisamos lutar também! Colapsar as empresas brasileiras foi extinguir nossa Soberania!

A engenharia precisa renascer no nosso Brasil, em curto prazo e em regime de urgência, e através dela ser retomado o desenvolvimento da Nação Brasileira e reconquistada a sua  Soberania.

Nós, engenheiros, sabemos e podemos acender a luz. Não é possível continuar caminhando pelas trevas em que nos encontramos. Vamos, pois, acender a luz, através da criação do Grupo em Defesa da Engenharia e da Soberania Nacional, ação ambiciosa, que esperamos venha a ser coordenada pelo nosso querido Luís Nassif, que, pelo que fala e pelo que escreve, demonstra as condições para desempenhar mais esse papel. Essa ação em estado embrionário coincide com o objetivo de reconstrução do Brasil professado por Lula. Lamentavelmente o PAC sofre entraves por parte de parlamentares da Câmara e do Senado, que não visam contribuir com o país, mas com eles próprios, seus partidos, seus apoiadores.

Sem um programa de obras, o sistema de infraestrutura despenca, e as empresas brasileiras se desmontam e desempregam. Não são apenas os engenheiros brasileiros que voltam ao tempo em que precisavam “inventar” outra função a fim de encontrar empregos. São também os técnicos de nível médio, os administrativos e financeiros, e ainda seus operários, desde os especializados aos meros serventes.

Sob a roda do desemprego, nos anos negros da Lava Jato, as empresas de engenharia foram esmagadas, e seu setor mais atuante passou a ser o de Recursos Humanos, para homologar indesejadas e desgraçadas rescisões contratuais, começando a faltar dinheiro até para isso. Patrões e empregados trabalhando para o desemprego.

Em síntese, há que se lamentar a degradação de empresas brasileiras tecnicamente capazes, com o país abrindo as portas para empresas estrangeiras, como se estas fossem vestais imaculadas, e não praticassem os mesmos delitos de que as nacionais eram acusadas de praticar.

A “Conspiração Lava Jato” veio com o expresso propósito de liquidar as empresas brasileiras competentes. O combate à corrupção é essencial, e deve ser feito, mas não pode ser usado como instrumento para provocar a estagnação de empresas notáveis, algumas que já vinham, com sucesso, prestando serviços no exterior. Não se pretende aqui absolver de culpa pessoas comprovadamente ilegais, mas impedir a destruição total de empresas, preservando-as ao máximo, sem gerar, como ocorreu, o desemprego catastrófico de profissionais probos e competentes e da mão de obra dita “não especializada”, que se viu sem seu pão de cada dia e sem casa para morar. É como condenar os filhos por crimes comprovadamente dos pais.

Nós, brasileiros, aguardamos a punição dos ardilosos próceres de um golpe híbrido praticado contra uma presidenta honesta, dos mentores e executores de um projeto de desmoralização da política brasileira, dos condutores do lawfare urdido por essa Conspiração descrita e explicada em detalhe na obra com que o jornalista Nassif presenteia a História política do Brasil.

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