Apesar de terem maior escolaridade que os homens, elas ocupam funções de salários mais baixo, mesmo em profissões de nível superior
Reportagem do jornal Valor Econômico desta quarta-feira (08/03), Dia Internacional da Mulher, revela que as mulheres ainda são muito discriminadas no mercado de trabalho, mesmo apresentando escolaridade média mais alta do que os homens. Segundo a publicação, elas ocupam a maioria das vagas de nível superior que vêm sendo criadas, mas são preferidas ainda para funções de menor remuneração, como o magistério. Os postos mais bem pagos, ligados às profissões chamadas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), ainda são dominadas pelos sexo masculino.
A matéria cita dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que revelam que em 2022 foram 129,2 mil postos gerados para mulheres com ensino superior (completo ou não), ante pouco menos de 67,9 mil para homens. Os dados mostram que as profissionais com maior escolaridade têm maior chance de colocação, mas isso não significa igualdade de oportunidades. Elas são mais aceitas em carreiras ligadas ao magistério, como auxiliar de desenvolvimento infantil, orientadora educacional e professora de ensino fundamental, ou ao cuidado, como enfermeira e analista de recursos humanos, que geralmente pagam menores salários.
“O mercado tem demandado pessoas com nível de escolaridade mais alto e vários dados mostram que, em média, as mulheres são mais educadas do que os homens. Elas são maioria entre mestrandos, doutorandos, mas, quando observamos em quais áreas, são naquelas que não remuneram tão bem”, afirmou à reportagem Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).
Como as funções acabam sendo ocupadas de acordo com o gênero, os homens nessa separação são os preferidos para áreas de analistas de desenvolvimento de sistemas, negócios e pesquisa de mercado, por exemplo.
“Às vezes, mulheres acabam optando já na graduação por cursos que, depois, vão oferecer maior flexibilidade de horas — e que pagam menos —, por causa dos afazeres domésticos e de cuidado que elas vão precisar acumular”, comentou Lorena Hakak, professora da Universidade Federal do ABC e presidente da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (GeFam).
Mesmo no século XXI, observa-se que ainda há as ditas “profissões de mulher”, ligadas às humanidades, e “profissões de homem”, que são reunidas na sigla STEM. O Censo da Educação Superior de 2021 mostra que 77,9% dos concluintes de graduação em educação eram mulheres, ante 22,1% de homens. Já em computação e tecnologias da informação e comunicação (TIC), eram 85,2% homens para 14,8% mulheres.
“A convergência de salários entre mulheres e homens tem ocorrido quando elas escolhem profissões mais ‘parecidas’ com as deles. Vemos isso em economia, medicina. Mas observamos que, mesmo em uma mesma ocupação, há diferenças”, declarou à reportagem Cecília Machado, economista-chefe do Bocom BBM e professora da Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE).