‘Defendemos a presença do Estado como indutor do desenvolvimento e a valorização dos engenheiros como protagonistas da transformação produtiva e social’

Evento do Clube de Engenharia (Foto: Via ABI)
Do Francis Bogossian, com a colaboração de Carlos Ferreira
Eram os 73 anos da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense – UFF, patrimônio da formação tecnológica do país, por onde passaram profissionais que ajudaram a construir o Brasil — pontes, usinas, cidades, universidades e, também, instituições públicas e privadas que planejam o nosso futuro.
A Engenharia sempre foi — e continua a ser — uma força estruturante da sociedade moderna. Ela transforma ciência em desenvolvimento, tecnologia em soberania, ideias em soluções concretas, que melhoram a vida das pessoas.
Como digo, como máxima:
“Sem Engenharia não há Desenvolvimento e sem Desenvolvimento não há Engenharia”
Se olharmos para a história, veremos que o Brasil avançou quando valorizou sua engenharia. Cada estrada, hidrelétrica, obra de infraestrutura, tecnologia aplicada à agricultura ou à indústria têm a marca do engenheiro brasileiro.
Mas, infelizmente, nas últimas décadas, essa consciência decresceu no país, onde vivemos um preocupante paradoxo: o Brasil poderá enfrentar, em poucos anos, um déficit de até um milhão de engenheiros, segundo levantamento recente publicado pelo jornal O Tempo. Simultâneo a isso, muitas obras estruturantes estão paradas e inúmeros projetos estratégicos aguardam profissionais qualificados.
Não estamos diante de uma simples escassez de mão de obra, estamos diante de uma crise estrutural, que exige repensar a formação, a valorização e o papel da Engenharia no projeto nacional.
O Clube de Engenharia do Brasil, instituição centenária que tenho a honra de presidir, nasceu para enfrentar exatamente esses desafios. Desde sua fundação, há 145 anos, o Clube defende um princípio, que permanece atual: sem engenharia, não há soberania.
Um país que não domina sua ciência, sua tecnologia e a capacidade de construir com autonomia é um país dependente. Por isso, temos atuado permanentemente em defesa de políticas públicas, que valorizem a formação técnica, a pesquisa, a inovação e a reindustrialização com base tecnológica.
Como ressaltei em recente artigo aqui, no Brasil 247, o Clube de Engenharia do Brasil tem alertado que a soberania científica e tecnológica é condição essencial de soberania nacional.
Defendemos a presença do Estado como indutor do desenvolvimento e a valorização da engenheira e do engenheiro como protagonistas da transformação produtiva e social.
Mas qual é, afinal, o perfil dessa nova engenheira e desse novo engenheiro, que o futuro exige? O documento elaborado pela Escola de Engenharia da UFF, que nos serve de referência neste artigo, apresenta uma reflexão importante.
Hoje, a formação não pode mais se limitar à transmissão de conteúdos técnicos. Precisamos de uma formação por competências, que una a técnica ao humanismo, bem como o saber ao fazer e o conhecimento à responsabilidade social.
A engenheira e o engenheiro dos novos tempos devem ser profissionais completos, com sólida base científica e tecnológica, uma visão sistêmica, capacidade de inovação, espírito crítico e consciência ética e ambiental.
Devem saber dialogar com outras áreas do conhecimento, compreender o impacto social de suas decisões e agir com empatia e responsabilidade.
Em suma, o engenheiro do futuro é um agente de transformação — alguém capaz de resolver problemas complexos, integrar ciência e tecnologia, e contribuir para uma sociedade mais justa e sustentável.
Essa formação precisa ser contínua, prática e integrada com o setor produtivo. Não basta o diploma. É essencial que o profissional se mantenha em constante atualização, acompanhando as transformações tecnológicas que ocorrem em ritmo acelerado. Para isso, é fundamental que universidades e empresas atuem juntas, desenvolvendo programas de estágio, extensão e inovação, que tornem o aprendizado mais conectado à realidade.
Nesse sentido, o Clube de Engenharia do Brasil, está em processo de implantação de um Centro (“Hub”) de estágios e empregos, em associação com empresas, entidades de ensino e de classe e potenciais empregadores;
Assim, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais da Engenharia são um avanço. Elas propõem currículos mais flexíveis, com ênfase em competências, em experiências práticas e em formação ética e social.
Para que a formação acompanhe as transformações do mundo contemporâneo precisamos ir além: é hora de modernizar laboratórios, renovar estruturas e investir fortemente em pesquisa e desenvolvimento.
Vivemos também um desafio geracional. Hoje, convivem no ambiente de trabalho várias gerações — de baby boomers a nativos digitais — cada uma com valores, expectativas e formas de se relacionar com a tecnologia muito distintas.
É papel das escolas e das instituições profissionais criar pontes entre essas gerações, valorizando a experiência dos mais antigos e o olhar inovador dos jovens. A convivência entre gerações pode — e deve — ser uma fonte de aprendizado mútuo e de renovação constante.
Nesse contexto de transição, surge uma oportunidade histórica: o programa Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo federal com a pretensão de reconstruir nossa base industrial e tecnológica.
O Nova Indústria propõe uma reindustrialização sustentável, digital e voltada para seis grandes missões estratégicas: a modernização da agroindústria; o fortalecimento do complexo da saúde; o desenvolvimento urbano sustentável; a adoção plena da Indústria 4.0; a transição energética e a bioeconomia; e, por fim, a defesa e a soberania nacional.
Em todas essas missões, a Engenharia é o eixo central.
Não há transição energética sem engenheiros.
Não há cidades inteligentes sem engenheiros.
Não há soberania nacional sem engenheiros.
O país precisa de profissionais capazes de pensar, projetar e implementar soluções tecnológicas, que unam inovação, eficiência e responsabilidade ambiental.
A Engenharia brasileira precisa recuperar seu prestígio, sua centralidade e sua confiança.
Precisamos reacender nos jovens aquele brio das gerações anteriores de que ser engenheiro é participar da construção do futuro do país, de que é uma profissão de propósito, impacto e compromisso com a sociedade.
O Clube de Engenharia do Brasil reafirma aqui o seu compromisso com três grandes eixos:
Primeiro, a valorização da engenharia e do profissional de engenharia, condição indispensável para qualquer projeto de desenvolvimento.
Segundo, a educação transformadora, desde o ensino básico, voltada para a prática, a inovação e o compromisso social.
E terceiro, a soberania tecnológica, que é o alicerce da autonomia e da dignidade de uma nação.
Investir em Engenharia é investir em desenvolvimento.
É investir em cidadania.
É investir em soberania.
Encerro este artigo com uma convicção, que tem guiado o Clube de Engenharia do Brasil, desde sua fundação:
“Nenhum país se desenvolve sem engenheiros. E nenhum engenheiro se realiza plenamente sem o compromisso com o desenvolvimento de seu país.”
Artigo originalmente publicado no portal Brasil 247



