Introdução
Além de serem uma alternativa para plásticos convencionais, as embalagens podem se decompor em seis meses
Pesquisadores do Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (IMA), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram um projeto que oferece plástico biodegradável como uma opção sustentável e viável economicamente para o mercado. O projeto “Desenvolvimento de sistemas poliméricos nanoestruturados aplicados a embalagens alimentícias ativas e de revestimento para nutracêuticos” tem como foco a substituição de embalagens plásticas descartáveis por biodegradáveis, feitas a partir de alimentos como alho, pimenta, chia e linhaça.
Liderada por Maria Inês Bruno Tavares, professora do IMA/UFRJ, a pesquisa tem como diferencial o tempo de decomposição do bioplástico. Enquanto o plástico convencional precisa de 400 anos para se decompor no ambiente, o bioplástico se desfaz em 180 dias: “Eles podem se decompor em até 90% de sua massa em um período de 180 dias. Mesmo em condições de descarte inadequado, no solo ou na água, eles são rapidamente consumidos por microrganismos”, destaca Maria Inês. O tempo rápido de decomposição faz com que não haja resíduos de microplásticos, contribuindo para um ciclo de vida mais sustentável e seguro para o meio ambiente.
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Decomposição do bioplástico e o seu retorno ao ambiente
Segundo Maria Inês, a preocupação com o meio ambiente levou a pesquisa a buscar alternativas sustentáveis em relação à substituição de embalagens descartáveis, especialmente no setor alimentício, por polímeros biodegradáveis. A professora destaca que “a eficiência desses materiais pode ser aprimorada com a adição de bioativos antioxidantes, provenientes de alimentos específicos, como os temperos. Isso proporciona mais proteção ao alimento e prolonga a vida útil da embalagem”.
Além disso, os bioplásticos produzidos a partir de alimentos geram uma retroalimentação na cadeia. Como exemplo, podemos analisar os que são construídos a partir da semente de chia. Na sua decomposição, o restante dos pedaços gerados se transforma em fontes de alimento para os microrganismos encontrados no solo e na água. Assim, o bioplástico torna-se água e gás carbônico, o que contribui ainda mais para a sustentabilidade.
A líder do projeto ressalta que, ao longo da pesquisa, a equipe emprega metodologias que eliminam a necessidade de solventes nocivos. Por isso, utiliza-se elementos como a água e o álcool, o que resulta em uma produção mais limpa e com baixo consumo energético.
Aplicações em outras áreas e viabilidade de mercado
A nanotecnologia — estudo de manipulação da matéria em escala atômica e molecular — permite grande versatilidade de sua aplicação em outras áreas, além da alimentícia. Na saúde humana, pode gerar nutracêuticos, suplementos alimentares que, ao serem consumidos, podem ter efeitos terapêuticos ou preventivos para diversas condições de saúde, aponta Maria Inês. E também pode ser aplicada em plantações: “Pode auxiliar no crescimento de alimentos com menor chance de degradação do solo, não exigindo um tempo longo entre uma plantação e outra”, completa a pesquisadora.
Atualmente, a maior implicação das empresas em aderir ao bioplástico é o baixo custo do plástico convencional. Mas, no projeto dos pesquisadores, os custos devem ser equivalentes ou até menores: “Além do impacto ambiental ser muito baixo, pois extraímos os bioativos diretamente, sem nenhum tipo de solvente, ou os extraímos com arraste de vapor d’água, o custo para obter o bioplástico é mínimo”, explica Maria Inês.
Assim, para a viabilidade no mercado, é necessário que as empresas estejam disponíveis a aderir a novas ações sustentáveis. Hoje, a pesquisa encontra-se em sigilo de patente, devido à natureza inovadora dos materiais e processos envolvidos, assegurando a proteção intelectual do desenvolvimento até a sua completa maturação e possível entrada no mercado.