Poluição por plástico: um desafio global

Por Laerte Scanavacca Juniorpesquisador da Embrapa Meio Ambiente

O tema do Dia Mundial do Meio Ambiente em 2025 é “Acabar com a Poluição Plástica”. Este tema visa chamar a atenção para o desafio global da gestão de resíduos plásticos e promover ações coletivas para reduzir a poluição plástica. 

O futuro da reciclagem plástica depende de inovação, políticas públicas eficazes e mudanças na sociedade. Investimentos em novas tecnologias e a participação ativa da população podem contribuir para um futuro mais sustentável. A reciclagem, aliada à redução do consumo e ao desenvolvimento de alternativas ecológicas, representa uma solução promissora para mitigar a poluição plástica global.

O plástico revolucionou o mundo moderno. Leve, resistente, barato e versátil, tornou-se indispensável em diversas indústrias. Entretanto, seu uso massivo e descartável levou a uma crise global: a poluição plástica. A duração do plástico, que pode ultrapassar 400 anos no ambiente, é uma das principais razões para sua acumulação nos ecossistemas.

A durabilidade que fez do plástico um material tão valioso é justamente o que o torna um poluente persistente. Fragmentando-se em micro e nanoplásticos, contamina solos, rios, oceanos e até o ar que respiramos. Seus impactos atingem ecossistemas, cadeias alimentares e a saúde humana. Estudos realizados em São Paulo encontraram microplásticos em cérebros humanos, que o órgão mais bem protegido do corpo humano, o que pode causar sérios problemas, principalmente nos cérebros em formação como o das crianças. Outros estudos mostram ingestão de plástico em diversas espécies de peixes da Amazônia, isto é, se o ser humano, que é a espécie que melhor pode ser proteger e a Amazônia, que é um dos ambientes mais selvagens e protegidos do mundo, já foram contaminados por plástico. Nenhum lugar ou espécie está livre desta poluição.

A produção global de plástico ultrapassa 400 milhões de toneladas anuais, das quais cerca de 40% são produtos descartáveis. Segundo estimativas recentes, apenas 9% de todo o plástico produzido são reciclados, 49% são destinados a aterros sanitários, 19% são incinerados e 22% são descartados de forma inadequada no meio ambiente. Esse cenário evidencia a urgência de mudanças estruturais na forma como produzimos, consumimos e descartamos o plástico.

A poluição plástica é um dos desafios ambientais mais críticos do século XXI. Desde sua popularização no século passado, o plástico revolucionou diversas indústrias, tornando-se essencial na vida moderna, impactando ecossistemas terrestres e aquáticos, a vida selvagem e, por extensão, a saúde humana. A onipresença dos plásticos na sociedade moderna, aliada à sua durabilidade e à gestão inadequada de resíduos, resultou em uma acumulação alarmante em todos os cantos do planeta. A reciclagem, embora não seja a solução única, representa uma ferramenta crucial no enfrentamento dessa crise, oferecendo uma rota para a circularidade e a redução do descarte.

Os impactos são vastos

  • Ecossistemas Marinhos: os oceanos são os maiores receptores de resíduos plásticos, com cerca de 11 milhões de toneladas entrando anualmente. Isso afeta a vida marinha através de emaranhamento, ingestão e contaminação por microplásticos, que se incorporam à cadeia alimentar. A maior parte deste lixo vem dos continentes, cerca de mil rios, 1% do total dos rios que desaguam nos mares, respondem por 80% da poluição dos oceanos. 
  • Solos e Água Doce: no ambiente terrestre, plásticos fragmentados e microplásticos podem alterar a estrutura do solo, afetar a microbiota e contaminar fontes de água doce, com implicações para a agricultura e a saúde humana. Os microplásticos estão sendo incorporados pelas plantas também. Estudos em hidroponia e ambientes naturais mostram que os microplásticos (1 μ de diâmetro) e nanoplástico (80 Nanômetros de diâmetro) são absorvidos e transportados para diversos órgãos das plantas. Do ponto de vista econômico, a poluição plástica gera custos com limpeza urbana, prejuízos ao turismo, pesca e agricultura. Socialmente, comunidades vulneráveis são as mais afetadas, sofrendo com inundações causadas por entupimento de redes pluviais e contaminação ambiental.
  • Saúde Humana: a exposição a aditivos químicos presentes em plásticos e a ingestão de microplásticos através da cadeia alimentar são preocupações crescentes para a saúde humana, embora os efeitos a longo prazo ainda estejam sob investigação. A principal causa da poluição plástica é o modelo de economia linear, baseado na lógica “extrair, produzir, descartar”. O incentivo ao consumo descartável, a baixa responsabilidade das empresas quanto ao pós-consumo e a infraestrutura precária de coleta e tratamento de resíduos agravam o problema.     

Tipos de Plásticos e Desafios na Reciclagem

Existem diversos tipos de plástico, cada um com características e dificuldades específicas para a reciclagem. Os polímeros mais comuns incluem:

– PET (Polietileno Tereftalato) – Usado em garrafas e embalagens; relativamente fácil de reciclar.
     
– PEAD (Polietileno de Alta Densidade) – Utilizado em frascos e embalagens mais rígidas.
     
– PVC (Policloreto de Vinila) – Comum em tubos e embalagens; difícil de reciclar devido aos aditivos.
     
– PP (Polipropileno) – Presente em tampas e plásticos automotivos; reciclável com limitações.     

Os principais desafios da reciclagem incluem a necessidade de infraestrutura adequada, a contaminação dos resíduos e a falta de incentivos econômicos para tornar o processo viável.

Reciclagem como Solução Estratégica

A reciclagem é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a poluição por plástico. Ela envolve a coleta, triagem, processamento e transformação de materiais plásticos usados em novos produtos. A reciclagem não só diminui a quantidade de resíduos plásticos que acabam em aterros sanitários ou no meio ambiente, mas também conserva recursos naturais e reduz as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de novos plásticos. Entretanto, sua eficácia é influenciada por uma série de fatores e desafios.

– Coleta e Separação: a baixa taxa de coleta seletiva e a complexidade na separação dos diferentes tipos de plásticos (PET, PEAD, PVC, PEBD, PP, PS etc.) que são incompatíveis entre si na reciclagem mecânica, são barreiras significativas. A contaminação por outros materiais também inviabiliza muitos lotes;     
– Baixa qualidade dos materiais recicláveis devido à contaminação;     
– Infraestrutura limitada para triagem e reaproveitamento;     
– Pouco incentivo à indústria recicladora.
     
– Conscientização e Educação: a conscientização pública sobre a importância da reciclagem e como participar efetivamente dos programas de reciclagem é crucial para o sucesso dessas iniciativas.
     
– Degradação do Material: cada ciclo de reciclagem mecânica pode degradar as propriedades do polímero, limitando o número de vezes que um plástico pode ser reciclado com alta qualidade.

– Viabilidade Econômica: o custo da coleta, separação e processamento pode tornar a reciclagem menos competitiva do que a produção de plástico virgem, especialmente quando os preços do petróleo são baixos.

– Infraestrutura e Tecnologia: muitos países carecem da infraestrutura e tecnologia adequadas para uma reciclagem eficiente e em grande escala.

Existem basicamente três abordagens principais para a reciclagem de plásticos:     

1. Reciclagem Mecânica: é a forma mais comum e estabelecida. Envolve a coleta, separação, limpeza, trituração e derretimento dos plásticos para formar novos grânulos, que são então moldados em novos produtos. É eficaz para plásticos pós-consumo e pós-industriais, mas exige boa separação e limpeza para evitar contaminação.
     
2. Reciclagem Química (ou Avançada): transforma os polímeros plásticos em seus monômeros originais ou em outras substâncias químicas úteis através de processos como pirólise, gaseificação ou quimiólise. Isso permite a reciclagem de plásticos misturados ou contaminados que seriam difíceis de reciclar mecanicamente, produzindo matérias-primas de maior qualidade, comparáveis ao plástico virgem.

3. Reciclagem Energética: refere-se à incineração de resíduos plásticos para gerar energia (plástico 35 a 46 MJ/kg e carvão 25 a 30 MJ/kg). Embora reduza o volume de lixo e possa produzir eletricidade ou calor, não é considerada reciclagem no sentido estrito, pois não recupera o material para novos produtos e pode gerar emissões atmosféricas se não for controlada adequadamente.   

Estratégias para Impulsionar a Reciclagem e Mitigar a Poluição

Para que a reciclagem atinja seu potencial máximo e contribua efetivamente para a redução da poluição plástica, são necessárias abordagens multifacetadas:

1. Aprimoramento da Coleta Seletiva: investimento em programas de coleta seletiva eficientes, acessíveis e com ampla cobertura, juntamente com campanhas de conscientização para engajar a população.
     
2. Inovação em Reciclagem: pesquisa e desenvolvimento em novas tecnologias de reciclagem química que possam lidar com plásticos complexos, misturas e materiais contaminados, transformando-os em produtos de alto valor.
     
3. Design para Reciclagem (Eco-design): fomentar a indústria para desenvolver produtos plásticos que sejam mais fáceis de reciclar, utilizando materiais únicos, menos aditivos e designs que facilitem a desmontagem e separação.
     
4. Responsabilidade Estendida do Produtor (REP): implementação e fiscalização de políticas que responsabilizam os fabricantes pelo ciclo de vida completo de seus produtos, incluindo a coleta e reciclagem pós-consumo.
     
5. Incentivos Econômicos: criação de mercados para produtos reciclados através de incentivos fiscais, subsídios ou mandatos de conteúdo reciclado em novos produtos.
     
6. Redução e Reuso: a reciclagem é parte da solução, mas as estratégias de redução do consumo de plástico descartável e o reuso de embalagens e produtos são ainda mais prioritárias, seguindo a hierarquia de resíduos (Reduzir, Reutilizar, Reciclar).
     
7. Conscientização e Educação Ambiental: educar consumidores, empresas e formuladores de políticas sobre a importância da redução, reuso e reciclagem, bem como sobre os impactos da poluição plástica.
     
8. Políticas Públicas e Iniciativas Globais: governos e organizações internacionais têm adotado medidas para enfrentar a crise do plástico. Exemplos incluem acordos internacionais de proibição de plásticos descartáveis entre outros.     

O Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo com cerca de um milhão de toneladas por ano e recicla apenas 24,5%. De 2012 e 2021, a importação de resíduos sólidos para o Brasil saltou de 4,12 mil toneladas para 8,62 mil toneladas, e em 2024 chegou a 44 mil toneladas, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O principal exportador são os EUA e o destino é o Rio Grande do Sul, em função da taxa zero de importação de lixos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, incluindo os plásticos, promovendo a não geração, redução, reutilização, reciclagem e disposição final adequada de resíduos. No caso específico do plástico, a lei prevê a obrigatoriedade da logística reversa para embalagens, exigindo que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes implementem sistemas para o retorno e destinação ambientalmente adequada dos materiais pós-consumo. Essa política prioriza a reciclagem e inclui diretrizes para a inclusão social de catadores e o fortalecimento de cooperativas, reconhecendo seu papel essencial na cadeia de recuperação dos resíduos sólidos urbanos.

Embrapa Meio Ambiente

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