A importância das engenharias no estabelecimento da indústria naval forte no país com a navegação de passageiros em rotas regulares pela costa, e entre o Brasil e os países do continente africano, foi defendida no Clube de Engenharia do Brasil pelo professor Dagoberto da Fonseca, coordenador do projeto “A Grande Travessia”. Ele foi recebido na sede do clube nesta segunda-feira pelo presidente Francis Bogossian; a diretora administrativa, Tatiana Ferreira, o conselheiro, Carlos Ferreira e o gerente de comunicação, Ivan Accioly. O projeto realizará em 2026 uma viagem com duas mil pessoas no sentido inverso ao dos navios que trouxeram negros escravizados para o país.
Dagoberto enfatizou como um dos fatores de soberania do país a real ocupação do Atlântico Sul pelos países por ele formado. “Hoje temos apenas empresas dos Estados Unidos e Europa na exploração, ainda que tímida, dessa imensa rota, e o continente africano não é destino. As engenharias, seja naval, oceânica, portuária, enfim diferentes especializações estão envolvidas nesse processo. Seja na construção de embarcações, nas estruturas navais, portuárias, nos equipamentos, motores, comunicações etc. É um mundo de oportunidades. Por isso, fiz questão de vir ao clube buscar esta parceria institucional.”
Francis Bogossian assumiu o compromisso de levar a demanda de parceira às reuniões da diretoria e do conselho diretor. Ele destacou o potencial do projeto e ressaltou a relação de longo tempo, em diferentes oportunidades, com Angola. Particularmente, com as possibilidades de transferência mútua de tecnologia e implantação de plantas industriais em cada país. O conselheiro Carlos Ferreira sugeriu um modelo híbrido para realização de viagens em navios que compartilhem transporte de passageiros e cargas, de forma viabilizar financeiramente rotas regulares.
O projeto ‘A Grande Travessia’ é liderado pela Unesp, de onde o professor Dagoberto é docente e tem como princípio reparação à população afro-brasileira. Segundo Dagoberto é um projeto histórico, que tem como base o retorno o reencontro o reconhecimento e a reparação. Será um navio de cruzeiro, que partirá de Santos, em São Paulo, fará uma escala no Rio de Janeiro e outra em Salvador, na Bahia. A partir de lá cruza o Atlântico rumo a Luanda, capital de Angola. A viagem levará 21 dias, dos quais sete entre o Brasil e Angola. Uma semana com atividades em Luanda e o retorno ao Brasil em mais sete dias.
Um dos objetivos da viagem será reverenciar os mais de dois milhões de negros tirados de África e que morreram no trajeto, com seus corpos jogados ao mar. Sacerdotes de religiões de matriz africana farão rituais em homenagem a essas pessoas. A programação envolve atividades culturais em todo o período com cursos, palestras, oficinas, vivências. Cada uma das pessoas participantes compartilhará com as demais suas experiências. A previsão é de que a viagem ocorra entre os dias 6 e 26/07/2026. Serão 2000 passageiros de todo o país selecionados por meio dos próprios pares participantes da organização, editais públicos e indicações das entidades participantes e apoiadoras do projeto.
Na última reunião ministerial, o presidente Lula destacou a importância do projeto, que conta, entre outros com apoio do Ministério da Igualdade Racial.