Indicados políticos não possuem título de doutorado, nível acadêmico compatível com o cargo de comando da fundação de amparo à pesquisa do Estado do Rio
A decisão do governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, de exonerar o presidente da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), Jerson Lima Silva, está não só provocando protestos da comunidade científica como pode esbarrar nas regras de compliance da instituição. Pressionado por seu partido (PL) por mais cargos na estrutura governamental, o mandatário tenta nomear a atual presidente da Faetec, Caroline Alves da Costa, mas seu nome foi reprovado por parecer de seu próprio gabinete. É que a indicada não possui título de doutorado, o que não a credencia a ocupar um cargo de tamanha envergadura e importância acadêmica. O mesmo ocorre com outro candidato ao posto, Alexandre Valle, que foi derrotado nas eleições municipais de Itaguaí.
“Após análise detalhada da candidatura da Sra. Caroline Alves, conclui-se pela reprovação da mesma para o cargo de Presidente da FAPERJ, em virtude da ausência do título de Doutorado, que é requisito essencial para a função. Embora a Sra. Caroline tenha exercido a presidência da FAETEC, tal experiência, apesar de valiosa, não confere a habilitação necessária para atuar em uma fundação voltada ao fomento à pesquisa em nível superior. O ambiente acadêmico e as demandas específicas dessa área requerem formação avançada e aprofundada, que somente é alcançada por meio do doutorado”, diz o parecer, assinado pelo subsecretário Victor Travancas.
Caroline da Costa foi administradora e pedagoga das Naves do Conhecimento, projeto da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, bem como assessora de projetos das Secretarias Estaduais de Assistência Social e Direitos Humanos. Apesar de constar em seu currículo cursos de especialização, não possui o grau de doutoramento necessário para ocupar um cargo dessa magnitude e complexidade, como a presidência da FAPERJ.

O presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, enviou uma carta aberta ao governador, pedindo a reconsideração da decisão de exonerar Jerson Lima, tendo em vista seu brilhante trabalho e o respeito que o pesquisador tem junto à comunidade científica do estado.
“Tendo em conta ser do interesse de qualquer governante promover uma boa gestão pública, não encontramos razão de substituir um cientista renomado, professor titular da maior universidade pública do País, premiado nacionalmente, por um ex-candidato a prefeito de um município, sem qualquer experiência em seu currículo para um cargo técnico tão relevante, do segundo estado em produção científica do país “- diz Bogossian, na carta.
O vice-presidente do Clube, Fernando Peregrino, que já presidiu a FAPERJ, também alertou para o risco de nomear para o comando da instituição de fomento alguém sem as credenciais necessárias.
“A FAPERJ é o motor de uma das maiores virtudes do Rio de Janeiro, Estado que é o maior produtor de petróleo do País. Temos aqui uma grande concentração de atividades ligadas à Ciência, Tecnologia, Inovação e Engenharia. Se for entregue a um profissional sem currículo para o cargo, o Estado vai sofrer um desastre semelhante ao que Bolsonaro queria fazer com a Ciência e a Engenharia brasileira”, disse Peregrino.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) também protestaram contra a decisão, enviando carta ao governador. A notícia provocou indignação do Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Ensino do Estado do Rio de Janeiro (Friperj), que pediu a permanência de Jerson Lima no cargo.
“Dirigimos assim um apelo para que não faça da direção da FAPERJ um cargo de indicação partidária, e que mantenha a conduta que V. Exa. [Vossa Excelência] tem tido nos últimos 6 anos. Reiteramos que é nosso dever transmitir a V. Exa. a preocupação que ora assola a comunidade científica, tecnológica e de inovação fluminense, com mudanças que impactarão a trajetória de sucesso da Faperj. Pedimos então a V. Exa. que resguarde essa Fundação, à qual seu Estado e a ciência brasileira tanto devem”, alertaram a SBPC e a ABC.
Segundo informações da imprensa, a exoneração de Jerson Lima foi pelo secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Moraes, mas não foi publicada no Diário Oficial.