Ex-diretor do Inpe, engenheiro e físico tem como compromisso reajustar bolsas de pesquisa e garantir mais recursos para a ciência
O governo federal confirmou na última quarta-feira (17/01) o nome do engenheiro e físico Ricardo Galvão como novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele é professor titular aposentado do Instituto de Física da USP e ocupou cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até ser exonerado em agosto de 2019, após se contrapor às críticas do ex-presidente Jair Bolsonaro aos dados divulgados pela instituição sobre o desmatamento da Amazônia.
O CNPq é o principal órgão de fomento à ciência e é responsável por financiar bolsas de pesquisas de graduação e pós-graduação. Entre os principais desafios de sua gestão será justamente corrigir a defasagem desses pagamentos, congelados desde 2013.
“O orçamento atual foi definido ainda no governo Bolsonaro por conta da lei orçamentária anual. Esse orçamento é claramente insuficiente não só para as bolsas, mas também para os projetos de pesquisa. Durante a transição, fizemos um acordo no Congresso em que conseguimos resguardar parte da PEC para aumentar o orçamento do CNPq em 40%”, afirmou Galvão, em entrevista à TV Vanguarda.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, também se comprometeu com o aumento.
“Nós estamos fazendo este estudo junto com Camilo Santana, que é ministro da Educação, com uma perspectiva de fazer um reajuste das bolsas, que estão congeladas há nove anos”, afirmou a ministra em entrevista ao programa “Voz do Brasil”, da EBC. “Há uma determinação do presidente nesta direção. Vamos anunciar o montante e como se vai se dar esse aumento o mais breve possível”, acrescentou.
Na cerimônia em que anunciou o nome de Galvão para o cargo, a ministra também garantiu que haverá “recomposição integral” do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e o fim das restrições impostas pela MP 1.136/22. “Com a liberação integral dos fundos do FNDCT, principal instrumento público de financiamento da ciência, encerramos um longo período de descaso e desvalorização da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico do país”, discursou a ministra.
Ricardo Galvão é formado em Engenharia de Telecomunicações pela UFF e possui Doutorado em Física de Plasmas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Já ocupou os cargos de diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e de presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF).
Seu nome ganhou maior notoriedade após a polêmica com o ex-presidente Bolsonaro, que classificou os resultados do monitoramento via satélite do desmatamento da Amazônia pelo Inpe como “mentirosos”. Sua bravura ao não se dobrar diante das pressões políticas, lhe custou a exoneração do cargo de diretor. No entanto, recebeu grande apoio da comunidade científica e da sociedade civil em geral. Ele foi escolhido em seguida como uma das dez pessoas mais importantes para a ciência pela revista “Nature”, por seu posicionamento. Em 2021, Galvão recebeu o Prêmio pela Liberdade e Responsabilidade Científica, concedido pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.
“Há pouco mais de um mês derrotamos a truculência negacionista em nosso país. Esta cerimônia e a indicação da professora Mercedes Bustamante para a CAPES são a comprovação de que nossa ciência sobreviveu ao cataclisma político promovido por um governo negacionista, que empreendeu um verdadeiro desmonte das políticas públicas em diversas áreas”, declarou Galvão na cerimônia.
Foto: Roberto Hilário ACS-CNPq