Puro, com pão, com arroz, com farinha ou até com macarrão, o feijão está na mesa das famílias brasileiras sendo parte essencial da alimentação e uma das marcas da nossa cultura. Não é por acaso que o Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo, com cerca de 3 milhões de toneladas ao ano, mas, o que é surpreendente, é que cerca de 300 mil toneladas – 10% da produção total – são desperdiçadas anualmente, seja porque os grãos estão quebrados ou por terem tamanhos irregulares, inviabilizando seu uso pela indústria.
O que seria um desperdício vira uma grande oportunidade, especialmente quando novas tecnologias possibilitam transformar cada grão de feijão que seria desperdiçado em fonte de alimentação e inovação.

É exatamente isso que faz a Bean Possible, startup residente na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ. A empresa, spin-off do Laboratório de Engenharia de Sistemas Biológicos da Escola de Química/UFRJ, desenvolveu um processo pioneiro para aproveitar os grãos de feijão descartados ou de baixo valor comercial e transformá-los em ingredientes alimentares sustentáveis e de base vegetal, com aplicações que vão de análogos de carne e lácteos até produtos de confeitaria, padaria e suplementos. Tudo mantendo o valor nutricional do grão inteiro.
Segundo Gabrielle Gautério, cofundadora e CEO, “a tecnologia desenvolvida pela Bean Possible permite aproveitar essa matéria-prima subutilizada, produzindo ingredientes nacionais de alto valor agregado para diversos alimentos e bebidas, substituindo insumos importados, reduzindo custos e simplificando a logística. Além disso, traz vantagens ambientais ao reduzir o desperdício e a emissão de gases de efeito estufa”.
A Bean Possible fornece hoje três ingredientes principais para empresas do setor de alimentos e bebidas: proteína concentrada, fibra insolúvel e amido de feijão. Cada ingrediente tem funções específicas:
- Fibra insolúvel: melhora textura, mantém umidade, aumenta saciedade e pode favorecer a saúde intestinal;
- Proteína concentrada: eleva o teor proteico e de aminoácidos, contribuindo também para estrutura e textura do produto, com capacidade de formar emulsões, espumas e géis;
- Amido: atua como agente de liga e volume, gelificante e espessante nas formulações vegetais, além de fornecer energia de liberação gradual.
Além de sustentáveis, esses insumos têm funcionalidades que permitem sua incorporação em diferentes formulações, como hambúrgueres, linguiças e almôndegas veganas; iogurtes e queijos vegetais; biscoitos, pães, bolos, sorvetes e uma infinidade de outros produtos.
O feijão carioca foi escolhido como base por ser o mais cultivado no Brasil e ter excelente qualidade nutricional. “Durante o processo produtivo, os grãos são transformados em farinha e recebem a aplicação da tecnologia desenvolvida, que separa seus componentes principais para obtenção dos ingredientes”, explica Ailton Lemes, também cofundador da Bean Possible. Ao unir tradição e inovação, a Bean Possible mostra que é possível gerar valor a partir do que seria descartado, abrindo caminho para uma alimentação mais sustentável, diversificada e de base vegetal.