Cabo submarino comunicará Brasil e Europa sem passar pelos EUA

Apesar de caminharmos cada vez mais para um futuro de conexões wireless, ou seja, sem cabos, a infraestrutura básica que permite a Internet funcionar ainda é principalmente física. Uma rede de aproximadamente 300 cabos submarinos, que remonta às antigas redes telegráficas do século 19, é responsável por permitir o tráfego pesado de cerca de 99% de todas as comunicações transoceânicas — incluindo dados de Internet, ligações telefônicas e mensagens de texto. Essa rede consegue ser mais rápida que transmissões via satélite, e é formada por cabos de fibra ótica de alta resistência com diâmetro maior que a palma da mão.

Uma questão ainda pouco discutida em termos de políticas públicas é justamente a importância de manter essa rede, em sua maioria de propriedade privada, segura e confiável. "Em telecomunicações, a busca de sigilo e de contingenciamento da informação são tarefas incessantes a que engenheiros e analistas se debruçam. A primeira para garantir a integridade e privacidade do conteúdo transmitido, e a segunda para estabelecer diferentes caminhos que possam ser utilizados na eventualidade de interrupção de um deles", afirma Márcio Patusco, conselheiro e Diretor Técnico do Clube de Engenharia.

Patusco lembra também que existe relevante concentração na disposição desses cabos. No caso do Brasil, por exemplo, todas as comunicações entre o país e a Europa passam antes por cabos nos EUA. O incômodo geopolítico dessa situação se agravou em 2013, quando surgiram as revelações de Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA e da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) de que o governo americano não só tem uma política sistemática de vigilância massiva a partir de dados da Internet contra seus cidadãos, como também realizava as mesmas práticas para espionar governos, com destaque para o Brasil. Pesa na questão que nosso único cabo submarino para a Europa, o Atlantis 2, tem capacidade pequena (cerca de 20Gbits por segundo) e está saturado por chamadas telefônicas entre os dois continentes.

"A solução óbvia, a implantação de um novo cabo submarino em direção à Europa, começou a ser cogitada pela Telebras em 2013, e agora está em processo de instalação. Trata-se de um novo cabo submarino, com capacidade de 72 Terabits por segundo — cerca de 4 mil vezes maior que o atual, formado por 4 pares de fibras óticas e que ligará Praia Grande, no litoral paulista, a Fortaleza, Cabo Verde, Ilhas Canárias, Ilha da Madeira e Sines, no litoral português", explica Patusco.

O novo cabo, denominado Eulalink (Europe Latin America Link), custará cerca de 200 milhões de dólares e é uma joint venture entre a Telebras, estatal brasileira, com 35% de participação, e a Ellalink, empresa espanhola que terá 65% da participação. A estimativa é que as atividades com o cabo sejam iniciadas em 2018 ou 2019, permitindo maior rapidez e economia com as conexões à Europa — inclusive por ser "neutro", ou seja, disponível para qualquer operador de telecomunicações. Ao todo serão mais de 10 mil quilômetros de cabos atravessando o leito do Oceano Atlântico.

"Felizmente, no caso do Eulalink, o atual governo brasileiro não desfigurou seu projeto inicial, tal como ocorreu com o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC)", avalia Patusco. Para o engenheiro, o projeto poderá trazer maior controle estratégico do Brasil sobre o fluxo de dados, já que a concentração de cabos nos EUA torna mais fácil que o conteúdo das comunicações possa vir a ser espionado.

Com informações de Nexo Jornal e El País Brasil.

 

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo