Os fluxos do petróleo no mundo são geridos, essencialmente, pela geopolítica. Essa é a opinião de Paulo Metri, chefe da Divisão Técnica de Petróleo e Gás (DPG) do Clube de Engenharia e vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-RJ), que realizou, em 26 de março, a palestra “O petróleo no mundo”.

Metri defende que tal distribuição das reservas e de seu consumo e produção são fundamentais para a geopolítica. Existe a “maldição dos desenvolvidos”, segundo a qual os países desenvolvidos consomem muito petróleo e possuem pouco no seu território, com exceção dos Estados Unidos. Já alguns dos subdesenvolvidos têm consumo menor e o recurso em abundância. “Então há uma forte pressão para os subdesenvolvidos exportarem para os desenvolvidos, e dessa forma acontece toda sorte desorganização social nos subdesenvolvidos e induz também a criação de cartel”, afirmou.

Para o engenheiro, não é possível considerar o petróleo como uma commodity.O recurso natural, graças à sua imprescindibilidade, induz ações geopolíticas que têm grande influência no desenvolvimento dos países e em lutas pelo poder naqueles com grandes reservas. Alguns dados são fundamentais para embasar o tema, por exemplo: em 2016 os Estados Unidos eram responsáveis pelo consumo de cerca de 17% do petróleo no mundo. Os países do Oriente Médio somaram 34,5%.Em reserva de petróleo, em 2013, a Venezuela tinha a maior quantidade (18% das reservas mundiais), estando logo atrás a Arábia Saudita, com 16%. Já as reservas de gás natural, em 2013, 13% estavam localizadas no território russo.

O petróleo no cenário internacional

Segundo ele, em acordo firmado entre EUA e Arábia Saudita em 1943 o preço do petróleo exportado pelo país do Oriente Médio deve estar sempre em comum acordo com os interesses americanos. Em contrapartida, a Arábia Saudita e seus aliados ganharam proteção em relação a Israel. Na década de 80, este acordo foi utilizado para abaixar drasticamente o preço do barril, entrando em concorrência desleal com a União Soviética, que tinha na exportação de petróleo e gás sua principal fonte de divisas. O petróleo chegou a cair de cerca de 60 dólares por barril para 13 dólares. Desse modo a URSS passou a não ter renda para comprar produtos de sua necessidade de outros países. Paulo Metri comentou: “Mais uma vez prova-se que o petróleo é fonte de poder, de modo que a geopolítica do petróleo explica até as mudanças de posicionamento em países. Não é o mercado, é a geopolítica”.

A Doutrina Carter, que guiou e guia a política externa dos EUA desde os anos 80, define que um ataque de qualquer força estrangeira para ter controle do Golfo Pérsico, região rica em petróleo e gás naturalo, seria visto como um assalto aos Estados Unidos e reprimido por todos os meios necessários, inclusive força militar.

Paulo Metri comentou o desenvolvimento da produção de petróleo no Brasil, destacando que, no início da exploração, o monopólio estatal pela Petrobras foi fundamental. A presença potencial do recurso no mar tornava o Brasil menos atrativo para as empresas estrangeiras. Só uma empresa do Estado, que não seguia a lógica do mercado, mas o interesse da sociedade, poderia investir no mar no Brasil na década de 1970. Com planejamento, o setor cresceu. A exploração no mar foi o pontapé inicial para a autossuficiência alcançada em 2006.  Cerca de 95% das reservas petrolíferas brasileiras estão offshore e o comércio exterior do país é 90% feito por mar.

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