Evento conta com a participação do ex-presidente do Clube de Engenharia Pedro Celestino, que defende a via do desenvolvimento pela ciência
O novo cenário geopolítico global exige do país uma drástica reformulação, mas as características nacionais tendem a ser favoráveis ao Brasil nesse novo momento vivido pelo mundo. A conclusão pode ser tirada do último evento Encontros com Tecnologia, que teve em setembro como convidado o ex-presidente do Clube de Engenharia Pedro Celestino. Ele encarou o desafio de abordar questões relacionadas ao desenvolvimento científico e econômico brasileiro no momento crucial das comemorações do Bicentenário da Independência e mostrou que não há saída sem a conquista da soberania plena.
O título da palestra já lançou aos participantes a seguinte indagação: “Engenharia e Tecnologia: independência ou morte para o Brasil?”. A resposta à pergunta é complexa, mas Pedro Celestino reúne grande experiência nessa área e apresentou seu ponto de vista sobre os rumos que o país deve tomar com muita clareza e contundência. A começar, seu diagnóstico apresenta o problema de o Brasil ter conseguido construir centros de excelência em pesquisa, mas ter optado por uma certa dispersão nos seus programas de pós-graduação.
Segundo ele, o Brasil conseguiria melhor retorno de seus investimentos na área se apostasse numa maior integração entre os grupos e concentrasse seus esforços nos programas de maior potencial. A proposta vai ao encontro da estratégia já executada pela China, país asiático que emerge como uma nova potência econômica, disputando também com os Estados Unidos a proeminência na corrida científica e tecnológica. Sua ascensão, bem como de outros países emergentes, tenderia a favorecer um cenário de multipolaridade no mundo, o que obrigaria também o Brasil a se reformular para uma nova forma de inserção internacional.
“Os Estados Unidos trabalham com conceito de mestrado e doutorado espalhados pelo território. Eles têm alguns centros de excelência, como MIT, Harvard, Stanford, mas de qualquer jeito é um modelo espalhado e muito especializado. Já a China concentra os cursos de mestrado e doutorado em apenas grandes quatro grandes universidades, formando centenas de milhares de profissionais de alta capacitação. Na minha visão, nós pulverizamos recursos de uma forma atabalhoada. Gastamos muito e gastamos mal”, explicou Celestino.
Apesar das dificuldades econômicas pelas quais passam o Brasil, que inclusive vem vivenciando cortes no orçamento da ciência, há enormes potencialidades que o país pode aproveitar, na visão do palestrante. Além de já ter alcançado reconhecido desenvolvimento nas áreas de exploração de petróleo em águas profundas, da biotecnologia através da Embrapa e da aviação, o país possui um dos maiores mercados consumidores do mundo e abundância em recursos naturais.
“O Brasil tem um papel privilegiado. Tem uma economia muito forte e uma presença muito forte na América do Sul. Esse papel deve aumentar nos próximos anos e isso significa que nós podemos ser um centro produtor de tecnologia para consumo no nosso próprio mercado e para de difusão no seu entorno estratégico, especialmente na América do Sul. São nichos de desenvolvimento de alta tecnologia, que em qualquer projeto nacional de desenvolvimento têm que ser levados em conta”, defendeu Celestino.
Como nas edições anteriores, o Encontros foi uma oportunidade para o debate e o networking temático. A conselheira vitalícia do Clube Fátima Sobral Fernandes perguntou ao palestrante como a conciliar a necessidade de concentração de esforços em programas de ponta com o desafio de desenvolver o país como um todo. O presidente do Clube, Márcio Girão, também participou do evento, ressaltando a necessidade de maior integração dos diferentes centros de pesquisa e de um mapeamento mais aprofundado sobre suas reais potencialidades. Entre os participantes, foram levantados questionamentos sobre o problema da emigração de jovens pesquisadores para outros países, principalmente desenvolvidos.
O palestrante reforçou que a estratégia de investimento em centros de excelência não impede uma ampla distribuição de cursos de graduação. Também ressaltou que após a realização do mestrado e do doutorado, os profissionais podem retornar a seus estados, contribuindo com avanços locais.
Assista à íntegra do evento: