País vai apresentar ao mundo solução sustentável para produção de alimentos que recupera o solo e contribui com descarbonização
A realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em novembro, em Belém do Pará, pode ser um importante impulso para a transformação do Brasil numa potência ambiental. Além de hospedar o evento e contribuir para a tomada de decisões importantes por parte dos países em benefício do planeta, o Brasil deve usá-la como vitrine para o mundo de suas iniciativas exitosas nesse campo. Uma das principais frentes nesse processo é a agricultura regenerativa, que vem apresentando um enorme potencial para a produção de alimentos, captura de carbono, e principalmente recuperação de áreas degradadas.

E não faltam áreas degradadas no território nacional, que por meio da utilização de técnicas corretas, poderiam passar a ser produtivas convivendo com áreas reflorestadas. Segundo um estudo realizado pela Embrapa, há aproximadamente 28 milhões de hectares de terras de pastagens que apresentam degradação severa ou intermediária no país, sem contar outras em processo inicial de deterioração. De acordo com a pesquisa, se todo esse espaço for destinado ao cultivo de grãos, representaria um aumento de 35% na área total plantada. A degradação é maior em estados como Mato Grosso (5,1 milhões de ha), Goiás (4,7 milhões de ha), Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de ha), Minas Gerais (4,0 milhões de ha) e o Pará (2,1 milhões de ha).
Não faltam experiências em pequena ou larga escala que se mostraram exitosas na recuperação dessas áreas, por meio da agricultura regenerativa. São técnicas que permitem a recuperação da saúde do solo, devolvendo-lhe a fertilidade, com manejo mais adequado, uso de matéria orgânica e plantio direto das sementes. Com o uso de compostagem ou outras formas de cobertura e do respeito à biodiversidade, a atividade perde a dependência dos fertilizantes químicos e agrotóxicos. Esse método também evita a erosão e garante uma maior umidade do solo. São características que também elevam a resiliência das áreas em face das mudanças climáticas, sendo que os sistemas agroflorestais (SAFs) constituem o principal método de recuperação de solos em regiões tropicais.
Entre as iniciativas que o Brasil vai apresentar na COP30, está o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), criado em 2023 pelo governo federal. Ele conta com o apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que já realizou estudos em vários estados sobre o potencial do projeto. No entanto, para deslanchar, são necessários recursos. Para atingir a meta de recuperação de 40 milhões de hectares em dez anos, é estimado que sejam aplicados US$ 120 bilhões (cerca de R$ 600 bilhões). A ideia é captar os recursos junto a investidores estrangeiros, com a intermediação do BNDES.

A Embrapa também se prepara para apresentar ao mundo durante a COP30 uma série de pesquisas e soluções tecnológicas que combatem a degradação do solo e potencializam a produção de alimentos. Entre elas estão os bioinsumos, os sistemas ILPF (Integração Lavoura Pecuária e Floresta), a fixação biológica do nitrogênio (FBN e a agricultura de baixo carbono (ABC), entre outas.
Apesar de ainda depender muito do uso de fertilizantes químicos importados, o Brasil é atualmente um dos países que mais utiliza bioinsumos no mundo, entre bioestimulantes, biofertilizantes e biocontroles. Um estudo realizado pela McKinsey, em 2023, revelou 77% das propriedades rurais do país são da agricultura familiar, sendo que 55% utilizam algum tipo de controle biológico em suas propriedades, 29% adotaram os sistemas integrados de produção e 83% o sistema de plantio direto.

Outra iniciativa que será apresentada às delegações presentes na COP30 é a do Landscape Accelerator – Brazil (LAB), criada por entidades do setor privado com apoio técnico do Mapa. O programa faz parte da Action Agenda on Regenerative Landscape, lançada na COP28, em Dubai. A proposta busca cumprir os princípios da Declaração de Sistemas Alimentares, lançada no encontro, cujo objetivo é adequar os sistemas alimentares às mudanças climáticas, fazendo frente às desigualdades sociais.
A proposta parte de experiências e pesquisas realizadas no Cerrado brasileiro, dando capacidade de produção sustentável com destinação dos produtos ao mercado. A iniciativa identificou na região uma área de 32,3 milhões de hectares, que corresponde aproximadamente ao território da Noruega, onde práticas regenerativas podem ser implantadas. Desse total, 23,7 Mha são de pastagens que sofrem algum tipo de degradação. Os outros 8,6 Mha são lavouras que também podem reverter a deterioração e alcançar bom percentual de retorno econômico, desde que as técnicas adequadas sejam empregadas.