Por Ana Gabriela Oliveira do Carmo
A integração de esforços organizacionais, cuja composição inclui instituições governamentais, empresas, organizações da sociedade civil e entidades profissionais, em consonância com as aspirações e demandas sociais, inseridas em ambientes geográficos, com suas vulnerabilidades e vocações, colabora com o alcance das metas do Brasil rumo a um modelo de desenvolvimento sustentável. É necessário considerar o ambiente geográfico como fator de suporte à vida.
O século XXI passa por transições. As mudanças climáticas, demográficas e energéticas são exemplos de que passamos por um período especialmente importante para a mudança de paradigma, com vistas a resultados efetivamente promissores e perenes. A Engenharia insere-se como instrumento e ciência de desenvolvimento, através do uso de tecnologias limpas e energias renováveis; pesquisa, sistematização e análise de dados; beneficiamento de matérias-primas através de processos industriais, como formas de gerar impactos positivos e posicionar a economia do país em lugar de destaque no cenário mundial.
Especificamente no que tange ao ODS 7 – Energia Limpa e Acessível, o Brasil encontra-se em posição de destaque no cenário mundial, haja vista o alcance de 80,4% da oferta total de energia elétrica referentes a sua geração por fontes renováveis, segundo o Caderno ODS publicado pelo IPEA em 2019. A maior participação do setor concentra-se na geração de energia obtida por meio de fonte de energia hidráulica (59,4%), seguida da participação por gás natural (10,5%) e energia eólica (6,8%) em 2017, apesar da tarifa aplicada no Brasil para a geração de energia por hidroeletricidade. A reflexão, portanto, surge através da baixa participação da energia solar neste escopo de trabalho (0,13%) ou de fontes de energia limpa, com nulo ou mínimo impacto negativo sobre o meio ambiente. O acesso à energia limpa deve ser promovido de modo tal que alcance todas as regiões do país e colabore com a sustentabilidade dos processos produtivos.
Apesar do envelhecimento da população brasileira, é necessário considerar aspectos relacionados à qualidade de vida e saúde que cooperam com o maior número observado de pessoas idosas, de acordo com o Censo Demográfico de 2010 (IGBE). A pirâmide etária do Brasil está em transformação. A maior participação no mercado de trabalho deve ser promovida. A implementação de políticas públicas e a distribuição de serviços públicos devem atender à coletividade, cuja abrangência contempla a redução das desigualdades, crescimento econômico, além de saúde e bem-estar.
A adaptação às mudanças que observamos deve ser resiliente e sustentável. O ambiente geográfico deve considerar as populações que ali habitam. Ecossistemas de suporte à vida devem ser alvo de esforços coletivos e institucionais, de modo a solucionar as diversas lacunas existentes para o sólido alcance do desenvolvimento sustentável. Sistemas agroflorestais e fontes de energia limpa e renovável possuem como premissa ambientes saudáveis e prósperos, a diversificação de sistemas produtivos e o aumento das oportunidades para o desenvolvimento socioeconômico. Considerando ainda a restauração ecológica de ecossistemas e a recuperação de áreas degradadas, com foco em fatores pedológicos e bióticos, passando pela expansão de fronteiras agrícolas e seu controle sobre as áreas protegidas; o desenvolvimento de processos industriais e de tecnologia por fontes de energia limpa; aumento do valor agregado dos diversos produtos a serem comercializados e melhoria dos serviços essenciais; e a pesquisa científica como ferramenta para soluções, é possível observar um cenário de desafio.
Entretanto, o conceito de desenvolvimento sustentável foi incialmente formulado em 1972, i.e., há mais de meio século, na Conferência de Estocolmo, em que os três pilares para a sustentabilidade foram contemplados, tendo servido como fundamento para a utilização racional do meio ambiente com vistas à garantia da oferta e perenidade dos serviços ecossistêmicos para as presentes e futuras gerações. Neste momento de transição, a reflexão deve se voltar aos esforços para o cumprimento das metas adotadas durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, tendo o Brasil como país signatário dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030.
A tomada de decisão nas esferas pública e privada permeia os aspectos acima mencionados. A adequada aplicação de políticas públicas ambientais, sociais e econômicas somada aos esforços de países com propósitos semelhantes de desenvolvimento e estabilidade é estratégico para a mudança de paradigma. O padrão de desenvolvimento está em transformação. A distribuição dos serviços públicos e aqueles inerentes ao mercado de consumo não deve ser somente privilégio de determinadas classes sociais. A consciência sobre o uso racional dos recursos naturais, ou o consumo consciente, deve estar presente em todas as fases da vida. O Relatório de Brundtland, o documento intitulado “Nosso Futuro Comum” de 1987, corrobora as formulações da Conferência de Estocolmo, serviu de base para a Eco 92, Protocolo de Kyoto e Rio + 20, sobretudo como alerta para os padrões exploratórios de desenvolvimento e para elevar a qualidade de vida sobre o Planeta Terra.




