Rearranjo da cadeia global de semicondutores abre oportunidades para o Brasil no setor

Rearranjo da cadeia global de semicondutores abre oportunidades para o Brasil no setor

O Chefe da DETI, Jorge Eduardo Da Silva Tavares, ex-presidente do Clube, Márcio Girão, o professor Adão Villaverde, e Luiz Sergio Utino (FINEP)

Evento no Clube aborda potencial das empresas nacionais, necessidade de redução da dependência externa e e proposta de ações ao seu desenvolvimento no Brasil

Os semicondutores são fundamentais para o funcionamento hoje em dia de quase todo tipo de aparelho ou equipamento e cruciais em diversos ramos da indústria e das relações na sociedade. No entanto, sua produção é muito concentrada em poucos países, o que acarreta riscos para o Brasil, que também não aproveita devidamente o potencial econômico dessa pujante cadeia produtiva. A fim de tratar do panorama internacional do setor e debater mecanismos de estímulo às empresas nacionais, o Clube de Engenharia do Brasil realizou um evento com especialistas e profissionais da área, em que foram levantadas propostas para incrementar as políticas públicas.

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O professor Adão Villaverde

O evento intitulado “Como o Brasil avança na cadeia de Semicondutores?”, contou também com o apoio da FINEP. O Clube recebeu o professor da PUC-RS do TECNOPUC, Adão Villaverde, que apresentou um panorama dessa indústria no mundo todo. Ele mostrou que essa produção é dividida em três fases: projetos, front end (produção física) e back end (encapsulamento). Essa cadeia deve movimentar até 2030 mais de US$ 1 trilhão por ano, mas poucos países dominam esse mercado. Durante a pandemia, a mídia difundiu bastante a questão da concentração da produção de chips em Taiwan, cujas empresas detêm cerca de 70% dessa produção, o que deixou a indústria no mundo todo em polvorosa em 2020 numa crise causada pelas paralisações que a Covid acarretou, quando faltaram estes dispositivos no mercado.

Mas a cadeia, segundo ele, não é formada só pelas chamadas Foundries, fábricas especializadas na produção de chips propriamente ditos. Há também uma etapa importante, que é a de desenvolvimento de projetos ou design, que embora não movimente um volume financeiro tão grande, é bastante estratégica e também sofre de alta concentração. Esta fase é bastante concentrada em empresas norte-americanas e europeias. Os semicondutores dependem ainda de uma etapa final de encapsulamento e teste, chamada de back end, em grande parte dominada pela China.

No cenário traçado pelo professor, em que os semicondutores já ocupam a quarta posição no comércio global, há um “rearranjo das cadeias produtivas”, com maior disputa entre os países por participação nas diferentes fases da cadeia produtiva. A chamada “guerra do chip” já começou e envolve principalmente os Estados Unidos e os países asiáticos. Os americanos tendem também a criar parcerias com países latino-americanos para incentivar a desconcentração.

Mas o Brasil não está totalmente alheio à disputa. Recentemente, o governo federal iniciou a revitalização da fábrica de chips estatal CEITEC, em Porto Alegre (RS), e vem implementado a Lei 14.968/24, conhecida como Programa Brasil Semicon, que substituiu o antigo Padis (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays).  Ela prevê a concessão de incentivos fiscais e apoio financeiro para atrair investimentos, estimular a pesquisa, desenvolvimento e fabricação de chips no país e já deu seus primeiros passos. Há a previsão de destinação de R$ 186,6 bilhões em recursos públicos e privados para o setor. É uma iniciativa transversal ao programa da Nova Indústria Brasil (NIB), que tem entre suas missões a transformação digital e o incentivo à transição energética, que tem forte afinidade com o uso de semicondutores. Editais da FINEP também procuram incentivar a pesquisa e desenvolvimento no segmento.

O professor ressaltou que além de recursos, é necessário ter uma visão estratégica de mercado para que a CEITEC e outras empresas que estão despontando no setor cresçam. Um ponto-chave é se com o avanço tecnológico rápido, e a produção de chips cada vez menores, o Brasil ainda conseguiria espaço, mesmo produzindo os chamados chips “maduros”. A resposta exige atenção à crescente demanda gerada pela transição energética e a transformação digital, que podem garantir ainda por muito tempo mercado para chips não necessariamente de última linha.

“Estou convencido de que o Brasil já avançou muito na cadeia produtiva de Semicon na área de projetos, já está num estágio bastante avançado na área de encapsulamento e tenho certeza que o Brasil tem que fazer parte do seleto grupo mundial de regiões ou países que dominam e têm expertise na fabricação dos chips”, destacou Villaverde.

Com os investimentos de cerca de R$ 220 milhões de reais já liberados pela FINEP/FNDC na retomada da fábrica da CEITEC na produção de chips, e de iniciativas de empresas brasileiras como Zilia e Tellescom, manifestações de interesse de construir acordos comerciais e tecnológicos já vêm surgindo junto a fabricantes chineses e malaios, de forma a reforçar a possibilidade concreta de um desenvolvimento sustentável de uma cadeia de produção de chips no país. Nas palavras do professor Adão Villaverde, “atualmente, sem chips, não há transformação digital soberana no país”.

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Rogério Nunes

O evento, que teve o apoio da Divisão Técnica de Eletrônico e Tecnologia da Informação (DETI), contou também com a participação do Presidente e CEO da Zilia Technologies, Rogério Nunes, que é presidente e fundador da ABISEMI (Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores). Segundo ele, o setor no Brasil já tem dezenas de empresas, cujo faturamento já ultrapassa R$ 1 bilhão e tem competitividade, tanto que atraem investimento estrangeiro e atendem bem a indústria de celulares, por exemplo, em que desempenha um importante papel no fornecimento de memórias. Mas as políticas públicas precisam ser reforçadas.

“A Lei de Semicondutores não consegue ser aplicada, um ano após, em função da falta de publicação de um decreto. Ainda está dentro do Poder Executivo o texto para ser publicado, apesar da lei já ter sido sancionada. Isso torno novos empreendimentos mais difíceis de acontecerem”, ressaltou Nunes.

O engenheiro Ronaldo Aloise Junior, sócio de startups,  como a Thummi, e CEO da Tellesco na implantação do Projeto no RS, também apresentou sua visão sobre o desenvolvimento do setor. Segundo ele, o Brasil precisa se integrar ao mercado internacional para aumentar sua participação, reforçando não só os investimentos em tecnologia como na formação de profissionais. 

“Se nós trabalharmos na aceleração e na atração de parcerias, continuar trabalhando na formação de pessoal, e ter um plano de programas de reestruturação e de alavancagem de infraestrutura de semicondutores, temos realmente um futuro bastante promissor. Mas nossa ação tem que acontecer nessa janela até 2028”, afirmou Aloise Junior.

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Ronaldo Aloise Junior

O gerente do Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação (DTIC) da FINEP, Luiz Sergio Utino, que falou sobre a atuação da empresa pública no fomento à indústria de semicondutores. Ele enfatizou o papel da fomentadora no renascimento da CEITEC, que busca um novo caminho com o avanço da descarbonização e a transição energética. Além disso, ela oferece recursos através de subvenções e créditos. Propostas elaboradas por empresas em parceria com ICTs são consideradas promissoras por eles.

“Os editais estão fechados agora para nós processarmos as avaliações, as propostas, e aprendermos também, como foi a primeira tentativa no modelo de fluxo contínuo, muitas lições foram aprendidas e no futuro serão abertas novas ações, com melhorias nas próximas chamadas”, explicou Utino. 

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Luiz Sergio Utino, da FINEP

O fato de o território nacional ser rico em minerais estratégicos, que são utilizados na fabricação de semicondutores, foi outra questão levantada durante o evento.  Essa riqueza natural é mais um motivo para o país desenvolver essa indústria tecnológica, agregando muito mais valor às matérias-primas extraídas do subsolo. O professor Villaverde defendeu a mineração de terras raras com rastreabilidade socioambiental.

O ex-presidente do Clube Márcio Girão participou da realização do evento e defendeu no encerramento uma nova guinada na atual política adotada pela FINEP. A financiadora, segundo ele, deveria direcionar os recursos a partir de uma visão estratégica de rotas tecnológicas (roadmaps), com um programa de apoio mais efetivo à inovação neste setor desde a pesquisa até à implantação pela engenharia, a partir de um estudo profundo sobre a cadeia de semicondutores.

“Recurso é fundamental, mas é condição apenas necessária, enquanto as Rotas Tecnológicas são a condição suficiente para o sucesso da estratégia de semicondutores no país”, concluiu Girão.

Assita aqui ao evento:

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