Artigo publicado n’O Globo de 12/12/2013 | Por Francis Bogossian*
Precipitações extraordinárias acontecem constantemente em países tropicais, mas quando há escoamento adequado,as águas baixam rapidamente. Não é isso que acontece aqui. Os serviços de drenagem das ruas e dragagem dos rios na cidade do Rio estão aquém das nossas reais necessidades, todos sabemos.
Com o atual sistema de coleta de lixo não há como evitar o entupimento dos bueiros. Os sacos de lixo colocados nas ruas à espera do recolhimento são arrastados para os bueiros no momento da chuva. Mesmo com serviço constante de limpeza, os entupimentos são inevitáveis.
O que chama a atenção, no entanto, nas imagens aéreas é a imensa quantidade de lixo que boia nas águas dos rios e nas ruas alagadas. Os rios são as latas de lixo, onde se joga tudo: sofás, pneus, garrafas, sacos de lixo, etc. Não se pode tirar a responsabilidade do poder público, mas é necessário também exigir do cidadão que cuide do meio ambiente, caso contrário é um trabalho de enxugar gelo. A campanha Lixo Zero que começou no Rio é um primeiro passo e já mostrou resultado. Como fazer algo para conter o descarte de lixo nos rios é um desafio para qualquer administrador público, que precisa ser enfrentado.“Roma não foi feita em um dia” e os efeitos negativos das chuvas de verão não vão cessar com um estalar de dedos..
As chuvas este ano chegaram mais cedo. Mas hoje a cidade do Rio de Janeiro conta com o Sistema Alerta-Rio, que tem mapeadas diversas áreas de risco e dispõe de rede de pluviômetros capazes de prever condições de alerta. Pode-se, assim, providenciar a evacuação de áreas antes que as enxurradas façam seus periódicos estragos. Foram anos de trabalho e planejamento que estão dando resultado.
O poder público tem tentado conter a enorme velocidade de crescimento da ocupação desordenada das várias encostas cariocas e novas áreas de risco surgem nas comunidades de baixa renda instaladas nos morros. O reassentamento de famílias em áreas de risco está se realizando na cidade. Mas as ações judiciais são lentas, a fiscalização é deficiente e as encostas continuam vítimas de desmatamentos criminosos que lhes retiram a proteção natural.
Foram décadas de abandono do Rio que não se conserta de uma hora para outra. As enchentes da Praça da Bandeira são históricas. Finalmente agora está se buscando uma solução com as construções do “piscinões”. As obras estão dentro do cronograma, mas ainda não estão concluídas o que nos impede de medir a eficiência do projeto. Isto sem falar na retomada dos estudos do túnel extravasor.
* Presidente do Clube de Engenharia e da Associação das Empresas de Engenharia do Rio