Evento também marca o início da produção da obra, que vai denunciar os crimes da Operação Condor na América Latina e tem cobertura oficial pela Diálogos do Sul Global
por Guilherme Ribeiro – Revista Diálogos do Sul Global
O lançamento internacional da série de TV “Operação Condor”, dirigida por Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo, já tem data marcada. Sediado no Clube de Engenharia do Brasil, no Rio de Janeiro, o evento será um momento histórico, quando também será anunciado oficialmente o início da produção da obra.
O dia escolhido é profundamente simbólico: há exatamente 50 anos, em 25 de novembro de 1975, era formalizado o pacto conhecido como “Operação Condor”, a aliança secreta entre as ditaduras do Cone Sul que coordenou a perseguição, o sequestro, a tortura e o assassinato de milhares de militantes latino-americanos.
“Operação Condor” — que terá cobertura oficial pela Diálogos do Sul Global — chega justamente para resgatar essa memória coletiva e denunciar as tramas de poder que, ainda hoje, buscam reescrever a história.
Para além de uma celebração cultural, o lançamento da série se assume um ato simbólico de memória, justiça e de reafirmação do compromisso com uma América Latina livre de interferências externas, especialmente do imperialismo estadunidense.
Pérez Esquivel e o Nobel da Paz
O lançamento de “Operação Condor” no Rio de Janeiro terá a presença de nomes históricos da luta pelos direitos humanos na América Latina, entre eles o argentino Adolfo Pérez Esquivel.
Símbolo da resistência contra as ditaduras militares e das políticas de extermínio articuladas pelos EUA na região, Esquivel recebeu o Nobel da Paz em 1980, numa época em que o prêmio ainda laureava personalidades autênticas da luta pela paz — paz não somente enquanto ausência de guerras, mas “esperança de futuro” para os povos, segundo afirmou em 2018.
“Em um tempo de desinformação e falsificação moral, a presença de Pérez Esquivel reafirma o valor da coerência ética e política”, afirmam Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo, que acrescentam:
“Enquanto o Nobel argentino construiu sua trajetória ao lado dos povos, enfrentando prisões e ameaças durante o terror de Estados, outros nomes surgem tentando vestir a máscara da “liberdade” para defender projetos de opressão e entrega”.
Com a fala, os diretores fazem uma crítica direta ao Nobel da Paz deste ano, destinado a María Corina Machado, “apontada por amplos setores democráticos da América Latina como uma impostora do discurso de paz, representante de elites que apoiaram golpes, sanções e o sofrimento de seu próprio povo venezuelano”, lembram Cruz e Belluzzo.
A contradição, reforçam, é gritante: “De um lado, Esquivel, o homem que fez da não violência um instrumento de libertação dos povos; de outro, figuras que usam o vocabulário da “liberdade” para justificar intervenção estrangeira, dominação e destruição de direitos”.
Em um momento em que se intensificam os ataques à soberania dos povos, a série se posiciona como uma defesa contundente de uma Venezuela livre e autônoma, e de toda a região como espaço de resistência e autodeterminação.
Apoio nacional e internacional
Uma gama de instituições já declarou apoio à série “Operação Condor”, reconhecendo seu valor histórico e educativo para o Brasil e a América Latina. No lançamento de 25 de novembro, estarão presentes, entre as entidades internacionais:
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Comissão Provincial pela Memória (CPM), presidida por Adolfo Pérez Esquivel
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Parlamento do Mercosul (Parlasul)
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Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA
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Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDH)
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Museu de Memória e Direitos Humanos do Chile
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Internacional de la Educação – América Latina
Já entre as organizações nacionais, participarão:
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Instituto João Goulart
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Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
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Fórum Nacional de Educação (FNE)
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Comissão de Anistia do Brasil
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Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB)
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Grupo Prerrogativas
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Clube de Engenharia do Brasil
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Federação Interestadual dos Engenheiros (FISENGE)
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Instituto Zuzu Angel
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Cátedra Unesco/UNICAP de Direitos Humanos Dom Helder Câmara
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Associação Brasileira de Economistas
Países e homenageados
Além do Brasil, a produção da série vai percorrer outros seis países da América do Sul que foram alvos da Operação Condor, totalizando sete episódios. Com foco em cada uma das nações, os capítulos também serão dedicados a figuras emblemáticas que lutaram, muitos entregando a vida, pela luta contra a repressão. Confira os episódios e seus homenageados:
Brasil: Memória, Verdade e Justiça
O episódio dedicado ao caso brasileiro concede um profundo tributo à luta por memória, verdade e justiça ao homenagear quatro figuras centrais da resistência à ditadura:
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Rubens Paiva: engenheiro e ex-deputado federal, morto sob tortura.
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Stuart Angel: militante político assassinado.
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Zuzu Angel: estilista e mãe de Stuart, que enfrentou o regime até ser silenciada por ele.
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Paulo Freire: educador popular e patrono da educação brasileira, perseguido, exilado e reconhecido mundialmente por sua pedagogia libertadora.
Uruguai: Voos da Morte
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José “Pepe” Mujica: ex-Tupamaro e ex-presidente, é retratado como símbolo de dignidade e resiliência. Sobreviveu a mais de uma década de confinamento solitário e emergiu como referência ética e política global.
Chile: Pablo Neruda
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Pablo Neruda: poeta e Prêmio Nobel de Literatura, representa a dimensão cultural e política da repressão chilena. Sua morte, logo após o golpe de Augusto Pinochet, ainda é alvo de investigações por suspeita de assassinato político.
Argentina: Explosões De Automóveis
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Hebe de Bonafini e Estela de Carlotto: símbolos da luta por justiça das Mães e Avós da Praça de Maio, grupo que denuncia há décadas o desaparecimento forçado e o roubo de crianças pela ditadura.
Paraguai: Ossadas De Desaparecidos
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Martín Almada: educador e advogado, revelou ao mundo os “Arquivos do Terror”, documentos secretos que comprovaram a existência da Operação Condor e seus crimes sistemáticos.
Bolívia: Desaparecimentos Forçados
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Dom Luis Aníbal Rodríguez Pardo: corajoso arcebispo que denunciou os abusos do regime militar boliviano e defendeu os direitos humanos em tempos de silêncio imposto.
Peru: Conexão Europa
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Hugo Blanco Galdós: líder indígena e camponês, foi preso e exilado por sua luta pela reforma agrária e justiça social. Sua atuação extrapolou fronteiras e inspira até hoje movimentos populares.
Para saber mais sobre a obra, confira a seção especial “Série Operação Condor” na Diálogos do Sul Global.
Publicado originalmente na Revista Diálogos do Sul Global “Operação Condor”: com Pérez Esquivel, lançamento internacional da série acontece em 25/11, no RJ