As explosões de bueiros que fazem parte do sistema de distribuição de energia elétrica da Light Energia no Rio de Janeiro são tema recorrente de notícias na imprensa, debates e indagações sobre a segurança dos cidadãos. O Brasil, que tem se tornado cada vez mais um país urbano e industrializado, tem aumentado sua demanda por energia elétrica, provocando ainda mais questionamentos nesse sentido. Para prosseguir com os debates sobre o assunto, as Divisões Técnicas de Engenharia Industrial (DEI), Engenharia de Segurança (DSG) e de Energia (DEN), promoveram o debate Explosões de bueiros: um século de queimaduras, mortes e medidas inócuas no dia 7 de maio. A palestra do Conselheiro do Clube e chefe da DEI, Estellito Rangel, traçou um panorama dos acontecimentos envolvendo explosões de bueiros no Brasil, citando alguns casos ocorridos também no exterior.

Estellito, que também é diretor da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel-RJ), destacou que a mais recente explosão de bueiros ocorreu em janeiro deste ano, mas que isso não significa que novas explosões não possam acontecer. O palestrante apresentou notícias de jornais que historicizaram os eventos, demonstrando incoerência na argumentação da Light. “A empresa afirma que a primeira explosão ocorreu em 1956 e que elas não apresentam tantos riscos assim à população, no entanto, temos registros de explosões acontecendo em 1911 e também de algumas mortes nos anos 1970”, contou. Também em 1956 a Light alegou a hipótese de sabotagem do sistema elétrico, argumento utilizado também em outros momentos da história da empresa. “Em julho de 2011 a Light publicou um comunicado à população afirmando a frequência anormal de ocorrências no sistema subterrâneo em uma época de baixas temperaturas, sugerindo também uma suposta sabotagem. Em 1964, já na ditadura militar, o DOPS investigou a explosão ocorrida na Rua do Riachuelo, pois havia suspeita da ação de ‘terroristas’”, explicou.

As reportagens apresentadas pelo palestrante também expunham um fato que já é de conhecimento público: as explosões ocorriam em locais próximos um do outro, indicando que havia algo incomum na região. As ruas Mem de Sá, Frei Caneca, Rua dos Arcos e Riachuelo, por exemplo, eram recorrentes no noticiário. Mas outros bairros também sofriam com as ocorrências, como Copacabana e Laranjeiras.

Estellito ressaltou, ainda, que os incidentes aparecem tanto durante a fase pública da empresa como após sua privatização, o que indica que o problema não está neste fato. “Não tem a ver com a privatização, nem com a estação do ano (verão/inverno), nem com o fato de apresentar uma rede velha, porque quando era nova as explosões também aconteciam”, destacou.

Segundo o palestrante, a Light divulgou uma tabela americana e incluiu os dados da empresa como sendo uma das que apresenta poucos incidentes.“Mas o relatório tem 174 páginas e o significado de ‘incidente’ para cada concessionária varia muito. A diferença no número de anos para gerar as estatísticas, por exemplo, fez com que no próprio relatório houvesse a afirmação de que a tabela não é confiável para fins estatísticos”, explicou.

Por que explodem os bueiros?

A palestra desconstruiu argumentos de que há infiltração de gás encanado na tubulação ou mesmo que seria um caso de superaquecimento provocado pelas altas temperaturas do Rio. “Não existe caixa da CEG passando por tubulação da Light. O gás da CEG é aromatizado, quando há eventos desse tipo ela procura pelo gás aromatizado e ele nunca foi encontrado”, afirmou Estellito. Somente a presença de gás não pode ser apresentada como causa de uma explosão. “Explosão não ocorre se houver apenas gás. Primeiramente é preciso ter uma concentração específica desse gás, e em segundo lugar uma fonte de ignição”, arrematou.

O engenheiro explicou que o gás encontrado nas tubulações de energia elétrica é proveniente do derretimento dos cabos superaquecidos e não de fonte externa. “De acordo com um estudo americano, a maior parcela de gás liberado pelos cabos foi hidrogênio e o nosso gás encanado é 98% metano. O cabo derrete por força de curto circuito, gerando gás inflamável, comprometendo o isolamento do cabo e causando curto circuito entre os cabos que estão no duto, é daí que vem a explosão. Portanto, com o derretimento do isolamento dos cabos ao longo do tempo, a consequência pode ser fumaça, fogo e explosão”, resumiu.

Para Estellito, é importante destacar que a explosão não necessariamente ocorre no bueiro. “Não é o bueiro que explode, é na rede que ocorre a explosão, que se propaga na tubulação e procura um ponto de alívio, que é a tampa do bueiro. Esse é um ponto chave, porque a explosão pode ocorrer, inclusive, em um ponto distante do bueiro”, explicou.

Um trabalho apresentado nos Estados Unidos demonstrou que em inspeções visuais (dados de 55 mil delas foram analisados) foram encontradas poucas reduções em fogo e/ou explosão de bueiros. “A inspeção visual, portanto, não impede explosão de bueiro”, defendeu.

Os distúrbios no sistema elétrico subterrâneo, mesmo com hiatos, são recorrentes. Para o palestrante, com a renovação dos cabos que estavam danificados, um novo ciclo de deterioração se inicia, daí o hiato entre explosões. “O que precisa ser feito é a reavaliação das metas da ANEEL para que se respeitem os limites de carregamento dos componentes da rede. A configuração atual da rede subterrânea, apesar de atender às metas de continuidade do serviço, compromete a segurança dos cidadãos, o que é inaceitável”, encerrou.

 

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