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“Ninguém deveria estar ali contemplando aquela beleza em um período de chuvas intensas”, destaca subchefe da DRM

Natureza mandou sinais; ninguém deveria estar ali contemplando
aquela beleza em período de chuvas fortes

Por Renato Cabral Ramos*
Divisão Técnica Especializada de Recursos Minerais (DRM)
Publicado originalmente no Quarentena News

A cena chocante do enorme bloco rochoso tombando sobre as pequenas lanchas, repetida ad nauseam pelos noticiários neste sábado, 8 de janeiro, foi a peça do dia desse quebra-cabeça de tragédias que vêm se tornando o nosso torrão natal.

Foram dez mortos e vários feridos em mais esse acidente perfeitamente evitável. Os cânions, esses vales de paredes rochosas abruptas escavados pela ação milenar dos rios, evoluem exatamente dessa maneira. São largos períodos de tranquilidade, em que o rio lentamente faz seu trabalho erosivo, e curtos e esparsos momentos de violência, quando partes de suas paredes desabam.

O cânion de Capitólio, inundado há algumas décadas pelas águas da represa de Furnas, é uma atração turística disputada. Formou-se encaixado nos antiquíssimos quartzitos, rocha tão mineira, exatamente por causa das muitas fraturas que ocorrem nessas rochas.
Fraturas são zonas de fraqueza, aberturas por onde a água preferiu fazer o seu “trabalho de escavação” durante centenas de milhares de anos. E a tragédia de hoje se deu por causa de uma dessas fraturas que cortam a rocha verticalmente, como se a faca fossem feitas.

E a natureza ainda tentou evitar a tragédia, dando seus sinais. Vários fragmentos de rocha se desprenderam da base da escarpa antes do desabamento. Algumas pessoas entenderam o recado, tentaram avisar os demais e se afastaram; outras não compreenderam o alerta, e foram atingidas por toneladas de rochas.

Uma coisa é certa. Ninguém deveria estar ali contemplando aquela beleza em um período de chuvas intensas. A água fez seu trabalho, penetrou na fratura, expandiu-a e descolou violentamente o talude. Recentemente, todos se lembrarão, outra tragédia ceifou a vida de dez pessoas que resolveram dormir dentro de uma gruta no município de Altinópolis (SP) e foram soterradas pela queda do teto da cavidade.

A água fez seu trabalho, penetrou na fratura, expandiu-a e descolou violentamente o talude.

Antes, em novembro de 2020, uma parte da falésia na praia de Pipa (RN) desabou sobre uma família, matando pai, mãe e um bebê. Até quando a falta de estudos técnicos, levando em consideração os riscos provocados pelos processos geológicos, induzidos ou não pelo homem, causarão tantas perdas humanas? Geologia é bonita, importante e todos/as merecem a sua parte desse conhecimento.

Fotos: CBMMG / Divulgação

*Renato Cabral Ramos é geólogo e subchefe da
Divisão Técnica Especializada de Recursos Minerais

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