Enchentes no Rio
Em 2010, deslizamentos de terras mataram 302 pessoas e feriram outras 370 em todo o Brasil. Em inundações, 13 morreram e 48 ficaram feridos. Pouco mais de um mês após a tempestade da noite do dia 11 e madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, a contagem de mortos já chega a 894 em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis. Minas Gerais e São Paulo também sofreram, em menor grau, os efeitos das tempestades.
O número de mortos e feridos assusta, mas, lamentavelmente, não surpreende. Ano após ano as catástrofes naturais fazem novas vítimas. O assunto vem sendo debatido pelo Clube de Engenharia há muitos anos. Em 2005 foi enviada carta com orientações técnicas ao Ministério das Cidades. Em 2010, o alerta foi reforçado. Após os deslizamentos em Angra dos Reis e Ilha Grande, em parceria com a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), o Clube encaminhou nova carta ao poder público alertando para a necessidade urgente de ações de prevenção.
Com a aproximação de mais um verão, nos dias 29 e 30 de novembro e 1º de dezembro de 2010, a Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC) e o Clube de Engenharia realizaram simultaneamente o 2º Seminário Brasileiro sobre Catástrofes Naturais e Antropogênicas e o 2º Seminário Brasileiro de Engenharia Civil Emergencial. Estiveram presentes representantes da academia, de instituições responsáveis pelo monitoramento, controle e resposta aos desastres, como a COPPE/UFRJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Secretaria Nacional de Defesa Civil, Corpo de Bombeiros (CBMERJ), Associação Brasileira deGeologia de Engenharia e Ambiental (ABGE) e o Centro de Gerenciamento de Emergências de São Paulo, entre outros.
O exemplo carioca
A atuação do Clube de Engenharia e de entidades parceiras busca conscientizar o poder público da importância de um trabalho preventivo que envolva o mapeamento e o estudo minucioso de áreas de risco. O município do Rio de Janeiro vem se firmando como uma referência nesta área. O Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (Geo-Rio), em ação inédita, mapeou 52 bairros do município e identificou áreas de risco. O estudo foi usado para monitoramento das regiões e para priorizar obras de contenção.
Segundo o professor Nelson Meirim Coutinho, da Geo-Rio, as chuvas de abril do ano passado representaram um marco para a cidade. “A cidade parou após as chuvas da noite do dia 5 e madrugada do dia 6 de abril de 2010. Até então, o sistema Alerta Rio trabalhava com dados fornecidos pela aero náutica e pelos aeroportos. Naquela ocasião a prefeitura decidiu comprar um radar meteorológico próprio que já está instalado no Sumaré”, explicou. O equipamento tem um alcance operacional de 150 Km e consegue prever o volume de chuva e até mesmo onde ela irá cair.
O novo radar será uma das fontes de informação do Centro de Operações Rio, um espaço que congrega cerca de 30 órgãos municipais e concessionárias com o objetivo de monitorar e otimizar o funcionamento da cidade, além de antecipar soluções e minimizar ocorrências, alertando os setores responsáveis para riscos e medidas urgentes em caso de emergências. Inaugurado pela prefeitura no último dia de 2010, o centro foi desenvolvido em parceria com a IBM, que também irá desenvolver um inédito sistema de previsão meteorológica de alta resolução até o meio do ano.
Atuação estadual, federal e municipal
O engenheiro civil Tenente Coronel Fábio Feitosa, instrutor da Secretaria Nacional de Defesa Civil, esclareceu que o trabalho realizado tem como base a prevenção. “Agimos em 4 fases: prevenção, preparação, resposta e reconstrução. A ideia é trabalhar muito no estado de normalidade para precisar trabalhar pouco no período de anormalidade”. Fábio deu ênfase a trabalhos de conscientização voltados para crianças entre 8 e 12 anos, além da capacitação de núcleos comunitários. “Petrópolis é referência nessa área. Com uma garrafa pet e um adesivo é possível controlar o sistema de alerta através de cores e marcações. São mais de 20 mil pluviômetros caseiros espalhados por todo o município”.
Clube de Engenharia luta por uma ação direta dos governos estadual e federal na prevenção de catástrofes típicas do verão da região sudeste
Embora a prevenção de risco seja uma política urbana de responsabilidade municipal instituída pela Constituição, ações como as tomadas em alguns municípios, tendo o Rio como principal referência, necessitam de grandes verbas para serem reproduzidas. É consenso entre gestores públicos, especialistas e entidades da sociedade que sem investimentos em tecnologia e o envolvimento dos governos estadual e federal pouco se avançará nos municípios. Nesta receita, seja qual for a instância de poder, determinação e vontade política fazem toda a diferença.
Jornal 504 – fevereiro 2011 – página 03 – Chuvas na Região Serrana