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O SUCESSO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A ENGENHARIA: COMO SEREMOS AFETADOS ?

Conselheiro Cesar Drucker

 

Estão ocorrendo, simultaneamente, um deslumbramento com os recursos criativos da nova ferramenta ChatGTP e similares, junto com um fundado receio pelos desdobramentos dessa tecnologia.

Num fato inédito na história, cientistas, empresários e políticos fizeram um abaixo assinado pedindo a redução da velocidade do avanço da tecnologia: o ser humano reconhece que não está podendo acompanhá-la, e sente-se ameaçado.

Diante de tanta incerteza, há uma grande diversidade de previsões Mas temos uma fonte que pode nos ajudar: é o olhar sobre o passado, como aconteceram as mudanças de rumo da engenharia em consequência de acontecimentos tecnológicos, políticos, econômicos ou sociais.

Selecionamos seis destas grandes mudanças na história brasileira.

1 – Ensino da engenharia no Brasil no século XIX foi impulsionado por Napoleão
2 – Imperador atualizado e empreendedor audacioso promovem a revolução industrial no Brasil
3 – Visita do Rei Alberto I da Bélgica ao Brasil impulsiona a arquitetura brasileira
4 – Presidente poderoso aposta na engenharia nacional e é bem sucedido
5 – Decisão individual de presidente da Republica determina logística do pais
6 – Competição entre dois candidatos à presidência da república resulta em grandes obras no Rio de Janeiro

Nos tempos em que éramos colônia, tínhamos que importar todos os objetos manufaturados, pois era proibido produzi-los aqui. O ensino das matérias da engenharia era ministrado na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho do Rio de Janeiro, localizada no prédio militar que hoje sedia o Museu Histórico Nacional, na Praça XV.

Em 1808, Napoleão invade Portugal. A Família Real e a administração do império português transferem-se para o Rio de Janeiro. Na ex-colônia , agora Reino, a diretriz econômica muda para o incentivo à produção interna, como exemplo a construção da Fábrica de Pólvora no hoje Jardim Botânico.

Nesse contexto, o Príncipe Regente, futuro D.João VI, cria em 1810 a Academia Real Militar, no mesmo modelo da de Lisboa, agora ocupando prédio nobre no Largo de São Francisco. Dela descende a proeminente Escola Polytechnica, depois Escola Nacional de Engenharia, e hoje Escola Politécnica.

O neto de D. João VI, o Imperador Dom Pedro II, falava dezesseis línguas, e correspondia-se regularmente com as personalidades estrangeiras mais destacadas nas ciências e nas artes. Ele tinha interesse pelas novas tecnologias, desde o saneamento até a fotografia e o fonógrafo.

Na área da iniciativa privada, Irineu Evangelista de Souza achou terreno fértil para implantar aqui os mais recentes desenvolvimentos industriais: o portentoso Estaleiro e Fundição de Ponta da Areia, em Niterói; a estrada de ferro; a navegação a vapor; o cabo telegráfico submarino ligando o Brasil à Europa; a ligação entre as capitais estaduais por cabo submarino; e a iluminação a gás.

Em 1889, ano em que morreu o então Visconde de Mauá, já existiam 9.000 km de ferrovias no pais. Ele não chegou a ver a proclamação da Republica, ocorrida naquele ano. Mas pôde vivenciar as mudanças na sociedade, para as quais ele contribuiu, as quais, por sua vez, contribuíram para a mudança do regime.

Atras da arquitetura brasileira, reconhecida internacionalmente, há duas tecnologias, a do concreto armado e a do concreto protendido. E três personagens: um rei, uma siderúrgica pioneira e um engenheiro francês. O Rei Alberto I da Bélgica visitou o Brasil em 1920 e em decorrência, surgiu no ano seguinte a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, uma pioneira que assegurou o uso do concreto armado. O engenheiro Eugène Freyssinet foi o criador do concreto protendido.

O presidente brasileiro por quem engenheiros tem muito apreço é Getúlio Vargas. Chegou ao poder em 1930, e sua revolucionária proposta de governo era industrializar o pais, passando de uma economia agrária para a de produção local, substituindo os bens importados. Além disto, propunha que o estado criasse as indústrias necessárias ao desenvolvimento da nação, como a indústria química, a siderúrgica, e no segundo governo a petrolífera. Isso significava convocar os engenheiros brasileiros para internalizar todas as tecnologias relativas a estas produções. Os relatos do governo informaram que aqueles objetivos foram cumpridos.

Entre os “estudos de caso” que tratam das escolhas políticas dos governantes, as quais determinaram rumos para a engenharia, a mais citada é a que foi feita pelo Presidente Juscelino Kubitschek, no mandato 1955-1960: o “rodoviarismo”. A estrada de rodagem foi a escolhida para tecer a malha de transporte no pais, abstraindo-se os transportes ferroviário, de cabotagem e fluvial. Estabeleceram-se montadoras de veículos, e o traçado das cidades e suas vias passou a ser feito em função do automóvel.

Ao invés de determinação pessoal, foi uma disputa política que ocasionou o grande conjunto de obras públicas que mudou a face da cidade do Rio de Janeiro após a mudança da capital para Brasília. Falamos dos dois candidatos à presidência da república na eleição que aconteceria para o mandato 1965-1970. Eram eles Carlos Lacerda, que governou o Estado da Guanabara de 1960 a 1965, e Juscelino Kubitschek que foi o presidente da república de 1956 a 1960. Juscelino tinha a seu favor a construção de Brasília. Para enfrenta-lo, Lacerda construiu o Parque do Flamengo, alargou a praia de Copacabana, construiu os tuneis Rebouças e Santa Bárbara, o Sistema Guandú, o Interceptor Oceânico, e o Emissário Submarino de Ipanema. Entretanto, aquela eleição não se realizou.

Nesse momento, prevê-se que a interação homem-maquina, iniciando-se agora, vai se desenvolver extraordinariamente, com resultados radicais. Contribuindo para seu entendimento, o programa “Encontros com Tecnologia“, que vai acontecer no próximo dia 3 de maio, às 18 horas, receberá os engenheiros Jano Moreira de Souza, coordenador do Laboratório do Futuro da COPPE/UFRJ, e Yuri Lima, pesquisador de pós-doutorado da mesma COPPE/UFRJ.

Eles vão falar sobre: “Quais os possíveis cenários, no futuro do nosso Pais, em função da evolução tecnológica?”. A sala estará aberta para sócios e não sócios, que estão convidados a participar da formulação de perguntas aos palestrantes, ao vivo. Mas é preciso fazer inscrição prévia no Sympla.

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