Pesquisas de fontes confiáveis não chegam a uma conclusão sobre o mercado brasileiro em franco crescimento

Na contramão dos vários levantamentos e estudos que apontam para a escassez de mão de obra qualificada em um futuro próximo, novo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicado no final de abril aponta exatamente o contrário. Segundo o Ipea, mais de 1 milhão de trabalhadores com experiência e qualificação profissional permanecerão desempregados no país já em 2011: o total da demanda será de 21 milhões de postos de trabalho e serem ocupados e a disponibilidade de profissionais está estimada em 22 milhões.

Os números publicados pelo IPEA indicam a geração de 1,7 milhão de empregos em 2011, além de 19,3 milhões de vagas geradas pela rotatividade no mercado. Do outro lado da balança, somam-se, além dos que perderam o emprego por força da rotatividade, outros 2 milhões já desempregados e outros 760 mil trabalhadores que ingressam no mercado com qualificação.

Foram levadas em consideração a disponibilidade de mão de obra de qualidade (com escolaridade e experiência para o trabalho), associada ao exercício nos distintos setores econômicos e localidades do país. A conta pode ser ainda pior se forem considerados os trabalhadores sem qualificação. “O contingente de mão de obra disponível termina sendo maior que o atualmente projetado, uma vez que nem todos os trabalhadores são preparados adequadamente para ocupar de imediato a vaga aberta nas distintas localidades e setores de atividade econômica”, diz o estudo. Ao considerar a força de trabalho não qualificada, a estimativa de trabalhadores disponíveis sobe para 28,2 milhões.

O estudo revela, no entanto, que em vários estados e em alguns setores de atividade econômica poderá haver escassez de profissionais qualificados e experientes. Apenas Bahia e Mato Grosso não devem enfrentar problemas de escassez de mão de obra qualificada em nenhum setor. Em São Paulo, por exemplo, os setores da administração pública, comércio e indústria podem sofrer escassez de força de trabalho. Minas Gerais deverá enfrentar dificuldade de contratação na área do comércio e reparação, construção, educação, saúde e serviços sociais.

Contradições e constatações

O cenário apresentado pela recente pesquisa do IPEA pode ser considerado o marco de um novo momento nas projeções sobre o mercado de trabalho. Enquanto alguns estudos anteriores apontavam para uma acentuada escassez de engenheiros e profissionais da área técnica em geral, os números do IPEA do mês de abril mostram as áreas correlatas em equilíbrio com as demais. A projeção para o setor da construção, por exemplo, apresenta um excedente de cerca de 67.300 profissionais qualificados. O setor da indústria, no entanto, apresenta número negativo: faltariam 34.500 profissionais.

A falta de profissionais qualificados para os empregos gerados pelo crescimento do país, o chamado “apagão da mão de obra qualificada”, parece estar ainda indefinido. Segundo Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Inter sindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), no tocante à engenharia, o problema hoje não é quantitativo. “Existe um contingente de engenheiros formados no Brasil para atender à demanda atual. Por outro lado, isso não quer dizer que as empresas estão conseguindo encontrar os engenheiros que procuram”. Segundo Clemente, duas questões influem diretamente na questão: salários e condições de trabalho não são atraentes o suficiente para trazer de volta à engenharia os profissionais que hoje ocupam cargos em outras áreas e a questão da distribuição espacial da oferta em relação à demanda no território nacional.

Clemente informa que há um gargalo para o desenvolvimento do país relacionado à oferta de competências na área da engenharia. “A principal análise que devemos fazer é de como deslocar as competências para as frentes onde estão sendo desenvolvidos os projetos. Podemos mobilizar a capacidade que já temos para que retornem à engenharia, como incentivar as escolas para que se fortaleçam e se mobilizem e fazer a sociedade voltar a olhar a engenharia e incentivar seus jovens. Trata-se de um processo de revalorização da engenharia e do profissional que foi violentamente desvalorizado ao longo dos anos 1980”, explicou.

Controle da importação

No mercado da engenharia especificamente, uma questão relevante e diretamente relacionada à equação oferta de mão de obra versus vagas no mercado é a entrada sistemática de engenheiros vindos da Europa e Estados Unidos para o Brasil, resultado das crises financeiras internacionais aliadas ao crescimento econômico e social do Brasil. No último dia 27 de julho, o Crea-RJ denunciou nove empresas ao Ministério do Trabalho devido a irregularidades na contratação de engenheiros estrangeiros.

De acordo com dados do sistema Confea, a Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego apontou um crescimento de 27% nas autorizações concedidas a engenheiros estrangeiros, totalizando 2.804 autorizações em 2010. Em entrevista ao Confea, o coordenador do grupo de Trabalho Fiscalização, do Colégio de Presidentes do Sistema Confea/Crea, Álvaro José Cabrini Júnior destacou que a questão merece atenção especial por estar intimamente ligada à soberania nacional, à valorização dos engenheiros brasileiros e às contrapartidas envolvidas nesta demanda”.

 

Jornal 510 – agosto 2011 – página 03 – Mercado de Trabalho

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