Energia de termoelétricas vai custar sete vezes mais e o consumidor pagará a conta

Evento da DEN alerta para alto custo da contratação de usinas previstas para Sepetiba e para a desastrosa falta de planejamento para o setor

O governo federal contratou empresa turca para a geração de energia a gás na Baía de Sepetiba a custo quase sete vezes maior que o normal e quem vai pagar a conta é o consumidor. O preço exorbitante do leilão foi o principal alerta lançado durante o evento realizado pelo Clube de Engenharia para se discutir os aspectos econômicos do projeto. O palestrante convidado, o engenheiro civil James Bolivar Luna de Azevedo, contextualizou todo o processo e recomendou o cancelamento do contrato, em benefício da população.

Este é o segundo evento realizado pelo Clube para debater a instalação de quatro usinas termoelétricas flutuantes na Baía de Sepetiba, que iriam funcionar em navios ancorados no mar. O primeiro encontro discutiu os aspectos ambientais e evidenciou os perigos de um licenciamento sem o devido Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA). No segundo, organizado pela Divisão Técnica de Energia (DEN), em 01/09, os impactos econômicos foram priorizados.

James Bolivar explicou que a contratação da Karpowership em outubro de 2021 ocorreu num contexto de crise hídrica. A ideia era através de um leilão de reserva, garantir o abastecimento caso os reservatórios das usinas hidroelétricas não se recuperassem e houvesse risco de apagão. No entanto, o Ministério de Minas e Energia obteve um resultado não só insignificante em termos de reserva, como aceitou preços extremamente elevados. A empresa turca cobrou cerca de R$ 1.600 por kWh, o que é quase sete vezes a média dos leilões de energia no país, que fica em torno de R$ 240. Ou seja: o país vai pagar R$ 39 bilhões por menos de três anos de operação dessas usinas poluidoras.

Para piorar o quadro desastroso, não houve no leilão a exigência de documentação de habilitação das empresas junto à Empresa de Pesquisa de Pesquisa Energética (EPE), o que aumentaria o risco da operação. O combustível utilizado será o GLP, que será importado, impactando negativamente a balança comercial brasileira. Conforme já foi salientado no evento de 23/06, a instalação das usinas no local pode acarretar sérios impactos para a vida marinha na região e para a saúde dos moradores, mas desta vez também foi ressaltado o risco, mesmo que pequeno de explosão com consequências catastróficas.

James Bolivar destacou que o leilão conseguiu alcançar ao todo pouco mais de 1% da demanda nacional, o que não daria condições de garantir uma reserva de segurança para o país. Como a partir dele as chuvas foram maiores do que o esperado, o nível dos reservatórios subiu e até essa pouca energia cara seria dispensável.

O leilão não foi eficiente no sentido de propiciar uma geração que diminuísse a condição de racionamento que o setor estava passando no ano passado. Foi uma quantidade muito pequena com relação à necessidade que o governo esperava”, afirmou o palestrante.

O especialista discorreu também sobre as possibilidades que estão em jogo. No momento, a entrada em funcionamento dessas usinas está suspensa por decisão da Justiça. A previsão era de que tivessem iniciado a operação em março deste ano. O descumprimento do prazo pela empresa, segundo Bolivar, já colocaria a operadora como inadimplente e a suspensão do contrato seria a melhor solução para se evitar maiores prejuízos.

Podemos descontratar porque as usinas eram para ter entrado em operação em março de 2022. A Aneel já prorrogou o prazo para agosto de 2022. Apenas 6 das 17 usinas entraram em operação. As usinas do Rio de Janeiro ainda não entraram em operação. Elas estão inadimplentes contratualmente. A bem dos consumidores, poderiam rescindir os 11 contratos que não entraram em operação”, afirmou Bolivar, referindo-se às demais unidades de outros estados.

Houve um debate mediado pelo chefe da DEN, Francisco Araújo Costa. Os participantes questionaram o palestrante sobre a possibilidade de o país investir mais em fontes renováveis de energia, que são menos poluentes que a termoelétricas e mais econômicas, o que foi apoiado pelo especialista. Ele também defendeu um melhor planejamento para o setor para que não só a capacidade de geração seja aumentada, mas também para que haja um fortalecimento do sistema de distribuição. Seriam medidas que afastariam o risco de racionamento e tornaria a tarifa mais barata. 

O evento também foi acompanhado pelo chefe da Divisão Técnica de Petróleo e Gás (DPG), Rubin Diehl, que ressaltou a necessidade de um armazenamento mais distribuído de energia a fim de se ter maior segurança contra o desabastecimento. O vice-presidente do Clube, Márcio Patusco, colocou a necessidade de uma maior segurança energética até para o desenvolvimento econômico e tecnológico, tendo-se em vista inclusive a demanda cada vez mais importante de datacenters no mundo contemporâneo.

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