Oroville: acidente com vertedouro da barragem foi causado por cavitação

A barragem mais alta dos Estados Unidos, Barragem de Oroville, no início deste ano passou por um acidente que levou as autoridades a evacuarem a área, deslocando cerca de 200 mil pessoas. Para o engenheiro Geraldo Magela foi uma decisão equivocada, pois a barragem não indicava riscos de romper, segundo afirmou durante a palestra "Acidentes com barragens: O Incidente de Oroville", em 28 de setembro no Clube de Engenharia.

A Barragem de Oroville tem 235 metros de altura, com potência de 675 MW instalados. Sua implantação ocorreu entre 1962 e 1967, e em 1975 ela resistiu a um terremoto de magnitude 5.7. O empreendimento tem dois vertedouros, sendo um de serviço, com oito comportas, vertendo água a 4.255 m³/s, e o outro é o vertedouro de emergência, que não contava com controle da vazão. A capacidade total dos vertedouros é de 17.815 m³/s. 

Casos semelhantes

No dia 07 de fevereiro de 2017, um incidente com o vertedouro de serviço levou a água a 1400 m³/s e, por isso, foi fechado para reparos. Quatro dias depois o vertedouro de emergência, usado pela primeira vez em 50 anos, também apresentou problemas, com erosão a jusante. Para Geraldo Magela, o que causou o incidente no vertedouro de serviço foi cavitação. O problema se inicia quando a superfície por onde o fluxo de água passa é irregular, o que altera a pressão da água. A pressão cai, a água se vaporiza, formam-se bolhas que vão para uma zona de alta pressão, e elas implodem. A liberação de energia das bolhas destrói a superfície de concreto. O palestrante mostrou incidentes semelhantes, por cavitação, em barragens do Irã e da Venezuela.

Pelas condições de Oroville, Magela se mostrou convencido de que a evacuação de 200 mil pessoas foi equivocada. E esclarece as razões: entre o vertedouro e a barragem existia um grande espigão que dificilmente seria derrubado, além de 6,7 metros de borda livre entre a crista do vertedouro e a crista da barragem. E a vazão que ocorreu não chegava a 2.000 m³/s e o vertedouro tinha capacidade de 17 mil. "A barragem não ia ser galgada", afirmou categoricamente. Para ele, não é um problema de projeto: o vertedouro de emergência tinha a previsão da erosão.

Lição que fica

Integrando a mesa de debate, o engenheiro Jorge Rios, conselheiro do Clube de Engenharia e chefe da Divisão Técnica de Recursos Naturais Renováveis (DRNR), avalia   que o problema também pode estar na falta de atualização dos operadores quanto aos procedimentos de uma usina já de 50 anos. Nesse caso, o incidente é erro de operação. Para Magela, fica a grande lição de que o concreto dos vertedouros deve ser liso e regular, para evitar a cavitação, que invariavelmente causa grandes estragos.

Além da Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e da Divisão Técnica de Recursos Naturais Renováveis (DRNR), que promoveram o evento, a palestra de Geraldo Magela  contou com o apoio da Divisão Técnica de Construção (DCO), Divisão Técnica de Engenharia de Segurança (DSG), Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente (DEA), Divisão Técnica de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS), Comitê Brasileiro de Barragens/Núcleo Regional Rio de Janeiro (CBDB-NRRJ), Associação Brasileira de Profissionais Especializados na França (ABPEF) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES).

 

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