Em palestra na 79ª SOEA, ex-presidente do Clube Márcio Girão fala sobre a importância da atividade para o desenvolvimento
Entre a segunda-feira (07) e a última quinta-feira (10), a 79ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (SOEA) abordou temas de suma importância para o desenvolvimento nacional, em Salvador (BA). O evento foi organizado pelo Sistema Confea/Crea e Mútua e teve como tema central “Educação, Tecnologia e Inovação”. Um dos destaques foi a palestra dada pelo ex-presidente do Clube de Engenharia, Márcio Girão. Sob o título de “A Reindustrialização no Brasil: A importância da Inovação na Engenharia”, a exposição contribuiu para esclarecer o público sobre os diferentes eixos do desenvolvimento nacional por meio da engenharia. (Assista ao vídeo da palestra abaixo).
Num momento em que o país busca retomar o rumo do desenvolvimento, impulsionado pelo crescimento industrial, segundo Girão, a inovação, conduzida pela ciência e implementada pela engenharia, deve ser o paradigma deste processo. Tem grande capacidade de geração de riqueza e transformação da realidade social do país. No entanto, para que chegue a mudar a realidade das pessoas e tenha efetividade econômica, os engenheiros, no sentido coletivo da palavra – mulheres, homens, geólogos, arquitetos, geógrafos, físicos etc. – precisam entrar em campo.
“No Clube de Engenharia fizemos uma redefinição do engenheiro: quem é responsável pela aplicação do conhecimento científico e criativo para solução de problemas tecnológicos, objetivando sua transformação, a da realidade, da técnica, da economia e do meio ambiente, em benefício da sociedade. É uma definição mais ampla que engloba outras áreas”, explicou Girão.

Quando se pensa em inovação, é comum vir à mente a imagem dos cientistas no laboratório realizando pesquisas que levarão a descobertas a serem patenteadas. No entanto, conforme Girão esclareceu, essa é apenas uma etapa do processo, que consiste verdadeiramente num tripé: a ciência conduz à inovação, mas é a engenharia que a transforma em produto para a sociedade.
Portanto, o Brasil, que já ocupa um lugar de destaque em termos de produção e prestígio científico internacional, precisa elevar sua colocação em termos de inovação efetiva. O país encontra-se na 50ª posição no Índice Global de Inovação (IGI) de 2024, divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).
Nos últimos vinte anos, o Brasil entrou em franca decadência no que se chama Complexidade Econômica, índice que mede a capacidade em desenvolver produtos sofisticados. E 1995 estava em pé de igualdade com China, Coreia do Sul e Israel e, agora, descolou completamente para baixo (ver gráfico).

O princípio dessa decadência, segundo Girão, foi a quebra da Engenharia Consultiva na década de 80, justamente onde os engenheiros desenvolvem projetos de alta complexidade científica e tecnológica.
Entretanto, de acordo com ele, o país tem condições de acelerar seu avanço tecnológico, já que detém um Sistema Nacional de C&T adequado, mas precisaria investir na qualidade da educação, em particular do ensino médio, no estímulo à formação de engenheiros mais bem preparados e em muito maior quantidade e, no processo de integração entre a ciência, a engenharia e o governo – hélice tríplice, utilizando metodologias já comprovadas nos países mais desenvolvidos, como as Rotas Tecnológicas.
Um passo importante foi dado pelo atual governo, que criou o programa Nova Indústria Brasil (NIB). Ele é composto por seis Missões que abrangem diversas áreas da economia.
Ao longo da palestra, Girão elencou quais as principais “engenharias” que se aplicam a cada uma dessas Missões, a exemplo da área de Defesa aqui reproduzida.
A exemplo da Missão 6 (Tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacionais), diferentes áreas da Engenharia entram em jogo no processo de neoindustrialização:
- Engenharia Aeroespacial: Tecnologias relacionadas à aeronáutica e ao espaço, incluindo satélites para comunicação e sistemas de defesa antiaérea.
- Engenharia Naval: abrange projeto e construção, manutenção e operação de embarcações militares e plataformas marítimas, além de tecnologias de detecção e comunicação submarina.
- Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações: sistemas de comunicação seguros e criptografados, essenciais para a defesa e segurança nacional.
- Engenharia de Sistemas e Computação: Sistemas de informação para controle e comando, inteligência artificial aplicada à defesa, sistemas autônomos e cibersegurança.
- Engenharia Mecânica e Mecatrônica: veículos militares, navios de guerra, submarinos e equipamentos bélicos.
- Engenharia de Materiais: materiais avançados utilizados em equipamentos militares.
- Engenharia Química e Engenharia Nuclear: tecnologias para a energia nuclear, tanto para propósitos civis quanto militares, incluindo a propulsão naval nuclear.
- Engenharia Civil e de Infraestrutura: Construção de infraestruturas de defesa, como bases militares, fortificações, e instalações subterrâneas ou protegidas, e infraestruturas de transporte e logística
Exemplificando na área de defesa, como frisou o ex-presidente do Clube, é um setor estratégico não só pela necessidade de aprimoramento tecnológico, como pelo risco que a dependência pode trazer à segurança do país, caso fique tecnologicamente estagnado.
“No mundo todo existe um conceito no setor de Defesa que é o self-reliance, ou autossuficiência. É um setor em que não se pode depender da tecnologia de outro país”, ressaltou Girão.
De acordo com Girão, outro papel em que se deve avançar em termos de amadurecimento e cumprimento de seu importante objetivo, são dos ICTs (Institutos de Ciência e Tecnologia). Eles são a ponte entre a ciência e as empresas no processo de inovação. Por isso, precisam estar preparados para prestar serviços e induzir projetos de inovação para a indústria.
Finalmente, em sua palestra, Girão discorreu sobre a imprescindibilidade de implementar uma metodologia de processo para o que se denomina ROADMAP, assim como os utilizados nos países desenvolvidos, onde se delimitam as Rotas Tecnológicas que suportam os projetos nacionais de inovação (ver gráfico).

É ali, onde se especificam os diversos eixos, no tempo e no espaço, de todos os insumos necessários ao cumprimento desses projetos de nação. “Do contrário, arrisca-se, mais uma vez, a se tornarem obras de ficção”, completou Girão.
Ela suporta os processos decisórios de investimentos públicos; orienta as pesquisas acadêmicas; as decisões de investimentos de risco nas empresas. Todos voltados ao cumprimento das Missões do Estado, destacou Girão.
Em resumo, os Roadmaps otimizam e aceleram os processos de inovação.

O evento também contou com a participação do conselheiro do Clube e gerente executivo de Exploração e Produção da Petrobras, Wagner Victer, que fez um balanço das ações que estão sendo implementadas na companhia em prol da inovação. Ele defendeu a garantia de conteúdo local nas compras da estatal. “A questão do conteúdo local não é uma jabuticaba, não é nada que foi criado por tupiniquins. Ela surge no Mar do Norte, justamente quando é descoberto o petróleo pelos noruegueses, com receio da entrada dos americanos nessa indústria”, ressaltou Victer.

A importância do SOEA para a valorização da Engenharia e da Agronomia e para o debate de ideias foi defendida por integrantes da Diretoria do Clube que participaram do evento. “É importante entender que a SOEA não é apenas um evento festivo como muitos pensam. Acima de tudo, ele é um espaço de discussão de alto nível sobre o futuro do sistema e dos nossos profissionais”, afirmou o diretor de Atividades Técnicas, Alberto Balassiano.
“A SOEA desse ano mostrou a força da nossa engenharia nacional: um evento grandioso, com milhares de pessoas participando de debates de alta relevância para o desenvolvimento nacional”, avaliou a diretora de Atividades Institucionais, Catarina Luiza de Araujo.
Assista aqui à palestra: