Soberania sobre o setor energético é fundamental para o desenvolvimento do país

Aspectos estratégicos da matriz energética brasileira foram abordados pelo engenheiro Márcio Girão e o geólogo Guilherme Estrella, entrevistados pelo jornalista Gustavo Conde

As recentes privatizações realizadas no setor energético brasileiro fragilizam ainda mais a soberania do país sobre sua matriz. Essa é a conclusão de dois eventos remotos apresentados pelo jornalista Gustavo Conde. Ele ouviu o presidente do Clube de Engenharia, Márcio Girão, a respeito da venda da Eletrobras e entrevistou também o ex-diretor de Exploração da Petrobras Guilherme Estrella, que abordou o desmantelamento do Sistema que havia na companhia petrolífera. 

Em seu podcast, disponível no link (https://portalclubedeengenharia.org.br/2022/06/03/eletrobras-na-mira-com-marcio-girao-podcast-do-conde/), Conde abordou a questão da recente privatização da Eletrobras em sua conversa com o engenheiro Márcio Girão. Para o presidente do Clube, a decisão do atual governo acarreta uma perda de soberania do Brasil sobre sua geração de energia elétrica e dificulta a execução de políticas econômicas, principalmente voltadas para o setor industrial. Ele também alertou para o provável aumento tarifário que ocorrerá com o fim do controle do Estado sobre as concessões. A entrevista no portal do Clube ().

Girão também abordou questões relacionadas a outras fontes de geração de energia e defendeu a consolidação de uma matriz mais diversificada, com ênfase na produção limpa e renovável. Segundo ele, o país ainda tem um potencial enorme a ser explorado através da energia eólica, solar e nuclear, como também há espaço para o crescimento da base hídrica. Esta pode ter seu impacto reduzido com menor necessidade de áreas alagadas, a partir do avanço tecnológico alcançado.

A questão das inovações científicas e tecnológicas também ganharam lugar no bate-papo. Girão defendeu o fortalecimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações como forma de alavancar o desenvolvimento econômico do país. Para ele, a pasta poderia ser ocupada por engenheiros para se estabelecer um elo entre a área acadêmica e a prática dos projetos por parte das empresas públicas e privadas.

“O engenheiro é quem faz a ligação entre a ciência e a inovação. O pessoal da academia tem pouca visão sobre esse processo, pois tem uma visão mais para dentro do meio acadêmico. Físicos, químicos e matemáticos, pesquisa pura e aplicada, são fundamentais, mas quem melhor compreende o processo inovador é a empresa onde ele é fundamental para a sua competitividade e geração de riqueza”, afirmou Girão.

Um exemplo da necessidade de integração entre a pesquisa e a engenharia propriamente dita foi a descoberta do Pré-Sal pela Petrobras. O assunto foi abordado em outra live realizada por Conde, através do Canal do Grupo Prerrogativas, também disponível no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=xgK3Ct4lGms&t=6s). O geólogo, que ingressou na petrolífera em 1965, contou como foi a sábia decisão do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello) de integrar o pessoal de pesquisa com o de engenharia e operacional. Foi fundamental para que as perfurações inéditas em águas ultra profundas desse certo. 

 Através de projetos de engenharia que reduziram os riscos, foi possível chegar a uma profundidade que mergulhadores não podiam mais alcançar, tudo muito bem alinhado com as pesquisas geológicas realizadas. O sucesso dessa missão é hoje responsável pelo fato de o Brasil não só ser autossuficiente na produção de petróleo como exportador, pois o Pré-Sal já responde por 80% da extração. Apesar desse avanço, o país continua dependente de importações de derivados e vítima de uma política tarifária que tem causado inflação e agravado os problemas sociais.

Em sua defesa da soberania do país sobre esse setor, Estrella defendeu a retomada do Sistema Petrobras, com a interligação entre exploração, refino e distribuição de gás e combustíveis. Só essa estratégia daria condição ao país de realizar uma operação eficiente e lucrativa, mas em benefício da população. Com a privatização de parte das refinarias, gasodutos e postos, esse sistema ficou desmantelado, mas a política de preços contrária aos interesses da população já vinha sendo adotada antes mesmo disso, com a criação do Preço de Paridade de Importação (PPI), que apenas visa a maximizar os lucros.

“A descoberta do Pré-Sal foi a recuperação por parte de seu acionista-controlador determinado a que a Petrobras viesse a recuperar seu compromisso com o Brasil e não com seus acionistas privados, como se fosse um fundo de investimento”, ressaltou Estrella, que alertou para uma necessidade maior de controle do Estado sobre o setor energético após a nova ordem geopolítica imposta a partir da guerra da Ucrânia.

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