À medida em que a quinta geração móvel avança no Brasil e no mundo, companhias de telecomunicações se apressam para resolver o desafio de como monetizar redes 5G. Neste sentido, já existem algumas possibilidades no radar das teles, como a banda larga fixa sem fio (FWA). Mas é o mercado de interfaces de aplicações (APIs) e a oferta de qualidade sob demanda (QoD) que são vistos como as maiores oportunidades de inovação no setor em uma década ou mais, segundo avaliação da Ericsson.

"Em vez de vender apenas assinatura para consumidores e empresas, as companhias de telecomunicações podem vender APIs para desenvolvedores de aplicativos", explicou o diretor de estratégia de negócios de redes da Ericsson, Hans Hammar, durante a quinta edição do 5G Talks, evento promovido pela fornecedora nesta quarta-feira, 13.

Apesar dos conceitos de mercado de APIs e QoD serem relativamente recentes, não é preciso ir longe para observar exemplos práticos de iniciativas nesses novos modelos de negócio no setor de telecomunicações. Em novembro do ano passado, as operadoras brasileiras ClaroTIM e Vivo se uniram à iniciativa global Open Gateway (GSMA) para o lançamento de três serviços de rede antifraude, movimento que posicionou o País como pioneiro no manejo de redes abertas, segundo a Ericsson.

Caso Vivo

Ainda durante a quinta edição do 5G Talks, o COO da Telefônica Tech e líder da iniciativa Open Gateway no Brasil, Diego Aguiar, explicou como a Vivo se tornou um ecossistema digital em B2B e conseguiu alavancar as receitas do grupo provenientes de soluções digitais – como validações de segurança, serviços antifraude e QoD.

"Esses são exemplos de soluções digitais baseadas nesses recursos e expostas a APIs padronizadas. […] Acreditamos que esse tipo de abordagem amplia a gama de serviços e aplicativos que podem ser desenvolvidos para empresas de qualquer porte do mercado, fornecendo novas linhas de serviço nunca antes exploradas pelas teles. Nós da Vivo somos pioneiros nessa abordagem, padronizando essas APIs para o mercado brasileiro", explicou o COO da Vivo.

Aguiar mencionou ainda um exemplo de uso do novo modelo de negócio, no âmbito da segurança. O caso foi visto como o primeiro projeto de uma instituição financeira do mundo todo de uso do Open Gateway e foi motivado pelo alto número de transações bancárias realizadas no País via mobile e Internet banking – que somou 125 bilhões em 2023, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

A solução por trás do projeto mencionado por Aguiar é a API de verificação silenciosa para validação e autenticação de usuários de um banco cliente da Vivo que, com o serviço, pode realizar a verificação de correntistas apenas com o número do celular, dispensando envio de códigos auxiliares. "Os principais beneficiários desses ecossistemas são as empresas de mercado de qualquer tamanho ou vertical, que poderão consumir esses serviços de forma simplificada por meio de APIs", explicou o COO da Vivo.

De acordo com Aguiar, essa abordagem difere de outros exemplos comuns de como as teles podem monetizar redes 5G. "Novos serviços como esses trarão benefícios para a sociedade por meio de grandes empresas ou startups, principalmente por meio de uma comunidade de desenvolvedores. Isso é o que a Vivo acredita", explicou ele.

Caso Deutsche Telekom

A operadora alemã Deutsche Telekom é outra companhia que aposta no mercado de APIs, oferecendo a clientes recursos adicionais possibilitados por essas interfaces. Ao mesmo tempo, a empresa acredita que o movimento de interoperabilidade deva ser algo conjunto.

"Pode parecer estranho, mas gostaríamos de garantir que toda a indústria de telecomunicações vá por esse caminho. Portanto, não seria útil que houvesse apenas uma única API super incrível da Deutsche Telekom e que pudesse ser acessada apenas em nossa rede por nossos clientes. Qual software quer se limitar a falar apenas com esse número de pessoas? É por isso que precisamos garantir que toda a indústria de telecomunicações nos acompanhe", disse vice-presidente sênior da Deutsche Telekom, Peter Arbitter.

Além das APIs de verificação de localização e número, status de roaming e troca de SIM, a Deutsche também aposta na qualidade sob demanda, à qual Arbitter projeta que deva estar presente também na rede doméstica. Essa tecnologia mencionada pelo vice-presidente refere-se à capacidade de ajustar a qualidade do serviço conforme as demandas específicas dos clientes (slicing). Isso permite que os provedores ofereçam diferentes níveis de qualidade de acordo com a largura de banda disponível, prioridade do serviço ou requisitos de desempenho.

A tele alemã tem casos que considera como sendo de sucesso com interfaces de qualidade sob demanda. Em fevereiro, a operadora divulgou que a cliente Broadpeak (companhia francesa do segmento de TV e streaming), usando a plataforma de conectividade programável Microsoft Azure, conseguiu melhorar a qualidade do vídeo e fornecer um serviço de streaming mais estável aos clientes finais, usando a API QoD da Deutsche – mesmo em condições de rede menos favoráveis.

Perspectivas

E o mercado, inclusive, parece estar disposto a pagar mais por experiências de rede aprimoradas. "Segundo nosso Relatório de Laboratório do Consumidor [encomendado pela Ericsson], vimos que os consumidores estão preparados para pagar cerca de 11% a mais por uma experiência de usuário mais previsível", explicou Hans Hammar, que afirmou ainda que isso abrirá espaço para novos modelos de negócio para empresas de telecomunicações.

"As redes 5G contém muito mais do que SMS, voz e vídeo. Elas têm segurança, qualidade de serviço, capacidades de localização… então realmente há possibilidades infinitas para novos casos de uso nessas áreas", disse o diretor da plataforma global de rede de produtos e engenharia da Ericsson, Joakim Solerus.

Ele admitiu que ainda não sabe ao certo quais casos de uso serão os dominantes daqui para frente. "Mas fornecer aos desenvolvedores todas essas capacidades, todas essas escolhas e todas essas possibilidades certamente estimulará muita inovação", explicou.

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